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Comportamento

Como carinho diário, João passa 2 vezes na casa da mãe para preparar o cafezinho

Antes de seguir para o trabalho e na volta do serviço. tarefa é sagrada na rotina do filho

Thailla Torres | 20/05/2018 07:10
Além do sabor da bebida, filho gosta mesmo é de sentir a companhia de Célia. (Foto: Paulo Francis)
Além do sabor da bebida, filho gosta mesmo é de sentir a companhia de Célia. (Foto: Paulo Francis)

Todo dia, pela manhã, o cheirinho de café chega como um abraço até o quarto de dona Célia Ledesma. Um de seus quatro filhos, João Francis, de 54 anos, acorda, se arruma, sai de casa, mas antes de seguir para o trabalho tem uma tarefa sagrada. Vai até o bairro da mãe para preparar o café fresco. Depois, cumpre a carga horária e antes de retornar para casa, novamente dá uma paradinha na casa dela para providenciar o cafezinho da tarde. Um cuidado sem relação com qualquer necessidade que não seja carinho. Aos 73 anos, Dona Célia é pura energia.

"É que eu sou doidinha por café, minha filha", justifica ela, que levanta todos os dias para sua oração e um bom papo com as plantas. Se é pela bebida quente ou a pela companhia, depois de tanto tempo é difícil avaliar, mas o fato é que não pode acontecer imprevisto, porque se o filho falta, ela cobra como ninguém. "Quando ele não vem, sinto muita falta e cobro ele", diz.

A mãe pode cobrar, mas não tem do que reclamar. Conseguiu uma dádiva: a gratidão dos filhos. E mesmo que um falte, outro sempre aparece para ver Célia. "Não há um dia que fico sem ver os meus filhos. Eles fazem questão de me visitar, dar um beijinho, eu não vivo sem isso", diz a privilegiada.

João prepara todos os dias o cafezinho da mãe. (Foto: Paulo Francis)
João prepara todos os dias o cafezinho da mãe. (Foto: Paulo Francis)

O mimo é um gesto que João não abre mão no dia a dia, antes mesmo de começar o expediente de churrasqueiro em um restaurante da cidade. "Dizem que o que faz um monge é o hábito, mas além disso, é o amor. O cafezinho é um momento nosso, dela com os filhos, que parece dar energia para continuar", acredita o filho.

A mãe tem uma saúde que resiste à qualquer problema, até ao reumatismo. "O importante é que não bebo e faço hidroginástica", ensina.

Nascida em Iguatemi, a 466 quilômetros de Campo Grande, hoje ela é uma das moradoras mais antigas do bairro Monte Líbano. São quatro décadas na casa com jeitinho de "vó" do portão até às fotografias da sala.

"Eu brinco que aqui virou bairro de velho, meus vizinhos são todos da minha idade". Na casa, o mobiliário antigo divide lugar com os porta-retratos da família, as garrafinhas de vidro personalizada por ela e o altar com santos que fazem companhia Nossa Senhora de Caacupé, padroeira do Paraguai e guardiã da casa de dona Célia.

"Sou muito devota, não levanto um dia da cama sem antes fazer minha oração e agradecer pela minha família. A gente fica de idade e o tempo vai ensinando que é preciso agradecer, mais do que pedir", ensina.

Célia toma um café conversando com as plantas. (Foto: Paulo Francis)
Célia toma um café conversando com as plantas. (Foto: Paulo Francis)

De herdeiros do carinho e do desejo de viver, Célia tem quatro filhos, seis netos e três bisnetos. Todos, religiosamente, guardam o sábado para passar o dia com ela em um almoço pra lá de animado. "Reúne todo mundo no meu quintal, é lindo de ver, a gente faz um carreteiro e uns pratos paraguaios".

A referência do sul do Estado é de infância. Célia e as irmãs moraram anos em Iguatemi com os pais. Viajava durante sete dias para estudar no colégio interno Maria Auxiliadora. "Pegava charrete  até Ponta Porã e depois o trem maria fumaça que demorava horas", lembra.

Mas de um vida simples, o que ficou foi a distante vontade de falar do passado. "Gosto de falar como hoje me sinto bem, uma mulher feliz, realizada".

Hoje, tomar o café, fazer uma oração e conversar com as plantas tem outro significado para ela. "É dar valor no melhor que a gente tem na vida, o amor, a fé e a saúde. E toda vez que vejo minha casa cheia me emociono, porque não há coisa mais valiosa no mundo do que a família da gente".

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Altar para Nossa Senhora de Caacupé, padroeira do Paraguai e guardiã da casa de dona Célia. (Foto: Paulo Francis)
Altar para Nossa Senhora de Caacupé, padroeira do Paraguai e guardiã da casa de dona Célia. (Foto: Paulo Francis)
"Não há coisa mais valiosa no mundo do que a família da gente". (Foto: Paulo Francis)
"Não há coisa mais valiosa no mundo do que a família da gente". (Foto: Paulo Francis)
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