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Comportamento

De festa de separação a velório, lá se vão 27 anos de samba entre amigos

Desde 1992, os "meninos" do Mistura de Raça rodam pelos bares de Campo Grande

Alana Portela | 09/09/2019 07:25
Grupo Mistura de Raça, Edival Corrêa sentado, Edigar Corrêa em pé à direita, Carlos Miguel Salamene ao centro e Dilson Fernandes à esquerda (Foto: Kisie Ainoã)
Grupo Mistura de Raça, Edival Corrêa sentado, Edigar Corrêa em pé à direita, Carlos Miguel Salamene ao centro e Dilson Fernandes à esquerda (Foto: Kisie Ainoã)

O que Gilberto Lopes uniu, ninguém separa. Por isso, o grupo “Mistura de Raça” segue firme na ativa. “Pra nós é gratificante continuar. Sei que ele não queria que parasse a música, e se depender do grupo o samba nunca vai morrer. A gente continua por nós e por ele, que deixou um legado”, destaca Edival Corrêa ao falar do amigo Gilbertão, companheiro de criação do grupo, mas que partiu vítima de enfarto.

Aos 54 anos, Tissa, como e conhecido, lembra de 1992, quando ainda todos eram jovens, tocando pela cidade. “A ideia foi do Gilbertão, a gente se reuniu nos acertamos e começamos a se apresentar em diversos lugares. Viajamos também pelo Estado e até na Bolívia”, conta.

Logo no primeiro aniversário, o grupo trouxe para Campo Grande os meninos do “Pirraça”, que vieram direto do Rio de Janeiro para celebrar. Eram tempos de sonho de sucesso. “No ano seguinte veio o Grupo Raça, o mais popular do país na época”, comenta.

Edival Corrêa tocando tantan e cantando samba raiz (Foto: Kisie Ainoã)
Edival Corrêa tocando tantan e cantando samba raiz (Foto: Kisie Ainoã)
Carlos Miguel Salamene toca no grupo (Foto: Kisie Ainoã)
Carlos Miguel Salamene toca no grupo (Foto: Kisie Ainoã)

Tissa é paulista, mas sempre gostou de samba. Desde pequeno ouvia o ritmo raiz ao lado da mãe. Quando veio para Campo Grande, descobriu que tinha uma escola de samba no bairro José Abrão e foi conferir. Por lá, conheceu o Gilbertão, que propôs montar um grupo. “Fomos nos conhecendo no samba”.

De lá para cá, a vida de músico rendeu muitas histórias, principalmente, no Mistura de Raça. “Já teve vez de tocar em festa de separação de uma amiga nossa. Outra situação inusitada é que também tocamos em um velório em 1994. Era avó de um ex-integrante do grupo e nossa amiga. Gostava do nosso samba, fomos alegrar”, lembra Tissa.

O grupo já passou por três mudanças. Da primeira formação, ficaram Tissa e Edgar Corrêa. Depois entrou Dilson Fernandes, conhecido por Dunga do banjo. “Somos heróis aqui por manter o samba raiz na terra do sertanejo”, destaca.

No repertório, o que não pode faltar são músicas de Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e até de Benito de Paula. Mas o grupo também assina canções. “Estamos preparando 16 músicas autorais para gravar o nosso primeiro CD”, falou.

Dilson Fernandes é o Dunga do banjo (Foto: Kisie Ainoã)
Dilson Fernandes é o Dunga do banjo (Foto: Kisie Ainoã)
Sentados em torno de uma mesa, o Mistura de Raça se apresenta (Foto: Kisie Ainoã)
Sentados em torno de uma mesa, o Mistura de Raça se apresenta (Foto: Kisie Ainoã)
Edgar à esquerda ao lado de Gilbertão (Foto: Arquivo pessoal)
Edgar à esquerda ao lado de Gilbertão (Foto: Arquivo pessoal)

Tragédia - O grupo estava indo bem, fazendo sucesso por Mato Grosso do Sul e participando de festivais internacionais. Contudo, há cerca de três anos, uma tragédia aconteceu. “Estávamos nos preparando para tocar. O show era às 23h, mas umas horas antes o Gilbertão passou mal e enfartou. O evento era aqui em Campo Grande. Mas ele morreu horas antes”, recorda Edgar Corrêa, 62 anos.

