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Comportamento

Conhecido como doido que jogava pedras, Enxadinha é lenda na Mata do Jacinto

Martinho Vargas Ribeiro ficou conhecido no bairro devido aos problemas psiquiátricos, e por conta da bebida se metia em confusão

Alana Portela | 04/11/2019 08:21
Martinho Vargas Ribeiro, o Enxadinha sentado no balanço (Foto: Arquivo pessoal)
Martinho Vargas Ribeiro, o Enxadinha sentado no balanço (Foto: Arquivo pessoal)

Famoso de um jeito nada cordial, Martinho Vargas Ribeiro ficou conhecido por jogar pedras e colocar medo em moradores da Mata do Jacinto. Era como o "homem do saco" na região. Assim,  Enxadinha virou lenda em Campo Grande. “Era baixo, olhos claros, cabelos castanhos e falava ‘Me dá uma moedinha’. Tinha que dar alguma coisa, se não ele batia”, conta Márcia Souza. “Perambulou aqui por mais de 20 anos”, completa ela que é professora e mora no local há três décadas.

Ele morava na Mata do Jacinto, carregava uma enxadinha e gostava de beber. Tinha problemas psiquiátricos, porém não eram todos os moradores que entendiam. Quem recorda da história é a sua irmã, Maria Cristina Vargas. “Ele pegava a enxada e saia para carpir quintal de alguém, depois ia pra porta do bar, assim era sua vida. Voltava pra casa apenas para tomar banho, trocar de roupa. Precisava de tratamento, mas não queria tomar os remédios por conta da bebida”.

“Era meu irmão mais velho. Na infância, nunca gostou de brincar com a gente, era mais na dele. Lembro que gostava de fazer amizades e ir para a igreja”, relata Maria Cristina Vargas. Ela e Enxadinha moravam com mãe e outros irmãos. A família passou por poucas e boas, pois quase ninguém gostava da sua aproximação e até o agrediam para mantê-lo longe.

Enxadinha segurando um copo de cachaça na mão (Foto: Arquivo pessoal)
Enxadinha segurando um copo de cachaça na mão (Foto: Arquivo pessoal)

“A ambulância cansou de trazer ele. Só ficava sabendo que apanhava. Teve uma vez que bateram tanto, que quase o mataram. O deixaram desmaiado no chão e tivemos que levar para o hospital onde ficou internado alguns dias”, recorda.

Mesmo após tantas surras, Enxadinha continuou se metendo em confusões. “Muitos não o entendiam. Teve uma vez que estava num mercado e atacaram uma pedra que furou um dos olhos dele. Foi feio, chegou sangrando. A gente cuidava, mas meu irmão não aceitava ficar em casa. Não tinha jeito, e se trancasse ficava louco e quebrava tudo”, diz.

Enxadinha morreu há uns dez anos, após um acidente de carro perto da casa onde morava. Até hoje, conforme a irmã, ninguém sabe o que aconteceu no dia. “É um mistério, e ninguém sabe o culpado”.

A vizinha, Anedir Souza Moreira, que também convivia com Enxadinha acredita que o acidente foi maldade. “Ele bebia e deitava na rua, a gente tinha que sair dele. Acho que uma pessoa maldosa passou por cima”.

 

Maria Cristina Vargas lembra do irmão Enxadinha (Foto: Alana Portela)
Maria Cristina Vargas lembra do irmão Enxadinha (Foto: Alana Portela)

Ela relata que Enxadinha sempre estava em seu bar. “Conversava com ele, era de boa. Sempre tinha uma moedinha na mão para comprar uma canela, pois gostava de colocar na bebida. Não tenho do que reclamar dele, nunca me prejudicou”, lembra.

Entre as lembranças que tem do vizinho, Anedir fala de quando comprava a carne que ele vendia. “Ia aos mercados e pedia para vender as pelancas pra ele. Na época, eu tinha cachorro então pegava para dar de comer e também para ajudá-lo”.

Danielle Andrade dá risada ao recordar a lenda do bairro (Foto: Alana Portela)
Danielle Andrade dá risada ao recordar a lenda do bairro (Foto: Alana Portela)
Douglas de Souza à esquerda e Pascoal Fernandes à direita lembram das histórias de Enxadinha  (Foto: Alana Portela)
Douglas de Souza à esquerda e Pascoal Fernandes à direita lembram das histórias de Enxadinha (Foto: Alana Portela)

Na boca do povoEnxadinha era o assunto principal dos moradores. Poucos o conheciam realmente e se referiam a ele como o andarilho que caminhava nas ruas com enxada. Na época, causava pânico nas crianças e adolescentes. “Era um personagem que dava medo. De longe a gente já o via andando meio manco, aí alertava ‘Olha o Enxadinha’”, conta Douglas Souza.

Ele é professor, tem 32 anos, e mora no bairro desde que nasceu. Quando viu Enxadinha era adolescente e tem poucas lembranças daquele tempo. No entanto, comenta o que recorda. “Cresci ouvindo as histórias. Lembro que passava pela rua e o pessoal enxia o saco dele porque não era muito certo das ideias. Ficava alterado e jogava pedra”.

Pascoal Fernandes é dono de outro bar que Exadinha costumava ir. “Passava sempre aqui, era gente boa desde que não mexesse com ele. Vinha com uma enxadinha porque carpia quintal para conseguir dinheiro. Uma vez, estávamos em outro bar e aconteceu uma briga. Tinha um cara chato e ele bateu na cabeça dessa pessoa”.

Quem também conheceu a Enxadinha foi Danielle Andrade, que na época tinha 15 anos. “Dava medo em todos, sabíamos que tinha problemas mentais. Como já sabia da fama, ficava era longe. Andava perto da escola onde eu estudava e na saída, a gente ficava de olho pra não trompar nele”.

Hoje, aos 40 aos, ela trabalha como frentista e dá risada ao lembrar das histórias. Danielle ainda comenta que ele fez muita gente obedecer aos pais. “Tem mães que falam em chamar o Homem do Saco, aqui era o Enxadinha”, diz.

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