Itamar questiona capacidade da IA em produzir escrita autoral
Para o vencedor do Prêmio Jabuti, a tecnologia não reproduz subjetividade e experiências que formam um autor
Pela primeira vez em Mato Grosso do Sul, o escritor Itamar Vieira Junior, vencedor do Prêmio Jabuti, não escondeu ceticismo em relação ao impacto da inteligência artificial na literatura. Para ele, embora a tecnologia possa ampliar o acesso à informação, não é capaz de produzir uma escrita autoral, nascida de sentimentos e vivências humanas.
RESUMO
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O escritor Itamar Vieira Junior, vencedor do Prêmio Jabuti, manifestou ceticismo sobre o impacto da inteligência artificial na literatura durante sua primeira visita a Mato Grosso do Sul. Para ele, embora a tecnologia possa democratizar o acesso à informação, não é capaz de produzir uma escrita autoral baseada em sentimentos e vivências humanas. Doutor em Estudos Étnicos e Africanos e ex-servidor do INCRA, Itamar destacou que sua experiência com reforma agrária e comunidades quilombolas foi fundamental para obras como "Torto Arado", traduzido para mais de dez idiomas. O autor defende a importância de manter o otimismo ao abordar temas como conflitos agrários, sem deixar de contar a história brasileira com verdade.
“Tudo o que a inteligência artificial nos fornece precisa ter sido criado previamente pelo ser humano. Talvez, em algum sentido, a tecnologia democratize mais o acesso à informação, mas ela ainda não é capaz de ter uma escrita autoral. Ela não é feita de subjetividades. O ser humano é feito de sentimentos; a inteligência artificial, não”, afirmou.
A reflexão leva a outro ponto essencial da trajetória do baiano, a experiência da escrita como dor e prazer. Inspirado por uma frase de Manoel de Barros, que dizia que escrever dói, o autor confirma que sente esse peso, mas ressalta o outro lado do processo criativo.
“A vida não é feita só de prazeres. Ela também é feita de certa dose de sofrimento. E dói; eu acredito que dói, mas a gente não vai só por isso; ninguém escreve só porque escrever dói. A gente escreve porque também nos dá certa dose de prazer criar mundos e nos confrontar com a humanidade das personagens”, avalia.
Doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia, geógrafo e ex-servidor do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Itamar ressalta que seu contato com a reforma agrária e a realidade do campo foram decisivos para sua escrita.
“Poder trabalhar como servidor público, poder conhecer o campo em profundidade, acho que isso me deu um repertório único para que eu pudesse escrever essas histórias a partir deste lugar”, explicou.
A vivência direta com comunidades quilombolas, mulheres em luta pelo território e trabalhadores rurais formou a base de romances, como Torto Arado, obra que venceu os prêmios Jabuti, Oceanos e LeYa, além de projetar o autor internacionalmente, com traduções para mais de dez idiomas.
Em Campo Grande, para uma palestra na Bienal Pantanal, o escritor também destacou a necessidade de preservar o otimismo diante de temas como conflitos agrários, povos indígenas e quilombolas, temas centrais de suas obras.
“Eu preciso ser otimista. Por mais difícil, por mais lento, por mais doloroso que seja, eu preciso conservar uma certa dose de otimismo. Acho que eu escrevo por isso também”, analisa.
Apesar disso, Itamar afirma que se manter otimista em relação à realidade não exclui a verdade histórica. “Não podemos fantasiar a nossa história. Não dá para falar de Brasil sem falar da história dos povos originários, sem falar da diáspora africana, sem falar da imigração europeia. O nosso passado precisa ser contado exatamente como é para que, a partir dessa experiência, a gente possa projetar um futuro diferente”, finaliza.
Bienal Pantanal - O evento, que começou no sábado (4) e segue até 12 de outubro, ocupa os espaços do Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo com uma programação gratuita que reúne escritores, pesquisadores, artistas e leitores de todas as idades.
Ao longo de nove dias, serão expostas obras de mais de 50 autores, incluindo convidados de países vizinhos como Paraguai, Argentina e Colômbia, além de nomes de diferentes estados brasileiros.
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