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Comportamento

Depois que mulher se aposentou, Moacir trocou de vez o carro por bicicleta

Paula Maciulevicius | 21/08/2016 07:05
Seu Moacir e sua bicicleta de cestinha seguem firme e forte pelas ruas da cidade. (Foto: Fernando Antunes)
Seu Moacir e sua bicicleta de cestinha seguem firme e forte pelas ruas da cidade. (Foto: Fernando Antunes)

Saindo da garagem, antes das 2h da tarde, Moacir segue sorridente numa bicicleta Caloi já surrada por tantas pedaladas. Destino? O trabalho. Cearense, o sotaque não nega e o sorriso também não. Para quem pergunta, seu Moacir responde que depois que a mulher se aposentou, ele resolveu aposentar também o carro e agora só anda de bicicleta.

São 10 quilômetros por dia, incluindo ida e volta na parte da manhã e o mesmo trajeto à tarde. Administrador de empresas, ele segue da Vila Sobrinho até o Centrão da cidade, onde a Caloi tem até sala como "garagem".

Entre idas e vindas pela transferência do trabalho, a bicicleta foi comprada em 1994, para a filha, quando a família morava em Fortaleza. Nos anos 2000, ao voltar para Campo Grande, a "magrela" veio junto e a vontade de adotá-la, de vez, como meio de transporte, também.

Bicicleta entrou no lugar de carro em março de 2014, depois que mulher se aposentou. (Foto: Fernando Antunes)
Bicicleta entrou no lugar de carro em março de 2014, depois que mulher se aposentou. (Foto: Fernando Antunes)

"Eu sempre falava que quando a minha mulher se aposentasse, eu ia usar a bicicleta", conta Moacir Matias de Souza, de 58 anos. Em março de 2014, o sonho se realizou. A esposa, dona Lúcia, com quem ele dividia o trajeto de casa até o trabalho na Blazer, se aposentou.

"Sempre gostei de bicicleta. Sou a favor de economizar a poluição, o bolso e aproveitar e fazer exercício", argumenta.

Se ele não tem medo do perigo de andar nas vias? A resposta antes do não serve de alerta. "É só vim devagar, devagarzinho..." Moacir estudou as rotas e segue pelas ruas de menor movimento. Quando não dá e o caminho lhe obriga, pedala com muito cuidado.

"Só pego aqui na 13 e vou até a ciclovia da Afonso Pena, chegando na Casa da Indústria, subo na rua transversal até a ciclovia da Via Morena, dali entro da Avenida América e vou por dentro, até a Tamandaré", descreve. Em todas as vias, seu Moacir faz questão de não andar contramão. "Para ter sempre razão", completa.

O segredo da vida e das pedaladas de Moacir, é não ter pressa. (Foto: Fernando Antunes)
O segredo da vida e das pedaladas de Moacir, é não ter pressa. (Foto: Fernando Antunes)

A esposa trouxe um pouquinho do que é o ar de tranquilidade da aposentadoria ao seu Moacir. Aposentar do trabalho, ele diz que não pensa tão cedo, mas já resolveu desacelerar na vida. "O segredo é não ter pressa", repete como se fosse um mantra. E a frase vale não só para as pedaladas. "Moto e carro tem pressa, mas bicicleta não pode passar por cima de todo mundo", ri. 

De protagonista a espectador, hoje o administrador assiste os escândalos no trânsito sem se deixar levar. Nem buzina a Caloi tem. "Eu venho nessa Afonso Pena e o pessoal buzina demais, na sinceridade, não que eu esteja tão velho, mas não tenho mais paciência. Venho vindo e só vendo barbeiragem, o povo todo irritado, buzinando e olha aí do que eu estou me livrando?" diz para si mesmo. 

Na cestinha da frente, Moacir carrega os documentos. E tanto de casa quanto do trabalho, programa sempre o horário que precisa sair para chegar a tempo. O deslocamento para os 2,5 km de cada trecho leva de 20 a 30 minutos, o que nas contas daria uma velocidade de 5 a 7,5 km/h. 

E fora o trânsito o que ele mais gosta na bicicleta? "A liberdade e a satisfação sempre. Eu posso até me aposentar do trabalho, mas não da bicicleta. Fiz um trato: mesmo com chuva eu venho à pé. Se eu me molho? Não, eu uso guarda-chuva ué", explica.

Sobre o capacete na hora de pousar para a foto, ou melhor a falta dele, seu Moacir brinca com a origem. "Até hoje não fizeram proteção para o tamanho da minha cabeça. Sou nordestino. Mas é uma brincadeira, claro que tem, eu que falo brincando".

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