ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MAIO, SEXTA  10    CAMPO GRANDE 24º

Comportamento

Depois de viver na dureza, eles vão ter salário de 15 mil

Ângela Kempfer | 12/12/2012 08:10
Coringa e Chocolate, dois novos vereadores de Campo Grande.
Coringa e Chocolate, dois novos vereadores de Campo Grande.
Coringa e a esposa, na porta da casa simples, no bairro Moreninha 3. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Coringa e a esposa, na porta da casa simples, no bairro Moreninha 3. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Em menos de um mês tudo vai mudar na conta corrente de Coringa e Chocolate, dois dos 29 vereadores eleitos em Campo Grande. Vão passar dezembro na dificuldade, com salário de simples mortais, e em 20 dias sobem para a posição de privilegiados, com dinheiro todo mês de fazer inveja.

A reportagem é sobre dois caras que terminam 2012 na dureza e vão começar 2013 com R$ 15 mil na conta todos os meses.

Em uma casa de sala, quarto, cozinha e banheiro, na Moreninha 3, Coringa (ou Ademar Vieira Júnior) já sabe bem como vai gastar o salário. O primeiro plano assumido é ampliar o imóvel. “Quero construir mais um quarto e transformar o nosso em escritório”, explica.

Carro novo não está no planejamento, vai ficar mesmo com o Uno ano 2007. Mas a mãe de 70 anos deve ganhar um plano de saúde e a partir de 2013 ele também promete ser um novo pai.

Com super salário de vereador, aos 34 anos de idade, ele pretende matricular as filhas em uma escola de inglês, mas não vai retirar as duas do ensino público, ali mesmo nas Moreninhas, bairro onde cresceu. “Acho que a gente tem a obrigação de fortalecer a escola”, justifica.

A mais velha, Geovana, de 12 anos, também terá condições financeiras para um sonho: estudar balé.

Coringa diz que hoje movimenta R$ 4 mil por mês, mas ele mesmo jura só ficar com R$ 1 mil, remuneração como professor de futebol. “Os outros R$ 3 mil vão para projetos sociais com a garotada e a ambulância que eu comprei para transportar o povo aqui do bairro”.

Com R$ 1 mil, consegue ajudar a ex-mulher nas despesas com as filhas e sustentar a nova casa. Há 3 anos ele é casado com Cris, de 26 anos. E os dois já combinaram, vão entrar em uma universidade. “É a nossa prioridade. Eu vou fazer Direito e ela Administração”.

Ele já fez as contas. Sabe que vai perder cerca de 10% para a Receita Federal e outros 10% vai doar à igreja. “Sou evangélico e decidi aumentar o dízimo. Só não sei se vou repassar tudo para uma só, ou distribuir para várias”, explica.

Apesar do montante na conta parecer muito, Coringa se compromete a destinar a maior parte aos eleitores e o que não falta é gente procurando ajuda. “A maioria pede emprego, mas alguns aparecem para pedir festa de aniversário, um bolinho”, conta.

O vereador eleito pensa em ser deputado e chegar até o comando da prefeitura. Por isso sabe que vai ter de investir na comunidade. “Vou fazer o que eu sempre fiz. Se R$ 15 mil fossem para ficar eu sentado lá na Câmara, seria um salário absurdo, mas para vereador que ajuda a comunidade, uns R$ 10 mil vão só com o povo”, argumenta.

No quintal, tem uma mostra do que faz dele um sujeito tão popular. Duas cadeiras de rodas, equipamentos que costuma distribuir. O português também é complicado, principalmente na hora de ordenar plural e singular. Coringa diz não se incomodar. “Falo como o povo daqui. Eles me entendem, então é o que vale”, justifica.

A coincidência é que ele assume o cargo ao lado de um amigo das antigas: Chocolate. Quando os dois eram mais jovens, disputaram o Grêmio Estudantil da escola. Coringa disputou como presidente e o amigo como vice e os dois venceram.

"Temos histórias diferentes. Eu tenho uma série de lutas aqui na comunidade, fui presidente da associação de moradores, é bem diferente", faz questão de deixar claro.

Chocolate, de cara limpa (Foto: Luciano Muta)
Chocolate, de cara limpa (Foto: Luciano Muta)
No dia da vitória, vestido do personagem que ficou conhecido na TV.
No dia da vitória, vestido do personagem que ficou conhecido na TV.

Com só 32 anos e R$ 15 mil na conta a partir de fevereiro, as prioridades de Chocolate, ou Waldecy Batista Nunes, também começam por uma faculdade de Administração. "Nunca tive dinheiro para bancar uma", justifica.

Na lista estão ainda quitar o financiamento do carro (modelo JAC J3) e comprar uma casa (a dele é alugada), “mas não em bairro chique”, garante. “Gosto muito da região do Aero Rancho e do Pioneiros”.

A pensão do filho também vai subir consideravelmente e o ex-palhaço, que sempre dependeu de posto de saúde, pretende por fim à experiência providenciando plano de saúde para a família.

Para Chocolate, o ano financeiro foi bem complicado. Nunca ganhou mais de R$ 2 mil, apesar da rotina de trabalho de 12 horas por dia, além das apresentações pelo Estado como palhaço.

Há 6 meses vive de algumas economias e Seguro Desemprego porque em julho passado, depois de 12 anos no programa de TV de Maurício Picarelli, foi demitido e passou a ser mais um desempregado.

Quando venceu a eleição para vereador, a primeira notícia era de salário de R$ 9 mil. Imagine então como foi para ele saber que a Câmara aprovou reajuste de 61,9% e o valor subiu para R$ 15 mil. “Acho que não precisava. Mas já que aprovaram, amém, graças a Deus”.

Para quem trabalhou a vida toda, cresceu em família de 6 irmãos, filhos de gari da prefeitura e de doméstica, conquistar um empregão desses é de transformar tudo.

“Mas eu senti a pobreza na pele e por isso sei que como atender as pessoas, melhorar as coisas. Todos pensam que eu cai de paraquedas na Câmara, mas sempre fui da comunidade, ralei muito e tenho muito para fazer pelas pessoas”, comenta.

Nos siga no Google Notícias