ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  23    CAMPO GRANDE 24º

Comportamento

De Getúlio a Lava-Jato, Laerte jura que pé de caju conta trama política do País

Paula Maciulevicius | 31/08/2016 07:03
Seu Laerte descrevendo tudo o que a natureza lhe mostrou quanto à política. (Foto: Marcos Ermínio)
Seu Laerte descrevendo tudo o que a natureza lhe mostrou quanto à política. (Foto: Marcos Ermínio)

O Brasil, seus três poderes e a corrupção. Do Executivo, Legislativo e Judiciário até o "braço" da Lava-Jato. Os galhos do cajueiro do quintal de uma casa, no Jardim Paulista, contam a história da política. Pelo menos é isso que jura seu Laerte, hidrometrista de 87 anos, que há quase quatro décadas carregou uma mudinha do pé de caju para os fundos de casa.

"Tinha um amigo que eu ajudava a fazer a casa dele nos fins de semana e lá tinha uma mudinha, desse tamainho, que ficava entre a casa dele de madeira na divisa com outro terreno e a gente batia a perna no cajueiro, na hora de passar com os materiais", recorda Laerte Young. A barba longa não é aparada há quatro anos, em homenagem a quem ele atribui como único "mártir" do País, Tiradentes. 

Só pelas expressões, já dá para imaginar o quanto de imaginação e história tem Laerte. De tanto esbarrar, ele resolveu pedir para o amigo o pezinho da árvore como presente. A resposta foi positiva e entre o fim de 1979 e o início de 1980, o caju ganhou casa nova: o quintal no Jardim Paulista.

Até o tiro de Getúlio Vargas está no tronco do cajueiro. (Foto: Marcos Ermínio)
Até o tiro de Getúlio Vargas está no tronco do cajueiro. (Foto: Marcos Ermínio)
Dos três troncos surge a lava-jato. (Foto: Marcos Ermínio)
Dos três troncos surge a lava-jato. (Foto: Marcos Ermínio)
Como era no início e depois de 30 anos. (Foto: Marcos Ermínio)
Como era no início e depois de 30 anos. (Foto: Marcos Ermínio)
Por vezes ele se questionou e pensou se não estava louco. (Foto: Marcos Ermínio)
Por vezes ele se questionou e pensou se não estava louco. (Foto: Marcos Ermínio)

"Era só um troncozinho com raiz e três brotos. Ela cresceu, cresceu, um galho desgarrou, ficou em cima da cerca e foi de onde eu tirei. Mas ao invés de ficar uma cicatriz, ele fechou", descreve. Ao chegar aos 2m de altura, foi a vez dos galhos que sobraram, ganharem o chão. "Esse cresceu e quando chegou ali, começou a cair para lá, pensei: 'não vai dar, vou tirar fora esse também'". A história é discorrida entre tantos detalhes que se deixar, seu Laerte transforma a entrevista em visita de horas.

Numa das rajadas de vento que ele acompanhou, é que vem à memória a cena surreal. "Você pega uma árvore e o movimento da galhada é meio desconforme. Eu olhei assim e tive a impressão que a copada toda fazia um movimento harmônico", descreve. Há quatro anos, o último galho foi cortado e o dono teve de passar veneno para afugentar cupim e formigas. "Porque estava na iminência de um vento mais forte derrubá-la e danar o telhado todo", justifica.

A revelação da "árvore-política" surgiu ali. "Quando era pequenininha, eram três galhos. Tirei o primeiro, o outro lá e ela repetiu. Quando ficaram os três galhos, me veio uma ideia assim na cabeça: 'gozado, os poderes da república são três: Legislativo, Executivo e Judiciário. Em Brasília tem a Praça dos Três Poderes. Eu estou contando aquilo que se passou comigo, os fatos, depois vocês examinam", ameniza. 

E antes que dê tempo de a gente fazer qualquer comentário, ele emenda: "mas essa árvore, parece que foi prodígio divino ou da natureza, porque ela repetiu o fenômeno. Passaram 30 e tantos anos e por que isso me aconteceu? Comecei a me questionar se eu estava ficando louco, de me questionar, explicar e querer entender", reproduz.

À época, ouviu a esposa dizer para ele não esquentar a cabeça com as coincidências da natureza. Do caju ter voltado a forma "primitiva". E de resposta, disse que já tinha se incomodado o suficiente com o País e toda a corrupção. No contexto de Brasil, três poderes e a "corja de ladrões" que ele afirma que assola a política, é que surgiu a ideia de então nomear os galhos. 

De onde se olha, enxerga os dizeres nas placas. (Foto: Marcos Ermínio)
De onde se olha, enxerga os dizeres nas placas. (Foto: Marcos Ermínio)

"De onde surgiu as oportunidades dos corruptos? Do próprio governo. Eu entendi que a árvore era um prodígio e eu tinha que fazer isso aqui", explica.

A árvore tem placas com os nomes Executivo, Legislativo e Judiciário e do galho do primeiro poder, surge como um dos braços, a Operação Lava-jato. "É loucura, me pergunto? Não, são fatos. Toda estrutura foi feita pela natureza. Ela fez isso e brotou para eu mostrar", reforça.

Até o tiro que Getúlio Vargas deu no próprio peito, em agosto de 1954, está simbolizado ali. Abaixo da placa, uma tinta vermelha com fundo branco, faz referência ao suicídio do presidente. A árvore fica na Rua Senador Ponce, quase esquina com a Quintino Bocaiúva. Seu Laerte convida, quem quiser, pode ir lá tirar fotos e até ouvi-lo falar. "E se alguém quiser contestar, eu vou pegar os livros que estão aqui", diz todo sério. 

Vale a visita para conhecer seu Laerte, sua barba e a árvore da política. 

Curta o Lado B no Facebook.

Essa foi uma sugestão de pauta da fotógrafa, amiga e leitora do Lado B, Raquel Ovelar Rodrigues. 

Fachada da casa. Árvore está aberta para visitação. (Foto: Marcos Ermínio)
Fachada da casa. Árvore está aberta para visitação. (Foto: Marcos Ermínio)
Nos siga no Google Notícias