ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 21º

Comportamento

Com beijo no ar, avó demonstra a felicidade em ver a primeira neta no altar

Paula Maciulevicius | 22/01/2016 06:34
"Ela é a minha paixão". Dona Noêmia não só viu como viveu a sensação de ver a primeira neta de noiva. (Foto: TopStudio)
"Ela é a minha paixão". Dona Noêmia não só viu como viveu a sensação de ver a primeira neta de noiva. (Foto: TopStudio)

Por muitos anos dona Noêmia se perguntou se veria a neta no altar. Se a vida bem vivida ao longo dos 80 lhe daria mais esse tempo. As dúvidas começaram pela formatura, que a avó assistiu e terminaram no beijo jogado no ar, dias atrás, quando Karla caminhava até o altar.

Karla foi a primeira em tudo. Primeira nascida, primeira menina e a primeira neta a se casar. Filha do único filho de Noêmia e Ademar, para a avó era mais que um presente vê-la de noiva, era a certeza de que a vida lhe devolvia a mesma gentileza com que a senhorinha sempre sorriu.

"Ela é a minha paixão", diz dona Noêmia Pereira Cavalcanti. Aos 87 anos, ela lembra como se fosse hoje do dia em que a neta nasceu, há 27 anos. "Ela ia ser uma menina muito esperta, imaginava ter uma neta boa, estudiosa, dedicada às coisas e ela é assim". 

Avô mostra os retratos da neta pela casa. (Foto: Gerson Walber)
Avô mostra os retratos da neta pela casa. (Foto: Gerson Walber)

Aos 8 meses de idade, Karla ficou por 21 dias na casa dos avós, não trouxe outra coisa à casa que não fosse alegria.

"Ela era tão quietinha, mas de vez em quando ela queria ficar em pé no berço e eu falava: 'vai deitar menina'. Ela nunca reprovou, sempre foi muito estudiosa. A formatura dela para mim foi uma alegria, mas eu tinha esse medo de morrer logo, de não ver ela se casar. Nós pensamos isso, mas é errado, não é?"

Dona Noêmia tem uma voz mansinha e que sai baixinho. Sorri para tudo até hoje e traz consigo uma sabedoria que só vem com os cabelos brancos e o título de avó. "Quando ela começou a namorar esse rapaz, eu já sabia que ia dar certo", conta. Vó sempre sabe, sempre.

Dona Noêmia, acompanhada de seu Ademar e mais dois cuidadores chegaram à Igreja Perpétuo Socorro com quase 1h de antecedência, assistiram primeiro a missa para depois ver o casamento. Era ansiedade misturada à vontade de pegar um "bom lugar" para ver a neta passar.

Noêmia e Ademar têm 62 anos de casados. (Foto: Gerson Walber)
Noêmia e Ademar têm 62 anos de casados. (Foto: Gerson Walber)

"Eu chorei, chorava eu e a irmã dela, de emoção. Eu pensava que eu não chegaria lá e ela estava tão linda. Mandei um beijo e ela retribuiu", explica a avó sobre a cena.

Na hora ela diz que pensou em tanta coisa para falar à neta e o que fica são os desejos de uma vida maravilhosa, junto de conselhos de quem tem seis décadas de convivência diária.

"Que Deus ajude ela a ser muito feliz na vida, a ter muita paciência com o marido. Eu tenho mais de 60 anos de casada e casamento tem espinho. A gente precisa cuidar para não machucar, tem que ouvir e depois, na hora certa, chamar para conversar e se entender. Nunca tomar uma decisão quando se está brigando e em discussão, aí que não dá certo", orienta a avó.

O afeto - A neta não esperava o beijo da avó, mas retribuiu automaticamente. Na imagem, dona Noêmia está com a mão estendida de quem manda o beijo no ar, enquanto a noiva devolve o gesto com os lábios. Para Karla, ali não precisavam palavras.

Xodó da família, Karla lembra da avó dizer que não sabia se estaria viva no casamento. Medo que se intensificou depois que dona Noêmia foi diagnosticada com mal de Parkinson. As medicações que a senhorinha toma a deixam, por vezes, tremendo. "Ela escolheu ficar rígida, deixou de tomar uns medicamentos para ir bem", conta a neta.

A avó ainda inebriada pela emoção. (Foto: TopStudio)
A avó ainda inebriada pela emoção. (Foto: TopStudio)

Publicitária, Karla Assumpção Cavalcanti Nery tem 27 anos e a lembrança de uma vida do carinho entre os dois. As doenças que chegaram com a idade foram deixando os avós, que já eram caseiros, cada vez mais na "toca" e eles terem saído para a igreja foi para ela um presente.

No passado, a neta recorda de ficar muito tempo na casa deles e que sempre respondia positivamente que sim, a avó iria vê-la de noiva. "Eu tinha certeza que ela ia ver muita coisa, ela é forte, tem a cabeça muito boa e uma vontade de viver, apesar do problema dela. Sempre tive a certeza de que ela estaria viva".

Seu Ademar não segura as lágrimas quando começa a dizer da emoção e da satisfação que foi ver a neta de noiva. "Alegre, sorrindo, demonstrando estar feliz", conta Ademar Cavalcanti Leite, de 91 anos. O que veio à memória foi o começo de tudo, quando ele e Noêmia protagonizaram o "sim". Feito só no religioso, mas com validade civil em 1953. Paraibanos, eles se conheceram quando Ademar foi comprar produtos na mercearia do pai de Noêmia.

"Foi o primeiro olhar e a trajetória de duas vidas", resume. "Eu olhei para aquela morena e fiquei encantado. Me casei em 1953 e e quando me perguntam qual é a receita, eu digo: é a renúncia. É você renunciar pelo outro. A vida a dois tem espinho e é preciso saber achar, cortar a ponta dele".

Dos avós, o que Karla mais aprendeu foi a caridade, em especial de dona Noêmia. "Sempre a vi trabalhando e doando, dava muita coisa para os outros, os vizinhos têm um carinho por ela. A casa vivia cheia", diz a neta.

Por dentro, além da emoção de dizer "sim", estava também a alegria de que Karla estava certa, a avó veria isso e muito mais. "Fiquei bastante emocionada pelo momento, por tudo. Apesar de eu ter certeza que ela estaria ali, fiquei feliz, para ela significava muito", descreve a noiva.

Na foto, aparecem também o riso do avô e do pai. O segundo demonstra nervosismo assim, abrindo o sorriso. E entre lágrimas estava a irmã Maryanne. "Ela já estava emocionada demais e a hora que me viu entrar e viu a cena da minha avó, o resultado é a foto", explica Karla.

Ao olhar a imagem, o que foi eternizado no álbum de casamento era a sensação de realização. "Uma mistura de alegria, emoção, realização e felicidade mesmo por por ter proporcionado esse momento para eles e para mim também. É um privilégio ter os dois comigo num momento desses".

Curta o Lado B no Facebook.

Já casados, Karla e Felipe recebem os avós para as fotos no altar. (Foto: TopStudio)
Já casados, Karla e Felipe recebem os avós para as fotos no altar. (Foto: TopStudio)
Nos siga no Google Notícias