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Arquitetura

Com telhado até o chão, cantor levou 10 anos para comprar o chalé dos sonhos

Paula Maciulevicius | 07/02/2017 08:07
Estilo chalé, casa chama atenção em esquina sem muro e nem portão. (Foto: Helio de Freitas)
Estilo chalé, casa chama atenção em esquina sem muro e nem portão. (Foto: Helio de Freitas)

Na esquina das ruas Lúcio Nunes Stein e Pedro Celestino, a casa sem muros de telhado que encosta no chão, não tem portão, campainha e nem quem não saiba quem mora ali. "É do Tim, cantor do Kikão", responde um dos vizinhos. Num passeio pela cidade de Dourados, a 233 quilômetros da Capital que o Lado B descobre que além de nós, muita gente parece gostar da casa, especialmente o dono dela.

De chapéu, como quem está pronto para um baile, Tim atende às batidas na porta. Músico na cidade desde 1975, Valentim Sgaravatti tem hoje 63 anos e acumula história de vida e canções na Dourados onde já se tornou folclore.

Nascido em Jales, interior de São Paulo, com 19 anos chegou na cidade, mas não para cantar. E sim ser contra-baixista em uma banda. Cantor desde a "roça", como costuma dizer, no primeiro baile com este grupo, um desentendimento entre o vocalista e o guitarrista lhe deu a oportunidade que precisava.

Tim é músico em Dourados desde 1975. (Foto: Helio de Freitas)
Tim é músico em Dourados desde 1975. (Foto: Helio de Freitas)

"Sempre fui assim, fora da casinha. Eu estava tocando, mas sabia o que acontecia em todos os instrumentos", explica. Na ausência do vocal, foi ele quem assumiu o microfone e ao final do show, anunciou que não era preciso ir atrás de cantor, ele mesmo faria o papel.

Desde então, o repertório é o mesmo. "Tudo coisa do passado", como faz questão de frisar. Sem nada que chegue perto do Universitário, o que Tim gosta é de cantar Roupa Nova, Rita Lee, Elba e Zé Ramalho e Fagner. E entre cantorias e shows, Tim também entrou para campanhas políticas e até hoje é o responsável pela sonorização da Câmara Municipal.

A casa - No estilo "chalé", a casa que segundo o atual dono foi construída em 1977, demorou uma década para ser dele. Vontade ele tinha de sobra, mas era o bolso que lhe faltava. "Eu não tenho certeza se ela foi feita pelo Paulinho ou pelo Pesarino", põe em cheque a origem. O que Tim sabe é que desde 1982 ele queria morar ali.

Casa passará por reforma em breve e ainda assim encanta morador. (Foto: Helio de Freitas)
Casa passará por reforma em breve e ainda assim encanta morador. (Foto: Helio de Freitas)
Valentim não vende a casa, nem por dinheiro de qualquer mansão. (Foto: Helio de Freitas)
Valentim não vende a casa, nem por dinheiro de qualquer mansão. (Foto: Helio de Freitas)
Detalhe da escada. (Foto: Helio de Freitas)
Detalhe da escada. (Foto: Helio de Freitas)
Fundos da casa dá para piscina.
Fundos da casa dá para piscina.

"Aí foi o seguinte, eu passava e gostava muito dela. Não tinha nada nesse bairro, a cidade se resumia só bem mais para baixo e eu me encantei com ela", lembra. A primeira vez que ele chegou para comprar, não conseguiu. "Fiquei apaixonado na casa, simplezinha, do jeito que eu queria", recorda.

Foi uma década de poupança e sorte. "Eu vinha vindo nessa rua e de lá, quando virei, vi a placa de vende-se. Pensei: vai ser agora. Peguei um alicate e arranquei a placa. Se eu não comprar, ninguém compra. Pus na caminhonete e fui para a imobiliária", gargalha.

Em negociação direta com o dono, a proposta era de 70 milhões de cruzeiros, o dinheiro usado à época. "Vendi dois carros, uma chácara e usei o dinheiro de campanha", conta. Faltaram ainda 20 milhões de cruzeiros, que ele pagou com o tempo e que teve adicionado os juros de 6 milhões.

"Por que eu gosto dela? Não sei, acho que em outra geração, outra vida, eu fui europeu. Gosto tanto de coisa da Europa... Não sei como morar em outra casa", afirma.

Como era a casa logo que foi comprada. (Foto: Arquivo Pessoal)
Como era a casa logo que foi comprada. (Foto: Arquivo Pessoal)

Antes rodeada de árvores, hoje o chalé é "pelado", por ordem do dono. Todo verde impedia até o sol de chegar e deixava a casa com uma temperatura de se dormir com cobertor. Com 220m², são dois pavimentos, com sacadinha tanto na fachada, quanto nos fundos.

De madeira, o piso é de cabreúva e o exterior, de ipê. Dividida entre uma sala e um quarto amplo em cima, na parte inferior ficam outras duas salas e dois quartos, além de dois banheiros e a cozinha.

Tim se diz acostumado com o apreço que as pessoas têm pelo seu chalé. Volta e meia apareciam casais de noivos para fazerem o lugar de cenário nas fotos. Originalmente, a casa era de verniz, com telhado vermelho e ainda este ano, uma nova reforma trará um aspecto ainda mais belo à casa.

"Se eu vendo? Não. Por dinheiro nenhum, porque não sei morar em outro canto. Eu já perdi muita grana na vida, não fazia questão de dinheiro. Também já dei muita coisa para os outros. Acho que é por isso que Deus nunca me deixou sem nada. Mas aqui, pode vir com dinheiro de qualquer mansão, que eu vou dizer: 'quero não'".

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