ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  23    CAMPO GRANDE 31º

Comportamento

Alice partiu, mas sua luta na vida ficou para amenizar a dor do único filho

Thailla Torres | 22/10/2017 07:10
A última fotografia que Juliano conseguiu fazer da mãe. (Foto: Juliano Almeida)
A última fotografia que Juliano conseguiu fazer da mãe. (Foto: Juliano Almeida)

De Alice ficou a capacidade de transformar as dores do mundo em leveza, mesmo diante do sofrimento, dificuldade e preconceito. Depois de meses lutando contra um câncer no pâncreas, há uma semana a família se despediu da mulher guerreira, exemplo capaz de suavizar a dor do filho e todos ao seu alcance.

"Ela soube me preparar para este momento. Mas não há dor maior que a ausência dela", começa  Juliano Almeida, de 43 anos, filho único de Alice Almeida, que partiu aos 74 anos. "Acredito que seus dias de luta terminaram, mas os de glória chegaram diante de uma pessoa tão guerreira".

Do coração do filho, a força de Alice agora foi eternizada na pele de Juliano que decidiu fazer a 11ª tatuagem em homenagem a ela. O desenho de uma mulher com asas machucadas deu sentido ao orgulho dos cuidados que ela tinha com ele. "Essa imagem é a verdadeira tradução do que uma mãe é capaz de fazer pelo outro. Ela está tirando as próprias penas para dar asas ao filho e foi exatamente tudo que minha enfrentou por mim".

Tatuagem representa tudo que uma mãe é capaz por um filho.
Tatuagem representa tudo que uma mãe é capaz por um filho.

Foi em fevereiro que Juliano recebeu a notícia determinante na vida de Alice. "O primeiro diagnóstico foi de problema na vesícula e precisava de cirurgia. Mas no término da operação foi descoberto que o câncer havia tomado o fígado, intestino e pâncreas dela. Na hora precisei sentar e apaguei dentro do hospital de tão impactante que foi", narra como quem à época se recusava a acreditar.

Mas apesar do diagnóstico, Alice mostrou que estava determinada a lutar por sua vida e mais uma vez ensinou ao filho sobre perseverança. "Era muito guerreira e sempre tive muita sorte em ser filho dela. E tudo que aconteceu na sua vida até a sua morte não foi por acaso", descreve.

Nascida em Campo Grande, de família pobre, ela enfrentou desafios por ser negra e mãe solteira na década 70.  "Naquele tempo, uma mãe solteira não era bem vista pela sociedade e ela precisava muito trabalhar porque estava a espera de um filho. Mas conseguiu um trabalho como empregada doméstica em uma família onde ficou durante 40 anos".

Os patrões acolheram Alice, ainda gestante, dentro de casa e abraçaram Juliano como afilhado. Trabalhou muito durante anos, sempre disposta a atender cada pedido do filho. "Ela me deu amor, carinho, felicidade e muita educação durante todos os anos. Me ensinou como eu devia respeitar e lutar por respeito a qualquer momento".

Sempre vaidosa com seu corpo, Alice caminhava 7 quilômetros por dia, sempre disposta, sempre alertando ao filho sobre os cuidados com a saúde. "Ela dizia: come isto e aquilo para ficar forte menino. Mas a força que ganhei não foi nos músculos e sim na minha alma através dela".

Com sabedoria, Alice ensinou Juliano a não desperdiçar a chance de falar o que sentia. "Nunca deixei de falar eu te amo. Ela dizia que não se deve esperar a morte para falar o quanto alguém é importante pra gente".

E diante do amor incondicional, Juliano não tinha dúvidas que a mãe poderia sair dessa. "Eu acreditava em sua recuperação. Por ser uma mulher guerreira que enfrentou todas as dificuldades pela felicidade dos outros, eu tinha certeza que ela Deus deixaria ela mais um pouco".

Mas em cada palavra Juliano foi percebendo que Alice já estava o preparando para sua partida. "Fiquei o tempo todo o seu lado para conversar, rir, chorar e perdoar a tudo. Mesmo assim ela continuava me cuidando e até escolheu o lugar onde eu iria fazer a próxima tatuagem. No fundo ela queria me deixar forte para a nossa separação", conta o filho.

Entre idas e vindas do hospital, a vida de Alice se transformou em dias. Os médicos disseram que o caso era grave e seriam poucos dia de vida. Internada no CTI (Centro de Terapia Intensiva", no dia 11 de outubro, Alice derramou lágrimas e partiu.

"O que ficou da minha mãe? Sua garra, seu exemplo de vida que foi capaz de fazer eu seguir meu caminho. Sua partida me entristeceu, mas todo sentimento que ela tinha me fez entender que nada foi por acaso e ela cumpriu seu papel como mãe e mulher nessa terra. E agora eu sei que ela bem ao lado de Deus".

Curta o Lado B no Facebook.

Uma das últimas fotos com a mãe.
Uma das últimas fotos com a mãe.
Nos siga no Google Notícias