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Comportamento

Depois que a esposa morreu, Lino decidiu viver no asilo, com apenas 57 anos

Thailla Torres | 09/10/2016 08:42
Lino acabou ficando no asilo mais tempo do que imaginava, mas garante que é um homem feliz.(Foto: Fernando Antunes)
Lino acabou ficando no asilo mais tempo do que imaginava, mas garante que é um homem feliz.(Foto: Fernando Antunes)

Para Lino, que vive em um asilo há 10 anos, o caminho para ver o tempo passar foi colocar na cabeça que vive em férias prolongadas. Quando a esposa morreu e pareceu injusto delegar aos filhos a responsabilidade de um tratamento contra o reumatismo, o jeito foi dar adeus a um ciclo e começar uma nova vida ali dentro.

Ele chegou ao Asilo São João Bosco com apenas 57 anos, passando quatro deles na cadeira de rodas. Hoje vive amparado pelas muletas, esbanja sorriso e afirma que nunca viu problema em morar em um local que para a maioria é sinônimo de abandono.

Filho de pai brasileiro e mãe paraguaia, Lino Lima nasceu em Amambai e passou a vida morando em fazendas da região. Lembra que ficou viúvo depois de 15 anos, quando a esposa dava à luz ao sexto filho.

Depois disso arrumou outra companheira e continuou trabalhando para criar os filhos. Após muitos anos morando em fazendas, veio a doença. "Lembro que estava trabalhando perto de um córrego próximo e eu estava arrumando uns postes. Eu tive que sentar para tomar um tereré, mas não sei o que aconteceu, só não senti mais a minha perna. Não era dor, eu só não sentia...", descreve.

Ele faz de tudo para aproveitar o tempo e ocupar a mente. (Foto: Fernando Antunes)
Ele faz de tudo para aproveitar o tempo e ocupar a mente. (Foto: Fernando Antunes)

Lino foi trazido pela família a Campo Grande e diagnosticado com reumatismo, além de problemas na coluna. Na época, os filhos, que já moravam em Ponta Porã, não teriam condições de cuidar do pai. Pensando na família, ele aceitou a ideia de viver no asilo durante o tratamento.

O tempo passou e ele acabou ficando ali mais do que imaginava. No entanto, também não fez esforço para sair. "Não queria atrapalhar a vida dos meus filhos, eles já trabalham, ninguém fica em casa, eu ia acabar ficando sozinho e aqui não...", afirma.

De jeitinho tímido e sotaque guarani na hora de falar, Lino demonstra afeto pelo lugar nas palavras e no sorriso. "Aqui é bom, cuidam da gente, tem apoio e para mim é bom essas férias longas que eu tenho aqui. A gente conversa e se diverte", sorri.

Bem arrumado, de camisa e calça social, Lino chama atenção de quem vê a disposição dele fazendo de tudo para se manter ativo. Acorda cedo, conversa com os amigos, ajuda a empurrar a cadeira de rodas de alguém e no meio da manhã vai para o pátio varrer as folhas por vontade própria. 

"Trabalhei em fazenda e pegava muito no pesado. Difícil pra gente ficar aqui sem fazer nada. Vai dando um nervoso e é um jeito de se distrair. Isso daqui é leve pra mim", garante.

Assim como não perdeu a disposição para o trabalho, também não se esqueceu do amor. "Eu tive uma namorada aqui dentro, chamava Aparecida", lembra.

Assim como a saudade de namorar, Lino sente falta das pessoas que por consequência acaba vendo partir. "Aqui faço muito amigos, mas já vi muita gente morrendo. A gente se apega sabe e eles vão embora. Faço questão de ir até no enterro, mas todo dia a gente lembra de alguém", desabafa. 

O fato é que mesmo olhando pra trás, o que ele não faz é deixar de seguir. Mas pelo olhar, se entende que o coração também nunca deixou de esperar. "Eu não quero atrapalhar ninguém, mas meu filho que mora em Goiânia disse que está arrumando uma casa boa e vai me levar pra Ponta Porã. Não sei quando, mas ele diz que vem...", acredita o pai que não perde o sorriso, mas deixa escapar um olhar que revela saudade da família e um vazio que não há tempo capaz de preencher.

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Lino não perde o sorriso, mas deixa escapar um olhar que revela a saudade da família e um vazio em que não há tempo capaz de preencher. (Foto: Fernando Antunes)
Lino não perde o sorriso, mas deixa escapar um olhar que revela a saudade da família e um vazio em que não há tempo capaz de preencher. (Foto: Fernando Antunes)
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