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Comportamento

Doar ou vender roupas é desapego mesmo ou só uma desculpa para descartar lixo?

Anny Malagolini | 18/02/2014 13:55
De acordo com psicólogo, se apegar ao material, é uma forma de preencher uma falta.  (Foto: Marcos Ermínio)
De acordo com psicólogo, se apegar ao material, é uma forma de preencher uma falta. (Foto: Marcos Ermínio)

A prática do desapego material, o “não” ao acúmulo, são ideologias recorrentes,  coisa da moda. Mas o desapego existe ou é uma forma de se livrar do que não tem mais uso? Donas de brechó, por exemplo, sabem que muitas vezes isso é só discurso para se desfazer de coisa velha, sem serventia.

Gilvania Maciel, de 44 anos, é proprietária de um brechó, e diz que fica evidente a venda de objetos usados com a intenção de se fazer dinheiro. Ela acredita, que até pode existir o desapego, mas na maioria das vezes, vender ou doar roupas é uma forma de jogar fora o que não tem uso. “Já peguei sacola com roupas velhas, e até roupa íntima furada. Isso não é desapego”, reclama.

Dona do “Brecharia”, Bruna Fagundes passa pela prova do desapego alheio diariamente, recebendo roupas para revender. Com tanto coisa velha pela frente, ela teve de estabelecer critérios para comprar as roupas e não virar ponto de descarte.

“Eu já explico o jeito que eu quero. Com sinal de usada não compro e aconselho a levarem roupas em um estado que a própria pessoa compraria. Não quero apenas um descarte do guarda-roupa”, explica.

Bruna aponta que a maioria é muito consumistas, pessoas que fazem “limpas” do guarda-roupa para comprar mais. Há muitas peças de grife, e sempre em bom estado. “Tem gente que precisa de dinheiro que faz a limpa. Vende e compra mais. Tem dó de doar, já que a roupa está nova. Não perder o dinheiro pago pela roupa”.

Uma das fornecedoras do brechó e a nutricionais Lais Lunardon, de 36 anos, que admite “Gosto muito do verbo 'comprar', e por conta disso, o guarda-roupa vive lotado, e para poder comprar mais, o jeito é se desfazer das peças". A funcionária de Laís é quem a avisa quando o guarda-roupa está cheio. "Ela percebe pela falta de cabides”, comenta.

A nutricionista explica que grande parte de suas roupas são vendidas ao brechó e às amigas, principalmente, as que não foram usadas e ainda estão com etiqueta. Mas ela também diz que doa o que pode às funcionárias. “Eu me sinto muito melhor com o desapego".

Para o psicólogo Fabrício Basso, o apego funciona como uma manobra de se lidar com a falta. “É o nome da interminável busca de preenchimento e dominação da falta”, resume.

Por conta disso, o desapego não é uma tarefa fácil, se tornou um exercício. “Se livrar do material seria o mesmo que se livrar do sentimento empregado a este produto” e completa “Por natureza, temos esta busca de preencher uma falta. O que seria possível, então, é trocar um 'dado' apego por outro, então, fica quase que impossível se desapegar destes produtos”. Fabrício sugere aos consumidores compulsivos que procurem ajuda psicológica para que encarem seu “real desejo”.

Ele lembra que o objeto só se torna importante porque um dia houve algum sentimento envolvido. Para ele, o valor emocional também conta, e querer se livrar quer dizer que está disposto a fazer transformações, sejam sentimentais, ou materiais.

Alguns brechós criaram critérios para não receber peças de descarte (Foto: Facebook)
Alguns brechós criaram critérios para não receber peças de descarte (Foto: Facebook)
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