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Artes

Eletricista que deixou profissão por artesanato, hoje lapida chifres e ossos

Naiane Mesquita | 26/03/2016 07:23
No ateliê em casa no bairro Zé Pereira, João Aldo trabalha com os chifres de boi (Foto: Marcos Ermínio)
No ateliê em casa no bairro Zé Pereira, João Aldo trabalha com os chifres de boi (Foto: Marcos Ermínio)

João Aldo Carneiro já foi muitas coisas, mas por último, decidiu ser eletricista. Trabalhou durante muito tempo em fazenda, percorreu vários lugares do Estado, onde se criou “sozinho”, sem os pais. Tentou ser seminarista, foi expulso, mudou para São Paulo, casou, separou e retornou, “andei mais que moeda de R$ 1,00”. Em meio a tantas incertezas da vida, acabou aceitando participar de uma oficina de artesanato, onde encontrou a verdadeira paixão.

O chifre no tamanho real, antes de ser lapidado
O chifre no tamanho real, antes de ser lapidado

Há 16 anos, João descobriu a lapidar os chifres e ossos de boi que são descartados por frigoríficos. De vários tamanhos e cores, as peças se transformam em milhares de possibilidades na mão do artesão, que se orgulha do que faz.

“Um amigo me sugeriu participar de um curso, uma oficina que estava tendo na Incubadora municipal aqui no bairro. Eu comecei, sem pretensão nenhuma. Gostei e comecei a me aperfeiçoar, comprei peças e montei as máquinas que usamos para polir e trabalhar com o chifre e osso”, descreve.

Nos fundos da casa, no bairro Zé Pereira, ele mantém a oficina da empresa Tecelagem e Cia, ao lado da eposa, a também artesã Ruth Conceição da Silva.

“O curso de qualificação durou quatro anos e frequentei outras oficinas, do Sebrae e Senac para abrir a empresa, que é dela na verdade, eu só sou penetra. O objetivo sempre foi montar um núcleo produtivo”, brinca.

O peixe feito com chifre e ossos de boi
O peixe feito com chifre e ossos de boi
Em processo de lapidação no ateliê
Em processo de lapidação no ateliê

O trabalho com o osso é minucioso, feito por várias etapas. O primeiro estágio é a chegada do osso cru, cheio de “impurezas” e fissuras. Com três máquinas disponíveis, que ele foi montando aos poucos, João consegue deixar as peças perfeitas.

“Primeiro você tem uma lixa que começa a polir o osso ou o chifre. Eu também tenho a opção de cortar em pequenas tiras, que podem ser usadas para outras peças de artesanato. Depois transfiro para outro lugar, onde trabalho por dentro e por fora do chifre. Cada lixa deixa um tipo de acabamento”, ressalta.

Por fim, a peça é colocada em um máquina responsável por polir o material. Primeiro, João passa a cera e logo em seguida o chifre. O resultado é surpreendente. “Eu crio os trabalhos de acordo com a necessidade, para seminários, reuniões, como lembranças. Também faço produtos do cotidiano, como prendedor de guardanapos, que são os que minha esposa faz na tecelagem, colares e agora estou desenvolvendo um porta controle remoto, que pode ficar no alto ou em cima de alguma estante. É uma peça de arte, um produto que leva a cultura de Mato Grosso do Sul”, acredita.

O orgulho do trabalho como artista é tanto que até um vídeo caseiro foi produzido para mostrar as obras de arte. “Também guardo as primeiras que fiz, como um carro de boi. Na época, eu não sabia fazer fotos”, brinca, ao mostrar os registros antigos.

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