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Artes

Grupo pede para transformar bairro e famílias aceitam morar em casas grafitadas

Anny Malagolini | 05/06/2014 07:00
Sobrado pertence à aposentada de 66 anos. (Foto: Marcelo Victor)
Sobrado pertence à aposentada de 66 anos. (Foto: Marcelo Victor)

No bairro Novos Estados, região norte de Campo Grande, algumas ruas são uma surpresa ao olhar. Têm o colorido e os traços do grafite nas casas, uma arte feita de graça por grafiteiros mais interessados na intervenção artística, do que no dinheiro.

O estilo ainda carrega preconceito, mas também muitos admiradores, que mesmo sem entender o “movimento” de rua, dão apoio. A aposentada Rita Olivia, de 66 anos, é uma dessas pessoas. Autorizou a grafite em todo a parede externa da sua residência, que fica exposta por não ter muros.

Ela enxerga pouco, mas as cores intensas usadas na pintura são reconhecidas e aprovadas: “Acho bonito, por isso deixei, melhor que pichação”.

A casa de Rita já foi alvo do vandalismo das pichações. “Tem um bando de maloqueiro que rabisca tudo, e com o grafite é uma forma de não picharem mais, existe um respeito entre eles”, explica.

Vizinha, a doméstica Adelina Soares, de 71 anos, também autorizou que o grupo fizesse a intervenção em um dos muros da casa, mas a condição, segundo ela, era que fossem grafitadas “palavras de Deus”. “Eles me enganaram, não escreveram o que eu pedi, mas ficou bonito”, perdoa.

Apesar do artistas terem feito um trabalho diferente do "encomendado", ela defende: “Eles só querem mostrar o trabalho, assim como um artista na televisão”, compara.

O responsável por colorir o bairro é grafiteiro Crystofer Adriano, de 22 anos. Há oito anos, ele está envolvido com a arte das ruas, mas lembra que também já passou pela pichação antes disso. Hoje, garante, os trabalhos feitos por ele são produzidos apenas com autorização.

Crystofer criou o coletivo “Opium”, que além dele, tem mais cinco grafiteiros. A ideia é levar a arte pela cidade e começaram pelo bairro onde moram. As tintas são compradas por ele e também são doadas por moradores da comunidade, que já conhece o trabalho do grupo.

Maycon Alexandre, de 21 anos, é dono de um sacolão que fica na região e chamou o grupo para fazer a logo do comércio. Deu a eles, algumas tintas como bonificação. “Acho que as pessoas deveriam conhecer a cultura ao invés de apenas criticar”.

Tudo é definido na hora de pintar, mas antes, ele mostra ao proprietário do imóvel seus trabalhos, para que o dono entenda como ficará. Crystofer explica que os desenhos também são contextualizados, tem relação com emoções vividas pelos integrantes do grupo, como por exemplo, o grafite de um camaleão. “Ele representa a capacidade de se adaptar as diversidades, e nós passamos por isso”.

Crystofer diz que procura encontrar casas com os muros gastos, velhos, pois assim, certamente o proprietário aceitará de forma mais fácil a mudança no visual do local. “A ideia é renovar colorindo”, defende.

Muro dos fundos da casa da doméstica Adelina Soares, de 71 anos (Foto: Marcelo Victor)
Muro dos fundos da casa da doméstica Adelina Soares, de 71 anos (Foto: Marcelo Victor)
A intervenção artística é feita sem nenhum custo aos moradores (Foto: Marcelo Victor)
A intervenção artística é feita sem nenhum custo aos moradores (Foto: Marcelo Victor)
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