Ele se divide entre a construção civil e o samba aos finais de semana, tocando o pandeiro. “O grupo é minha vida. O Gilbertão era meu primo e o ritmo vem de gerações. Meus pais já participavam de uma escola de samba, foram fundadores. Hoje temos a escola Cinderela no conjunto José Abrão, que era do meu primo Gilbertão”.

Outro membro que faz parte da trajetória do grupo é o Dilson Fernandes, mais conhecido como Dunga do banjo, apesar do sangue paraguaio. “Tenho 15 anos de casa. O engraçado é que sou de família paraguaia, então, enquanto meus pais ouvem polca paraguaia, eu fico no samba”, brinca. Ele recebeu o convite do Tissa e recordou de uma época marcante. “Tocamos por cinco anos no Horto Florestal, era o point”.

Carlos Miguel Salamene, 50 anos, foi convidado para entrar no grupo logo que começou. No entanto, como já fazia parte de outra equipe, recusou o convite. “O Gilbertão me conhecia e tinha me chamado. Sempre acompanhei o trabalho deles, mantive a amizade e há dois anos entrei”.

Nome - São 27 anos de muita alegria e samba no gogó. O nome “Mistura de Raça” surgiu por conta de miscigenação da equipe. Tem o Dunga que é descendente de paraguaios e Edgar que é filho de árabes.

No ano passado, os meninos gravaram a primeira música autoral “Pedra do Morro” em homenagem a Gilbertão.

No dia 15 deste mês uma festa vai comeorar as quase 3 décadas de história. O evento será no Quintal do Samba, localizado na rua Santa Dorotéia, nº 358, na Vila Carvalho. Os ingressos para comemorar com os sambistas variam de R$5,00 a R$15,00. O show começa às 17h.

Gilbertão está na frente, do lado direito com os braços levantado, junto com os integrantes que estão e os que já passaram pelo grupo (Foto: Arquivo pessoal)
Gilbertão está na frente, do lado direito com os braços levantado, junto com os integrantes que estão e os que já passaram pelo grupo (Foto: Arquivo pessoal)

Bar - O grupo se apresenta há um ano num bar “Espinho do Gordinho” da Vila Jacy e tem fã que vai até o local todos os sábados para ouvi-los tocar. O comerciante, Pedro Moura, 51, mora no bairro Universitário, mas faz questão de sair de casa aos finais de semana para curtir aquele sambinha. “Tem quatro meses que venho aqui por causa do grupo. Eles tocam o samba raiz, as músicas antigas. Adoro quando cantam Raça Negra”, disse.

O técnico de enfermagem, Wanderlei Benites, 52, também gosta do estilo musical. “Sou do Leblon, mas venho aqui para lazer. O horário do samba é sábado depois do almoço. Gosto quando eles cantam as músicas do Zé Aragão”.

A dona de casa, Solange Alves, 38, esteve no bar com a família. Ela é do Aero Rancho, mas conhece o grupo há anos e acompanha a trajetória. “Cresci ouvindo samba. Morava na mesma rua que um deles e fui aprendendo a gostar do estilo. Aprendi a dançar com eles”, finalizou.

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Pedro Moura contou que gosta do samba raiz (Foto: Kisie Ainoã)
Pedro Moura contou que gosta do samba raiz (Foto: Kisie Ainoã)
Wanderley Benites ouve samba nas horas de lazer (Foto: Kisie Ainoã)
Wanderley Benites ouve samba nas horas de lazer (Foto: Kisie Ainoã)
O grupo se apresenta aos sábados no bar "Espetinho do Gordinho" na Vila Jacy (Foto: Kisie Ainoã)
O grupo se apresenta aos sábados no bar "Espetinho do Gordinho" na Vila Jacy (Foto: Kisie Ainoã)
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