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Comportamento

Brandina mora na rua, vive de esmola, mas dá o pouco que tem para quem precisa

Thailla Torres | 22/07/2017 07:15
Caixa foi deixada na madrugada de frio e Brandina faz questão de deixar a mostra para qualquer um pegar uma peça. (Foto: Marcos Erminio)
Caixa foi deixada na madrugada de frio e Brandina faz questão de deixar a mostra para qualquer um pegar uma peça. (Foto: Marcos Erminio)

O começo da semana foi marcado por um frio intenso. Se não bastasse o sofrimento de conviver diariamente com o abandono e os percalços da vida nas ruas, os moradores de Campo Grande, que não possuem uma casa para morar, padeceram com o frio, na sensação térmica que chegou até -3ºC, e assolou a cidade. Apesar das tantas dificuldades de quem vive na situação, um gesto simples faz a diferença na vida de quem tem pouco, mas compartilha o que tem com quem precisa.

Na calçada do Cemitério Santo Amaro, Brandina Guimarães, de 56 anos, é o exemplo. Sentada ao lado de uma caixa decorada, a mensagem deixa claro a solidariedade que vem de onde menos imagina. "Quem tem põe, quem não tem tira".

Brandina está nas ruas há meses, por conta do álcool. (Foto: Marcos Ermínio)
Brandina está nas ruas há meses, por conta do álcool. (Foto: Marcos Ermínio)

Ainda que numa realidade brutal, longe de casa e da família, e muito perto da violência, ela não perdeu a vontade de distribuir afeto. Todos os dias ela levanta na calçada do cemitério e organiza as roupas na caixa para quem precisa.

A caixa de papelão não foi produzida por ela, confessa. Brandina conta que amanheceu na última segunda-feira com a caixa cheia de roupas e cobertores. Mas em vez de guardar, fez questão de deixar ali para qualquer um pegar. "A gente tem pouco, mas se pode ajudar, a gente deixa ai", resume.

Aos 56 anos, ela é uma das cinco pessoas que vivem ali e tiveram as ruas como única opção depois de saírem de casa. No caso de Brandina, o álcool a deixou naquelas condições. "Eu bebo, infelizmente, eu bebo. E minhas irmãs não aceitam, também não tinha para onde ir", revela.

Ela conta que nasceu em Aquidauana, mas viveu muitos anos no bairro Santo Amaro. É mãe e avó, mas o contato com a família ficou distante, um reflexo do vício. "Tenho uma filha linda. Espero encontrá-la de novo", diz.

Nas ruas acabou fazendo amizades que provam o quanto há pessoas de bom coração. "A gente está na rua, mas não somos marginais. A gente sofre muito, é verdade, mas aqui a gente se abraça e cuida um do outro, mesmo com as dificuldades", afirma.

Brandina precisa de cuidados, está envelhecendo e diz que sonha em mudar de vida. "Mas eu não sei como. Não tenho condições. Essa vida nas ruas não é fácil. Queria muito sair daqui", resume.

E mesmo entre as dificuldades, ela diz que vai continuar ajudando quem precisa, enquanto estiver ali. "Isso tem que acontecer em qualquer lugar. Graças a Deus encontramos pessoas boas pelo caminho e se elas precisam, a gente também vai ajudar. Que bom que alguém deixou a caixinha, né? Agora a gente vai colocar o que tem para doar também", finaliza.

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