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Arquitetura

Nascida como “Beco”, principal rua do comércio de Campo Grande teve 4 nomes

Rua 14 de Julho que agora ganha cara nova, antes acabava em um trilheiro, em meio a pastagem de cavalos

Kimberly Teodoro | 22/07/2019 08:06
Rua 14 de Julho em 1949 (Foto: Reprodução Arca)
Rua 14 de Julho em 1949 (Foto: Reprodução Arca)

A “ruazinha” que acabava em um trilheiro formado pela pastagem de cavalos já foi conhecida como Beco, ganhou nome em homenagem ao político Aníbal de Toledo e até ao candidato à presidência do país, João Pessoa. Apesar dos quatro nomes, só Rua 14 de Julho vingou.

Palco social e econômico da cidade, a origem do nome tem até versão folclórica que, de acordo com o falecido historiador Paulo Coelho Machado, virou polêmica depois de um artigo publicado por Lígia de Oliveira Lima. A confusão, como ele conta no livro “Pelas Ruas de Campo Grande: A Rua Principal”, começou com o depoimento de Godofredo Barbosa, campo-grandense nascido no século passado.

A versão de Godofredo vem da infância, quando no dia 14 de julho de 1914 foi à estação da Noroeste do Brasil na companhia do pai, aguardar a chegada do primeiro trem a andar pelos trilhos recém inaugurados. Na lembrança, ele afirmou ter presenciado o engenheiro Emílio Schnoor pedir ao intendente José Santiago que a principal rua da cidade fosse batizada em homenagem aquela data.

Na fotografia na parte inferior da página, um registro da Rua 14 de Julho em 1910, quando ainda era conhecida por Beco (Foto: Arquivo Arca)
Na fotografia na parte inferior da página, um registro da Rua 14 de Julho em 1910, quando ainda era conhecida por Beco (Foto: Arquivo Arca)
Casa Haddad, localizada na Rua 14 de Julho em 1920 (Foto: Arquivo Arca)
Casa Haddad, localizada na Rua 14 de Julho em 1920 (Foto: Arquivo Arca)

Investigando a história da ferrovia, Paulo Coelho Machado conta no livro que provavelmente Godofredo, ainda menino, não “guardou bem a data”, já que a construção tinha um trecho vindo de Miranda e outro de Rio Pardo, que se encontravam aqui na Capital.

“O trem de Miranda chegou a esta cidade, pela primeira vez, no dia 28 de maio de 1914 e outro segmento de trilhos, que partia de Rio Pardo, encontrou-se com o primeiro no dia 31 de agosto do mesmo ano, no córrego Taveira, que por isso, passou a chamar-se Ligação, dando nome também à estação ali construída. A inauguração oficial ocorreu em Campo Grande, no dia 14 de outubro”, escreve o autor de A Rua Principal.

Origem verdadeira do nome é sem dúvida uma data, mas que nada tem a ver a narrativa de Godofredo. O então vereador Miguel Garcia Martins, propôs que a rua em que o comércio começava a aflorar e era conhecida apenas por “Beco”, fosse rebatizada em homenagem à queda da Bastilha, em 14 de Julho 1789, durante a Revolução Francesa e ao lema mundialmente difundido e guia da democracia: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.

Fotografia da década de 1920 (Foto: Arquivo Arca)
Fotografia da década de 1920 (Foto: Arquivo Arca)
Foto tirada na década de 1930 (Foto: Arquivo Arca)
Foto tirada na década de 1930 (Foto: Arquivo Arca)

Ainda de acordo com o historiador, em 1930 o então prefeito Antônio Antero de Barros mudou o nome da rua para “Aníbal de Toledo”, na tentativa de agradar o recém-eleito presidente do Estado, título usado na época para designar os governantes estaduais. Depois da revolução de 3 de outubro do mesmo ano, quando Getúlia Vargas assumiu o poder e substituiu o governante eleito pelo coronel Antônio Mena Gonçalves, a “artéria do comércio” passou a se chamar “Rua João Pessoa”.

