Parede de casa histórica de ex-ferroviário resiste colada com Durex
Imóvel é a primeiro de alvenaria no complexo ferroviário da Capital e dono teme que ela caia na cabeça dele
A fachada restaurada esconde o medo de que tudo desabe. A parede da casa histórica na Vila dos Ferroviários sobrevive na base de fita adesiva, aquela mesmo que a gente costuma ter em casa. Isso porque a estrutura do imóvel onde vive o ex-ferroviário, Jovenizio Ramão Nazaret, está rachado em vários lugares e ele, assim como a família, teme que a casa desabe sobre a cabeça deles.
O lugar é simplesmente a primeira residência de alvenaria feita para os servidores da linha férrea que um dia passou por aqui e uma das mais antigas da rede Ferroviária de Campo Grande.
Em 2013, depois de uma longa espera, a casa passou por uma reforma de recuperação emergencial promovida pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Apesar do imóvel ser particular - ou seja, ser dever e obrigação do proprietário de conservar o bem - o órgão federal pode bancar a obra mediante comprovação de falta de recursos financeiros. Foi o caso de Jovenizio.
Mas, mesmo com o esforço para preservar a história, as rachaduras voltaram e com elas, a insegurança de uma família que há quase 30 anos chama o lugar de lar.
“Desde que fizeram a reforma, demorou dois anos e logo começaram a aparecer fissuras de novo. É uma insegurança total. A gente vive com medo de a casa ruir”, relata Jovenizio, de 72 anos, que arrematou o imóvel em leilão após décadas dedicadas ao trabalho ferroviário.
Embora o Iphan e os técnicos assegurem que a estrutura está estável, o cenário dentro da casa, para os moradores, conta outra história. O proprietário mostra que na cozinha é a parte mais prejudicada e que o problema pega mais de uma parede e se estende na parte de fora da casa.

A casa, construída na década de 1930, mantém parte de seus elementos originais: as janelas de madeira, os ladrilhos de um quarto e a fachada que teve a cor original resgatada durante a raspagem, mas a estrutura foi toda mexida, segundo o dono.
Jovenizio explica que fizeram dois banheiros onde era a garagem -que não existe mais - e há um tempo e virou um ‘guarda qualquer coisa’, segundo ele.
O que faz continuar no local é porque ali é o único imóvel que a família tem para morar.
"A gente tem amor porque fui ferroviário, é muito gostoso você estar aqui relembrando. É uma casa histórica. Tem 29 anos que moro aqui, os filhos vieram pra cá, o caçula que tem 42, era criança. É um sentimento triste ver a casa assim".
A questão da estrutura não é vista pelos netos que andam pelo quintal tranquilos mas preocupa os filhos de Jovenizio.
"Os netos ainda não se dão conta. Os meninos são jovens, não pensam nisso, mas filhos têm essa preocupação e tem medo da casa cair em cima da gente. Tem fissuras aqui fora e completa dentro. Está totalmente sem segurança, acredito eu”, comenta.
Na segunda-feira (5), equipes da Superintendência do Iphan em Mato Grosso do Sul realizaram uma vistoria que, embora protocolar, trazia consigo o peso da história. Foi a primeira ação de fiscalização integrada do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no estado (nesse sentido).
Semanas antes, um ofício já alertava para o cenário preocupante: parte dos imóveis históricos da cidade está sob risco real de incêndio, depredação ou desabamento.
Cinco locais foram inspecionados, sendo o Instituto Histórico e Geográfico, a Estação Ferroviária/Plataforma Cultural, a Rotunda com seus galpões e uma casa localizada na Rua dos Ferroviários, no caso, a casa do ex-funcionário Jovenizio.
Acreditando que a responsabilidade é do Instituto ou que ele possa conseguir recursos novamente para a restauração, ele tem fé no que virá. “O Iphan diz que não corre esse risco. Essa vistoria acende um fio de esperança”.
Cabe ressaltar que, apesar de um bem histórico, o imóvel é particular. A reportagem entrou em contato com o Iphan-MS para um novo parecer sobre o caso e aguarda retorno.
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