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Comportamento

Avesso a propaganda, Jorge é o alfaiate que há anos veste políticos na cidade

Jorge usa a mesma tesoura e máquina de costura há 50 anos e já prepara terno para posse em 2019 de cliente em Brasília.

Thailla Torres | 28/12/2018 07:56
Jorge usa a mesma máquina de costura há 50 anos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Jorge usa a mesma máquina de costura há 50 anos. (Foto: Henrique Kawaminami)

Com a mão mais firme do que nunca, Jorge Higa, de 81 anos, é um dos alfaiates mais antigos de Campo Grande. Após décadas de história com a costura, hoje ele é avesso à propaganda e se garante com os clientes fixos. Longe do Centro, no bairro Taquarussu, é na varanda de casa que ele segue vestindo com elegância muitos homens, especialmente, advogados e políticos.

O nome do alfaiate ficou conhecido como grife na décadas de 80 e 90, época em que coletes, paletós e calças eram feitos sob medidas. E como o medo do desconforto sempre foi algo que assombrou o costureiro, Jorge lembra-se que era escolhido por causa do corte mais largo. "Antigamente, os homens usavam um paletó mais solto, mais longo e tradicional, hoje o paletó diminuiu, quase ninguém usa o colete e as calças são mais justas", explica.

Ele diz que nasceu ao lado de uma máquina de costura. (Foto: Henrique Kawaminami)
Ele diz que nasceu ao lado de uma máquina de costura. (Foto: Henrique Kawaminami)

Foram muitos anos costurando em uma loja na Rua 14 de Julho para comerciantes, empresários e políticos. Um deles virou amigo da família e Jorge ficou encarregado, durante anos, de vestir elegantemente o político Nelson Trad, que morreu em 2011. Depois da partida do cliente, o costureiro continuou confeccionando ternos para os filhos, inclusive,  terminou nesta semana o paletó e calça para a posse do senador eleito Nelson Trad Filho, prevista para 1° de fevereiro. O político chegou a publicar elogios ao alfaiate em suas redes sociais. "Conheço ele desde de menino, quando o pai dele ainda era jovem, fiz muito terno para a família", diz Jorge.

Ele está há mais de 60 anos na mesma atividade. Conta que nasceu na costura e herdou o ofício do pai que tinha uma alfaiataria. "Não lembro a primeira vez que peguei em uma linha, mas era muito pequeno". Se aperfeiçoou em São Paulo e retornou a Campo Grande para dar continuidade ao ofício.

O ritmo de trabalho era intenso, incomparável com a tranquilidade de hoje. "Costurava de 12 a 14 horas por dia, eram muitas encomendas", lembra. Mas a concorrência com as grandes lojas foi mirrando o trabalho até que restaram poucos alfaiates pelo Centro. Cansado, há 10 anos Jorge decidiu produzir na varanda de casa, o que lhe permite fazer um terno por semana.

Mas se clientes como Nelsinho, o empresário Paulo Pedra e deputado federal reeleito Dagoberto não vão até Jorge, o alfaiate vai até a casa ou escritório dos clientes fieis e providencia até a compra de tecidos. "Muitos trazem o tecido, eu tiro as medidas e faço. Mas quando eles preferem que eu compre, faço questão de ir com eles para escolher a cor e o tecido ideal, porque hoje são muitas opções".

Tesoura escura também é a mesma há 50 anos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Tesoura escura também é a mesma há 50 anos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Nelsinho Trad experimenta terno para posse em Brasília. (Foto: Reprodução Instagram)
Nelsinho Trad experimenta terno para posse em Brasília. (Foto: Reprodução Instagram)

Os clientes levam o tecido e Jorge só cobra a mão de obra, sem revelar o verdadeiro preço para ternos mais sofisticados. "Posso dizer que custa a partir de R$ 300,00, mas não quero e nem gosto de fazer propaganda", resume.

Acompanhado da estimada máquina de costura, uma Singer de 50 anos, a cena é mesma desde o início da profissão. Jorge não se desfaz das relíquias mesmo com outras cinco máquinas pela casa. "Essa daqui nunca deu problema, só saiu um pouco da cor. É máquina de costura de verdade", diz sobre a Singer.

O mesmo ocorre com a tesoura já sem viço, que serve de analogia aos dias que passaram. "Uso essa tesoura desde o tempo em que eu brilhava", diz sorrindo e mostrando a companheira de ferro que ele nunca abriu mão.

Além de ternos, no dia a dia ele se dedica a pequenos consertos como barra de calça, ajuste de camisa ou um botão diferente no paletó. E apesar do número menor de clientes que resistiram ao tempo, a lembrança do início da profissão vem com orgulho. "É uma carreira que não se esquece nunca. Muitos clientes já partiram, mas eu tenho muito orgulho de ter vestido tanta gente pela cidade".

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Detalhes de um alfaiate que nunca sai de moda. (Foto: Henrique Kawaminami)
Detalhes de um alfaiate que nunca sai de moda. (Foto: Henrique Kawaminami)
Hoje o trabalho é feito em casa, ao lado de outro alfaiate. (Foto: Henrique Kawaminami)
Hoje o trabalho é feito em casa, ao lado de outro alfaiate. (Foto: Henrique Kawaminami)
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