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Comportamento

A coincidência triste na vida da flor e da costureira

Elverson Cardozo | 12/11/2012 09:17
A beleza que dura pouco, apenas 24 horas. (Foto: Pedro Peralta)
A beleza que dura pouco, apenas 24 horas. (Foto: Pedro Peralta)

Era tarde de quinta-feira quando o telefone tocou na redação. O recado chegou: ela morreria em breve. Era preciso agir rápido. Às 17h30, a equipe do Lado B saiu para rua, às pressas. Conseguiu chegar. A tempo de ver ela de perto, viva, antes que os ponteiros cruzassem o meio do relógio.

O endereço, no bairro Jóquei Clube, em Campo Grande, caiu na casa da professora Marisa Castro Alves Sá. Há 6 primaveras, ela presencia, da varanda, uma cena curiosa: o nascimento e morte de uma flor. Na casa dela, o ciclo dura apenas 24 horas.

É a beleza efêmera de uma planta que a professora diz ser da espécie Junquilho, originária do Sul da Europa e do Nordeste da África. Na casa de dona Marisa, um dos botões resolveu desabrochar na quinta. A flor nasceu pela manhã, perfeita, com acontece todos os anos.

Em tons quentes, avermelhados e alaranjados, as pétalas garantiram um espetáculo à parte e se destacaram em meio às outras espécies que a professora coleciona na entrada da residência.

"Maria sem vergonha", aquela que dá no mato, parecia mais tímida. As margaridas brancas resolveram ficar no canto, quietas, encostadas no muro. Os crisântemos, coitados, perderam o brilho. Plantada ao lado, a rosa vermelha nem se manifestou. Só mostrava os espinhos.

A curiosidade, cuidadosamente escrita em um papel, foi entregue pela professora no início da entrevista. Uma enciclopédia da própria coleção foi utilizada como referência.

Dona Marisa e a flor de beleza rara. (Foto: Pedro Peralta)
Dona Marisa e a flor de beleza rara. (Foto: Pedro Peralta)

A planta, segundo o texto, apresenta de 3 a 6 flores por vez e desabrocha no início da Primavera. Mas no quintal de dona Marisa, ela descumpriu até essa regra. "Não nasceu na Primavera por causa de uma chuva de granizo", avalia.

Marisa Castro sempre foi apaixonada por flores. Estuda e compra mudas sempre que pode. Nunca se viu longe das plantas e nem quer estar. "Elas representam a beleza da natureza e a plenitude da vida que desabrocha", filosofou.

A equipe do Lado B viu de perto essa plenitude. Registrou a beleza que tem época para surgir e, na casa da professora, dura apenas algumas horas. Começava aí a coincidência da tarde, infelizmente.

A morte - Na volta para a redação, em um bairro próximo dali, uma situação nos deixaria atônitos. Como a flor de dona Marisa que deixou de existir na manhã seguinte, o fôlego da vida, para uma senhora de 53 anos, a deixou de uma hora para outra, de maneira inexplicável.

Duas viaturas do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e a movimentação de curiosos fizeram nossa equipe parar no cruzamento das ruas Antônio Correa com a Calarge, na Vila Glória.

Não chegamos a tempo de ver Sueli Aparecida Gomes viva. Apesar do trabalho para tentar reanimá-la, após 25 minutos, a equipe médica do Samu constatou a morte. A mulher, que era costureira, morreu dentro de uma pizzaria.

Arrasado, o proprietário do estabelecimento, Marcelo Hokama, que havia acabado de abrir as portas, contou o que viu: “Ela chegou meio cansada, sentou na escada, pediu um copo de água e eu dei. Quando colocou o copo na boca, ela caiu para trás, já sangrando o nariz e a boca”.

A vida, para Sueli Aparecida, terminou na quinta-feira. A beleza do Junquilho foi embora na sexta.

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