Cansada de 'parecer fantasma', Negona virou maquiadora

Aos 44 anos, a maquiadora Elisângela Maria de Queiroz, a ‘Negona’, espalha autoestima por onde passa. Mas quem vê a mulher confiante com a própria imagem, nem imagina que a paixão pela maquiagem nasceu de repetidas frustrações que ela já enfrentou.

Toda vez que precisava fazer uma produção, a história era sempre a mesma. Ela até mudava de maquiador, mas sempre passava pelo constrangimento de ser maquiada de forma errada, ao ponto de sair com a pele opaca e “branca” nas fotos. “Eu pagava para me maquiar e saía parecendo um fantasma, branca, estranha. Era a coisa mais triste do mundo”, lembra.

Até na hora de trabalhar, a maquiagem virava um perrengue na vida de Elisângela. “Eu trabalhava como segurança de uma balada famosa aqui da cidade, e lá as mulheres iam todas produzidas, cheias de brilho. Eu também precisava estar bem bonita, mas sempre que eu pedia pra alguém me maquiar, me deixavam com a cara branca, horrorosa”, conta.

A virada de chave aconteceu em um concurso de Miss, meses antes da pandemia. Negona foi contratada para fazer a segurança da coordenadora do evento e, nos bastidores, conversou com maquiadores e até ganhou um pincel de presente. “Naquele dia eu decidi que seria maquiadora”, afirma.

Decidida, no dia seguinte ela já se matriculou em um curso de maquiagem. Mais do que um meio para aprender técnicas de maquiagem, ela encarou o curso como uma missão. Queria mostrar que a pele negra merece ser celebrada com todos os tons e possibilidades que existem.

“Eu estudava e já chamava as clientes do meu trabalho para serem minhas modelos. Fui dando a cara pra bater, porque no começo ninguém acredita na gente”, lembra. E a coragem deu certo. Hoje, ela vive exclusivamente de maquiagem. “A maquiagem deu tão certo que hoje é minha única renda”, afirma.

Negona é especialista em pele negra e sabe bem o peso de um tom mal escolhido. Segundo ela, o maior erro em peles negras é a escolha da base. “A maquiagem tem o poder de te destruir ou te deixar maravilhosa. Então eu sempre faço o teste com flash, peço para a cliente pegar o celular e testar. Se estourar, a gente arruma na hora”, explica.

Mas além da técnica, ela afirma que o segredo está no cuidado. Diferente de muitas experiências que viveu, ela diz que oferece espelho, ouvidos atentos e liberdade para a cliente opinar. “Eu dou a oportunidade de falar porque era isso que eu queria quando me maquiavam. É sobre ter respeito por quem está sentado ali”, pontua.

Para Elisângela, a maquiagem vai muito além de cobrir manchas ou ressaltar traços, é uma ferramenta para empoderar as pessoas que atende. Recentemente, ela promoveu uma oficina de maquiagem na comunidade quilombola Furnas do Dionísio.

“Eu quero exaltar mulheres negras iguais a mim. Através da maquiagem eu aprendi a me amar, e meu objetivo é que todas também tenham essa autoestima e enxerguem sua beleza. Quero provar que podemos tudo. Podemos usar amarelo, rosa, tudo fica lindo na gente”, relata.

E para ela, não existe desculpa para não se cuidar. “Não é uma questão de dinheiro. Você pode ter só um batom, mas usar como blush, como sombra. Não precisa ser maquiagem importada. Com R$ 100 você monta um kit que te deixa maravilhosa”, garante.

Mãe de três filhos, Luciano, de 23 anos, Valdemir, de 13, e Luiza, de 10 , Negona quer levar a mensagem de liberdade, alegria e amor próprio adiante. “Eu quero chegar em outras mulheres para dizer que elas são maravilhosas, que podem correr atrás dos sonhos, que devem se produzir, se maquiar e serem lindas como são”, finaliza.

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