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Arquitetura

Histórias de quem preserva e conserta cadeira de vó

Ângela Kempfer | 30/11/2012 08:00
Cadeiras para conserto na oficina da Rua Amazonas.
Cadeiras para conserto na oficina da Rua Amazonas.

A velha cadeira de balanço foi comprada há décadas, na antiga Casa Cruzeiro. “Ficava na rua Dom Aquino”, lembra o aposentado José Chaves, o dono do móvel.

Bancário aposentado, quando ainda trabalhava no Banco do Brasil era vizinho da Cruzeiro, loja movimentada lá pelos anos 70, com venda de mobiliário em uma cidade em pleno crescimento.

Da lembrança, a única comprovação é a cadeira na sala de entrada. “Eu sento para descansar e só vou passar para frente quando eu morrer”, avisa.

A mãe já tinha uma e ao lado da esposa ele resolveu ali, ao passar pela loja, também comprar a clássica cadeira de balanço. "Nem pensei no preço, entrei e comprei". Lá se vão mais de 40 anos, estima o senhor, hoje com 74.

Vire e mexe o tempo faz a palha desfiar e quando começa a enganchar em botões dos bolsos, estragar os vestidos, é hora de mandar para o conserto, conta José. "Uma função a cada cinco anos", conclui.

O endereço é certo, a oficina de Valdevino de Oliveira, há 25 anos no mesmo ponto, para restaurar o que ninguém quer perder.

Quem passa pela rua Amazonas, com certeza já viu as cadeiras em exposição, em frente a casa antiga com a placa que anuncia a restauração de móveis.

A cadeira da família Chaves não é a única da marca Thonart, empresa criada há mais de 100 anos, com fábrica no Rio Grande do Sul. Tudo que ainda hoje é produzido por lá tem madeira maciça e um processo artesanal de vergar essa matéria prima.

Na oficina de Valdevino, hoje estão três. “Uma tem mais de 120 anos. É uma relíquia”, diz o artesão. Ele não trabalha com peças de reposição, porque a entrega “demora muito”, justifica. Faz tudo por conta própria. “Até a palhinha a gente trança uma a uma, trama por trama. É como um grande carretel de lã que vai ganhando forma”, descreve.

A história impregnada na madeira envergada é algo que demanda muito cuidado, comenta. “Trato com carinho, é uma peça de família, a gente nunca vai conseguir colocar outra no lugar”.

Por isso, a renovação demora 30 dias em média e custa R$ 350,00. É preciso lixar, passar o verniz e arrumar a palha que é a marca do modelo.

“Dor no coração”, diz Valdevino, dá quando ele encontra alguma por aí, abandonada, o que já ocorreu não apenas uma vez.

“Já achei duas, uma amarrada lá no Jardim Columbia e outra jogada aqui pertinho, no lixo, durante a construção do Walmart (supermercado). Besta de quem abandonou. Eu arrumei e vendi por R$ 900,00”, lembra.

Valdevino diz que palha da cadeira tem de ser trançada fio a fio.
Valdevino diz que palha da cadeira tem de ser trançada fio a fio.
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