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Arquitetura

Construída para os ''sem carro", vila e bairro têm título de cantinho cuiabano

Vila Sobrinho e Lar do Trabalhador preservam jeito de cidade calma, sem muito trânsito.

Thailla Torres | 07/07/2017 06:05
Rua é estreita na Vila Sobrinho e não há espaço para o caminhão de coleta de lixo.
Rua é estreita na Vila Sobrinho e não há espaço para o caminhão de coleta de lixo.

Para quem já andou pelas ruelas do centro histórico de Cuiabá, a comparação é inevitável: "Aqui a gente chama de cantinho cuiabano", comenta o gerente de operações Valdemir Paulino da Silva, de 62 anos, que há mais de 30 vive na Rua Iolanda, na Vila Sobrinho. 

O tal lugar é um conjunto habitacional que surgiu na década de 70, chamado Vila Petengil. Erguido por uma construtora de Mato Grosso, no local as ruas são parecidas com o aperto do centro cuiabano. Naquela parte do bairro até cabem dois carros na rua, mas não passa ônibus e nem caminhão da coleta de lixo.

Modelos das casas na Vila Sobrinho.
Modelos das casas na Vila Sobrinho.
Moradora há 40 anos não abre mão da tranquilidade do lugar.
Moradora há 40 anos não abre mão da tranquilidade do lugar.

"Sou filho de pais cuiabanos e toda vez que olho essa rua, lembro muito das ruelas de Cuiabá. Isso foi a herança que deixaram pra gente", brinca.

Na garagem de Valdemir, ele até consegue estacionar, mas com dificuldad. A prova está nas marcas que a lataria do carro deixou nas paredes. "Tem muita casa que o carro nem entra. A maioria adormece com o veículo na rua. Mas todo mundo já acostumou".

As casas também são pequenas, com terreno 7x15 e cômodos minúsculos. "Era o modelo que surgiu na época. Minha família comprou essa casa há uns 30 anos desde que moramos no bairro. E toda vez que eu saio na rua, parece que é um bairro dentro de outra cidade", afirma Valdemir.

A mesma sensação tem dona Dionela Stefano, de 58 anos, que mora há 40 anos na mesma casa. A residência com janelas voltadas para a rua chama atenção pelo colorido. "Brincam que aqui é casa de boneca", resume.

Ela também descreve a semelhança pelo o que já ouviu de moradores. Mas para ela, a rua estreita garante mesmo é sensação de calma. "Não parece que a gente está em outro lugar? Aqui não passa carro pesado, então a gente não ouve aquela barulheira de Centro, isso que é maravilhoso", observa.

Uma das ruas do Lar do Trabalhador. (Foto: Alcides Neto)
Uma das ruas do Lar do Trabalhador. (Foto: Alcides Neto)
Vera também vive há 40 anos no Lar do Trabalhador.
Vera também vive há 40 anos no Lar do Trabalhador.

Já para o morador Marcos Cesar Nogueira, de 50 anos, a rua miúda é um prato cheio para saber dos vizinhos. "Eu não cuido da vida de ninguém. Mas se acontece uma coisa na esquina, todo mundo fica sabendo", afirma.

Perto dali, outro bairro chama atenção pelas vielas estreitas. É o Lar do Trabalhador, conhecido também na cidade por ser o primeiro conjunto habitacional de Campo Grande, construído em 1962.

Vera Rodrigues, de 56 anos, e Ed Aparecido, de 48, vivem ali há 40 anos. Parte das casas parecem ter parado no tempo e para eles é uma característica única. "Nosso bairro é diferente. Aqui é uma paz só e olha que estamos bem pertinho das ruas movimentadas", diz Vera

No caso dessa região, o apelido cuiabano veio por conta da construtora. "Aqui foi feito pela Japurá, uma empresa de Cuiabá e as casas eram bem pequenas quando minha avó mudou pra cá", diz.

Até poucos dias, os postes da rua ainda eram de madeira. "Agora que mudaram tudo, mas sempre foi madeira, mas alguns estavam caindo e agora vai ser tudo concreto".

Mas na palavra de quem entende, a referência a Cuiabá só tem relação pelas semelhanças sobre o espaço ocupado.

Na verdade o modelo de construção tem outro sentido, explica o arquiteto e urbanista Angelo Arruda. "Essas casas dessas vilas foram construídas para atender pessoas sem automóvel, este projeto era para que vagas eventuais ficassem próximo a uma área pública. Provavelmente como todo mundo teve carro, a referência com Cuiabá histórico pode ter aparecido. Mas  verdade é que essas construções faziam parte da estratégia de financiamento da época", destaca o arquiteto.

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