O nome até que tinha boas intenções, afinal foi escolhido em memória do candidato a vice-presidente da república na chapa do próprio Getúlio, assassinado na mesma revolução que depôs Washington Luís. Ilustres ou não, nenhuma das duas figuras andava na boca do povo, que só conhecia o local como “Rua 14 de Julho”.

Levou 15 anos para que a “Rua João Pessoa” no papel, voltasse ao nome de origem em votação popular promovida pelo prefeito Carlos Hugueney Filho.

Aviões eram incomuns na região, no registro tirado em 1931, quem passava pela rua parou para olhar (Foto: Arquivo Arca)
Aviões eram incomuns na região, no registro tirado em 1931, quem passava pela rua parou para olhar (Foto: Arquivo Arca)
Edifício Nakao, ponto de referência como o prédio mais alto da cidade em 1948 (Foto: Arquivo Arca)
Edifício Nakao, ponto de referência como o prédio mais alto da cidade em 1948 (Foto: Arquivo Arca)

“Com o advento da Estrada de Ferro Noroeste e a localização de sua gare - estação -ao norte da cidade, a rua passou a ser mais comprida de todas as existentes e era caminho para a estação, por onde trafegavam os carros de praça, puxados a cavalo e perambulavam os pedestres, que se divertiam com o movimento da chegada dos trens, numa vila de poucas distrações. Fácil de entender que os comerciantes passaram a preferir esse logradouro para a instalação de suas lojas”, narra Paulo Coelho Machado.

Relógio da Rua 14 de Julho com Avenida Afonso Pena era local de encontro para festividades na cidade (Foto: Arquivo Arca)
Relógio da Rua 14 de Julho com Avenida Afonso Pena era local de encontro para festividades na cidade (Foto: Arquivo Arca)
Joalheria Korndofer ao lado da Galeria São José (Foto: Arquivo Arca)
Joalheria Korndofer ao lado da Galeria São José (Foto: Arquivo Arca)
Padaria Espanhola, propriedade da família Cubel (Foto: Arquivo Arca)
Padaria Espanhola, propriedade da família Cubel (Foto: Arquivo Arca)

Dona de uma loja de lãs e aviamentos entre as ruas Antônio Maria Coelho e Maracaju, Cleonice Resende, hoje com 71 anos, abriu as portas em 1972 e acompanhou o crescimento econômico da região enquanto as selarias, sapatarias e malas para os viajantes se transformam lentamente com vai e vem dos comerciantes. Ela não se lembra de qualquer outro nome, apenas das histórias contadas pelo pai, que remetem ao princípio da Rua 14 de Julho, quando ainda trabalhava em fazendas ao redor de Campo Grande.

“Aqui era uma baixada, onde ficava o córrego que é atualmente a Rua Maracaju, onde as vacas e cavalos paravam para tomar água e foi onde a movimentação deu origem às primeiras casas que depois viraram comércio”, explica.

Na loja ao lado, também de aviamentos, encontramos Moacyr Pereira Lima, de 82 anos. O comerciante chegou por aqui na década de 1950 com os pais. Ainda menino, ele não presenciou os muitos nomes da rua, mas se lembra da história. “Chamava João Pessoa? Isso me informaram há 45 anos atrás, alguém me disse: A Rua 14 de Julho já se chamou Rua João Pessoa. Estava lá no fundo do baú, agora que você me perguntou, me veio à mente”.

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Cleonice está na Rua 14 de Julho desde 1972, mas sempre conheceu a rua por esse nome.
Cleonice está na Rua 14 de Julho desde 1972, mas sempre conheceu a rua por esse nome.
Moacyr chegou à Capital em 1950, mas se lembra de parte da história.
Moacyr chegou à Capital em 1950, mas se lembra de parte da história.
Em processo de revitalização, Rua 14 de Julho está assim. (Foto: Paulo Francis)
Em processo de revitalização, Rua 14 de Julho está assim. (Foto: Paulo Francis)
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