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Artes

Em tempos de música eletrônica, afinador de pianos preserva ofício há 35 anos

Ângela Kempfer | 20/07/2012 12:09
Valdir Ferraz, na oficina na Vila Alba. (Fotos: Minamar Júnior)
Valdir Ferraz, na oficina na Vila Alba. (Fotos: Minamar Júnior)

Ele nunca aprendeu a tocar, mas há 35 anos afina pianos em Campo Grande. Desde 1976, esse é o ofício de Valdir Ferraz. Primeiro na Instrumental Ferraz, a maior loja desse segmento durante décadas na cidade. Agora, “escondido” na Vila Alba, em uma oficina menor, junto a casa onde mora com a esposa.

Só de falar do orgulho que carrega por trabalhar com instrumento tão nobre, seo Valdir deixa o olho marejar e lembra: “Um dia, estava afinando um piano lá no Comper e uma mulher passou, depois voltou e disse em espanhol que era muito linda minha profissão. São coisas que emocionam, né.”

Houve tempos não só de manutenção, mas de venda de 120 instrumentos por ano. Hoje são , no máximo 20 usados e a maior parte do trabalho é afinar, restaurar e transportar o que pouca gente ainda mantém em casa.

“Mas o mercado ainda é bom, porque só eu, meu irmão e um amigo fazemos isso ainda. Tem trabalho sempre. Quando montei aqui, o camarada da prefeitura disse que não ia durar 2, 3 anos. Só gente que não entende de música pensa assim”, conta ele, prestes a sair para o orçamento na casa de um novo cliente.

Enquanto um piano novo custa cerca de R$ 1.5 mil, na loja de Valdir um usado vale entre R$ 5 mil e R$ 7 mil. "A tecnologia também melhorou a sonoridade do piano. O instrumento hoje é muito melhor do que há séculos”, ensina.

O transporte especializado é outro serviço que só quem conhece sabe fazer direito, garante. “Não é como transportadora que faz de tudo um pouco. Tenho equipamentos que não deixam um risco no chão da residência na hora de tirar o instrumento, muito menos no piano”.

Afinador mostra cordas antigas, que reutiliza no trabalho.
Afinador mostra cordas antigas, que reutiliza no trabalho.
Pianos chegam para afinação e restauração.
Pianos chegam para afinação e restauração.

Apesar da clientela boa, ele sabe que o glamour é algo para poucos na cidade pequena e sem aquelas tradições passadas por gerações em locais como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. “Uma casa tem até 4 carros na garagem, mas você anda quarteirões e não encontra uma com piano”, comenta.

Valdir toca acordeon desde criança, aprendeu com o pai e com o avô. O contato deixou o ouvido sensível o suficiente para se dedicar à afinação de pianos ao lado do irmão, Albino Ferraz. O mesmo gosto passou aos filhos, um guitarrista e outra pianista.

Chegou a viajar pelo País para afinações e colecionou histórias de instrumentos. “Em Cáceres, em uma escola católica, afinei um piano de 200 anos. As irmãs contaram que foi comprado para a inauguração do colégio e cuidavam como a relíquia que é. Foram 3 dias de restauração”.

A lição maior no contato com Valdir Ferraz é o cuidado com a música. Para popularizar o piano, fez parceria com supermercado e leva os instrumentos para entre uma compra e outra as pessoas ouvirem o som clássico.

A responsabilidade continua até no trato com a concorrência. “Nós combinamos os preços, mas não é para ficar alto não, é justamente para todo mundo poder pagar”, assegura.

Hoje, seo Valdir atende na rua Silveira Martins, 1095, na Vila Albas, entre centenas de cordas, peças de piano e instrumentos prontos para voltar para casa.

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