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Comportamento

Como um ansioso enlouquecido, em plena crise, encara uma viagem de avião?

Elverson Cardozo | 26/04/2015 07:56
Como um ansioso enlouquecido, em plena crise, encara uma viagem de avião?

Estou quase convencido de que não existe situação pior para um ansioso do que viagem de avião. Não sei se é só comigo, mas o negócio é tenso. A sorte é que o medo não me paralisa, mas compro a passagem com a certeza de que serei uma das vítimas do pior desastre aéreo da humanidade.

Para não ficar louco e nem morrer de ansiedade (porque isso mata, tá?), tento bloquear os "pensamentos catastróficos" (aprendi o termo com a psicóloga e agora vivo falando isso rs). É difícil, mas dá certo com muito esforço.

Dá certo até o dia do embarque e até o momento de entrar na aeronave, sentar na poltrona e se deparar com aquele folheto explicativo, de normas de segurança, que deixa claro a importância do cinto e, entre outras coisas, a função da poltrona flutuante em caso de queda na água.

Eu sempre leio aquilo e fico mega nervoso, mas daí, teimoso, leio de novo, guardo, tiro novamente do treco de guardar e, releio outra vez. Parece um ritual... de despedida. É bem tranquilizante saber que, em caso de queda, você não vai se desprender da poltrona linda, fofa e flutuante, né? Olha que forma digna e especial de morrer.

Não bastasse isso, que já me deixa branco de medo, tem o momento das comissárias irem ao corredor repassarem as instruções para o vôo. Gente, não dá! É sério! Não dá! Eu nem gosto de olhar porque é capaz de me dar um ataque.

Acabo olhando porque acho o momento bem engraçado, apesar de desesperador. Com a naturalidade e a elegância de sempre, elas falam que "em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente", como se estivessem dizendo: "Aceita água, Senhor? Com gelo?"

Vontade de dizer: "Ei, moça, em caso de despressurização, vou ter um treco e morrer só de ver a máscara caindo". Diante de uma frase assim, a maioria, imagino, faria cara de paisagem. Faz parte do treinamento, certeza.

Tem, ainda, o aviso das saídas de emergência, que me deixa ainda mais angustiado. Por último, depois de tudo isso, é que vem o "tenham todos uma ótima viagem". Adianta muito, né? Mas a tortura gerada pela minha ansiedade não termina aí.

A decolagem é um momento crítico. Me seguro para não berrar: "É agora que eu morro!" Depois que a aeronave estabiliza, até consigo manter a tranquilidade, que só é abalada de novo quando o comandante resolve dar aqueles avisos de turbulência, sempre com muita calma. Aí não tem jeito. O coração dá uma leve parada.

A aterrisagem é outro parto. O desembarque é a salvação e o banheiro do aeroporto o primeiro destino para ver se, na calça, não ficou nenhum "vestígio de medo" gerado pela viagem. A volta é outra história, sempre traumática.

*Elverson Cardozo é repórter do Lado B e também criou o blog Eu Ansioso.

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