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Comportamento

Do sexo à hora do parto, pais falam das vivências e tiram dúvidas em bate-papo

Júnior decidiu conversar com outros pais depois de uma experiência bem constrangedora

Danielle Valentim | 08/11/2019 06:30
Pais de idades e dúvidas variadas. (Foto: Paulo Francis)
Pais de idades e dúvidas variadas. (Foto: Paulo Francis)

Pouco se fala sobre o papel do pai durante a gestação e o parto da esposa. Para tirar a figura de coadjuvante e se posicionar de forma ativa ao lado da mãe, pais se reúnem para conversar e tirar dúvidas a partir das próprias vivências. De forma descontraída, a roda de conversa “De Pai, Para Pai” já está no 9º mês e ganha cada vez mais participantes.

Na roda que acontece na Clínica Nascitá, os participantes expressam o desejo de acompanhar cada momento do parto. A cada encontro aproveitam o máximo para ficar por dentro. O encontro é mensal e, nesta semana, falou sobre “Como Se Preparar Para o Nascimento do Bebê”. O roteiro até existe, mas as dúvidas sempre mudam o rumo do bate papo.

O Lado B foi acompanhar a reunião de "papais" e descobriu que o coordenador da roda, João Clovis Dalbelo Júnior, de 42 anos, na verdade, é analista de administração de pessoal. Toda a abordagem se desenvolve a partir de suas experiências. 

Mamães ficam em outra sala conversando e fazendo pinturas fofas. (Foto: Paulo Francis)
Mamães ficam em outra sala conversando e fazendo pinturas fofas. (Foto: Paulo Francis)

Enquanto os pais conversam num espaço da clínica, as mães vão pintando a barriga e desenvolvendo um bate-papo em outro. Júnior explica que conheceu as rodas de conversa quando a esposa, a doula Talita Dalbelo, 35 anos, estava grávida da filha caçula, hoje com quatro anos.

O encontro que participou com a esposa serviu para que ele fizesse algo totalmente diferente. “Nessa roda que eu e minha esposa participamos, estavam pais e mães juntos. Porém, numa altura da conversa a roda só serviu para as esposas “malharem” os maridos. Apontando os defeitos e as coisas que eles não faziam. Vi que isso não ajudaria. Decidi conversar, mas de pai para pai”, conta.

Júnior garante que quando o assunto envolve dúvidas mais técnicas as médicas da Clínica Nascitá participam. “As dúvidas que surgem durante as rodas são as mais diversas possíveis, mas a principal é sobre o que fazer durante o trabalho de parto. Com a ascensão da cesárea foi se perdendo muito da coisa natural, do momento da mulher, do parir. O que mais nós escutamos é que o problema começou quando colocaram a mulher deitada para parir, uma das piores formas. Acompanhando minha esposa percebemos que cada mulher vai parir de um jeito. E se você plastifica uma forma ideal, dificulta o parto. A gente tem de tomar muito cuidado com nossas atitudes durante o trabalho de parto para que não interfira no empoderamento da mulher”, explica.

Júnior decidiu conversar "De pai para pai", depois de uma experiência nada agradável. (Foto: Paulo Francis)
Júnior decidiu conversar "De pai para pai", depois de uma experiência nada agradável. (Foto: Paulo Francis)

As mulheres costumam dizer que durante o trabalho de parto a mente vai à “partolândia”, ou seja, ficam em um mundo paralelo. “Nosso principal objetivo é fazer com o que o pai saiba os momentos de tomar uma decisão. Porque, efetivamente, quem toma as decisões no trabalho de parto é o homem. Ficou muito claro que em alguns momentos durante o trabalho de parto da Thalita ela não respondia. Elas se interiorizam de forma que eles escutam, mas não respondem naquele momento”, pontua.

O estudante Matheus Henrique Fabricio Santos, de 23 anos, sempre quiser ser pai. Antes mesmo da gravidez da esposa, a funcionária pública Suzana Alves Paiva, de 33 anos, já pesquisava sobre o tema. O rapaz participou de todas as rodas de conversa e hoje pode comentar a respeito do que vivenciou.

O trabalho de parto durou 30 horas, mas diante da posição de Maria Alice Paiva Santos, hoje com quatro meses e dez dias, teve de evoluir para uma cesárea.

O estudante Matheus Henrique Fabricio Santos, de 23 anos, sempre quiser ser pai. (Foto: Paulo Francis)
O estudante Matheus Henrique Fabricio Santos, de 23 anos, sempre quiser ser pai. (Foto: Paulo Francis)

“Minha vontade de ser pai já vem de muito tempo. Eu acho que encontrar um momento de falar com os pais é fundamental. Porque a paternidade, não digo colocada em segundo plano, mas os pais acabam sendo coadjuvantes. Às vezes até a avó vem antes. Então esse processo de conversa foi fundamental, para eu entender o que mudaria durante a gestação. A principal dúvida que sanei foi a aprender a lidar com a ansiedade dela. O puerpério também dava medo, a depressão pós-parto, então aprendi a lidar e não passar mais ansiedade a ela. Eu acho que o parto humanizado não se resume ao nascer da criança, mas a todo o processo de contato, do envolvimento e da espera”, conta.

“Nos sentimos muitos frágeis na gestação. Fiquei bastante mexida e ter a presença do Matheus fez toda a diferença. Eu falo que ele gestou comigo. Ele quis se envolver e eu permiti que ele se envolvesse”, completa Suzana.

Casal buscou apoio psicológico para se ver longe do nervosismo. (Foto: Paulo Francis)
Casal buscou apoio psicológico para se ver longe do nervosismo. (Foto: Paulo Francis)

O casal Luciana e Rodrigo buscaram o apoio psicológico para se livrar do nervosismo de encarar um parto. Para ele, as rodas não os preparam para qualquer coisa, mas para a chegada do filho.

“É uma troca de experiência. Porque não são só pais de primeiro filho, às vezes são pais de segundo e terceiro filho. Meu maior medo é o nervosismo no dia do parto, porque minha maior preocupação é levar conforto para ela no dia. Desde o início a gente veio para adquirir conhecimento e confiança com a doula. É mais para trabalhar a parte psicológica. Cada dia que eu venho não é perdido, sempre é uma experiência nova. E fazemos de coração, porque estamos falando da chegada do nosso filho. Uma criança muito esperada e a gente quer voltar depois do nascimento para incentivar outros pais”, explica o servidor público, Rodrigo Leonardo Passarini, de 35 anos.

“O envolvimento dele eu não tenho nem como descrever, porque nossa médica e nossa doula sempre nos orientaram sobre o papel do pai no trabalho de parto, porque ele estando seguro e confiante do que eu quero, a probabilidade de conseguir o tão sonhado parto normal é maior”, finaliza a recepcionista Luciana Jesus Alves, de 30 anos.

As rodas já falaram sobre o temido puerpério, a recepção do bebê – conduzido por uma das médicas -, e até mesmo do tabu do sexo.

“Não cheguei a levar a relação sexual como tema principal, mas durante as conversas o assunto surge. Normalmente o receio maior do ato sexual é do homem. Isso acontece, porque a mulher está sentindo o que está acontecendo com ela, mas o homem, muitas vezes por falta de informação, acha que podem machucar o bebê. É lógico, que não pode acontecer durante o trabalho de parto ou quando a bolsa já estiver rompida. Mas os médicos, inclusive, recomendam que nas últimas semanas, que se pratique o ato sexual, porque o sêmen contém um hormônio que estimula o trabalho de parto”, comenta Júnior.

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