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Comportamento

De pedreiro a doméstico, Alan se vira sem drama e é elogiado pela patroa

Paula Maciulevicius | 20/07/2015 06:35
Entre os afazeres de casa, Alan lava louça, roupa, limpa, passa e cozinha. (Foto: Vanessa Tamires)
Entre os afazeres de casa, Alan lava louça, roupa, limpa, passa e cozinha. (Foto: Vanessa Tamires)

Alan lava, passa, cozinha e limpa a casa. A rotina de empregado doméstico de segunda à sexta-feira é a mesma há três anos. Não muito comum por aqui, Alan trocou a construção civil para ser empregado numa casa com cinco pessoas e um cão, no bairro Vila Bandeirantes, em Campo Grande.

Depois de perguntar o nome completo e idade, de profissão, o rapaz acumula várias. Uma resposta à altura de quem se vira como pode. “No momento empregado doméstico, mas sou sushiman, cozinheiro, também mexo com pintura de vez em quando e montador de móveis”, enumera Alan Dias de Souza, de 35 anos.

O curso para ser sushiman foi feito por indicação da patroa Simone, a dona da casa. Exatamente o que o trouxe para as faxinas diárias, Alan não sabe explicar. Um dos motivos que ele cita é que sempre trabalhou com o que apareceu por não ter estudado tanto. O empregado deixou a escola ainda na terceira série.

"As pessoas ainda olham estranho", diz o empregado doméstico. (Foto: Vanessa Tamires)
"As pessoas ainda olham estranho", diz o empregado doméstico. (Foto: Vanessa Tamires)

“Os patrões tinham contratado um mestre de obras para umas construções que eles estavam tocando, ele deixou o serviço, eu fiquei. Depois veio uma pintura nessa casa, eu vim fazer. Aí eles ficaram sem empregada, a Simone me fez o convite e eu pensei ‘vou encarar’”, explica.

Se as pessoas olham estranho para ele? A resposta é sim, pelo menos em relação aos olhos de “fora”. “As pessoas de fora estranham no começo, acho que veem um certo tipo de preconceito”, acredita.

De roupas normais, como bermuda e camisa, o material de trabalho acaba ficando restrito ao avental. Na casa, Alan diz que o que mais gosta de fazer é ir para a cozinha, por onde a rotina geralmente começa. “Primeiro o café, chego na cozinha, depois vou nas salas, olho os banheiros, subo para os quartos, volto pra cozinha de novo...”, descreve.

Tuca, a vira-lata que Alan trouxe para a casa de presente. (Foto: Vanessa Tamires)
Tuca, a vira-lata que Alan trouxe para a casa de presente. (Foto: Vanessa Tamires)

São oito cômodos, mais os banheiros e a área dos fundos. Na sua cola, Alan tem “Tuca”, a vira-latinha que ele mesmo trouxe de presente para o filho caçula da casa. Filhote da cadela do empregado, ela é um grude com Alan.

“O que é mais puxado numa casa? É difícil porque eu vim da construção civil”, afirma Alan. De trabalhos mais delicados, lavar roupas de mão vem em primeiro lugar.

Simone, a patroa, é uma japonesa simpática e cheia dos sorrisos. Na hora de falar do funcionário então, aí é que não tem economia no riso. “Não é muito natural empregado por aqui não, por isso que as pessoas estranham”, observa Simone Maiuni Higashi Kamimura, de 43 anos.

Quando da obra Alan veio trabalhar em casa com serviços de pintura e mudança, ela resolveu arriscar. “Eu disse que precisava de uma secretária doméstica, perguntei se ele queria aprender e fui ensinando. Hoje ele faz tudo”, diz.

Simone e a casa toda sabem que eles são quase que “exceção”. “Eu mesma nunca vi homem, mas acho que é porque os próprios homens acham que não servem pra isso e não se lançam no mercado”, finaliza.

Alan ao lado dos patrões, Jairo e Simone Kamimura. (Foto: Vanessa Tamires)
Alan ao lado dos patrões, Jairo e Simone Kamimura. (Foto: Vanessa Tamires)
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