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Artes

Música tem versos excluídos de livros escolares em MS e também de shows

Naiane Mesquita | 20/08/2015 06:23
Grupo Acaba se apresenta na quinta-feira no Festival América do Sul, em Corumbá, justamente da onde saiu a letra polêmica
Grupo Acaba se apresenta na quinta-feira no Festival América do Sul, em Corumbá, justamente da onde saiu a letra polêmica

Nos livros usados por escolas de Campo Grande, a estrofe foi excluída. “Tudo que a branca faz, a negra também inventa. Passa pó de arroz na cara, a negra fica cinzenta”. A censura à estrofe de “Papagaiada”, do Grupo Acaba, não precisa de muitas explicações atualmente. A composição da década de 70 reúne várias brincadeiras com palavras, animais e frases polêmicas, consideradas racistas, que hoje são barradas pela própria banda em suas apresentações. É a mostra que, apesar de muitos criticarem o politicamente correto, já evoluímos bastante.

A música ficou esquecida durante mais de 10 anos.
A música ficou esquecida durante mais de 10 anos.

Um dos fundadores do Grupo Acaba, Moacir Lacerda, 64 anos, explica que a canção recupera um verso do folclore pantaneiro, da região de Corumbá. “Essas citações sempre foram no sentido mais de brincadeira do que de uma ofensa, mas nós não cantamos mais até em função de que os tempos mudaram. Começamos a ter uma conscientização, da questão do bullying. A música ficou esquecida durante mais de 10 anos”, indica.

Moacir afirma que em função dessa mudança da sociedade, eles resolveram também modificar a canção. Continuam outras estrofes e o refrão "Currupaco, papaco, a mulher do macaco, ela pula, ela dança, ela cheira tabaco", que agora, sem a primeira parte, leva a uma interpretação mais relacionada à fauna.

“Não chegamos a incluir novos versos, apenas retiramos esse trecho, não cantamos mais. Não queremos de forma alguma ofender um grupo. Sempre estivemos do lado da natureza, do pantanal, da preservação e das minorias. Tem a questão do siriri cururu que se canta desde a época do império no Brasil. Acabamos reproduzindo”, explica.

O músico lembra que a letra foi escrita por Chico e Vandir, dois integrantes do grupo, que surgiu em 1968, em Campo Grande. “Nós somos de diferentes regiões do Brasil. Começou quando estávamos no ginásio, sempre quisemos levantar essa questão da fauna e da flora, da farmácia que todo mundo tem no fundo do quintal. Na música também a própria questão da papagaiada tem um fundo político, da sujeira política, que tudo é um jogo de cena”, acredita.

A questão do racismo na letra ficou tão séria que até algumas apostilas escolares de Campo Grande até trabalham a música como parte do ensino sobre cultura regional, mas sem o trecho polêmico.

Moacir comenta que com polêmica ou não, eles decidiram deixar para no passado o trecho. “Faz tempo que não cantamos dessa forma mesmo. Em Bonito cantamos a música, mas com a mudança e no Festival América do Sul será a mesma coisa”, indica.

Outro integrante do Grupo Acaba, Adriano Praça de Almeira, 52 anos, já tem uma opinião diferente sobre a história. Vale lembrar que ao todo são 10 músicos na formação atual da banda. “É uma cultura centenária, agora tem algumas pessoas que acham que isso é uma agressão a cor da pele. Isso se chama estupidez. Chega do Brasil dividido em cor, branco, negro, nós somos um Brasil só. Não tem nada a ver com agressão”, dispara.

Com show marcado para quinta-feira no Festival América do Sul, em Corumbá, a música parece que voltará à cidade que inspirou a canção. Quem quiser conferir a versão original, sem cortes, ainda é possível encontrar facilmente no Youtube:

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