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Comportamento

Dois anos depois, restou à mãe que espera justiça o vazio da morte do filho

Paula Maciulevicius | 02/01/2017 06:20
Andréia, a mãe de Vittor, sente como se tudo tivesse acontecido ontem. (Foto: Alcides Neto)
Andréia, a mãe de Vittor, sente como se tudo tivesse acontecido ontem. (Foto: Alcides Neto)

O final de ano nunca mais teve o significado de esperança para uma mãe de coração partido. O que se renova a cada dezembro que chega é a dor e o vazio de ver que a morte do filho não afeta ninguém além dela. Na véspera de Natal de 2014, o muro de um dos bangalôs da colônia de férias da ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande) caiu em cima de Vittor. O menino de 12 anos foi puxar a toalha que estava pendurada ali. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu na Santa Casa. 

"É complicado falar como mãe, porque a sensação que dá para mim é que foi ontem e é até difícil falar, sinceramente eu pensei que ia estar mais superada", desabafa a micropigmentadora Andréia Benites, de 40 anos.

Vittor era o filho caçula e com quem ela tinha maior afinidade. A família, como de costume, passava as festas na colônia de férias quando tudo aconteceu. "Você vai trabalhando, enchendo a cabeça e pensa que está superando. Um dia você está sorrindo, parece que está normalizando a sua vida, mas de repente você se depara com o nada".

E é este o desabafo da mãe. A impotência diante do tempo e do esquecimento. "A gente vê que as pessoas continuam frequentando o lugar, continua aberto, funcionando. Aliás, continuou funcionando no mesmo dia que meu filho faleceu", descreve Andréia.

Cantinho do quarto de Vittor
Cantinho do quarto de Vittor
que virou ambiente para a micropigmentadora.
que virou ambiente para a micropigmentadora.

No dia, Andréia conta que ficou em choque e foi o marido quem acompanhou o menino à Santa Casa. Depois da morte, quem presenciou reproduz que o menino agonizou e pediu para não morrer. "Essa parte eu fico sabendo das pessoas, porque eu acho que não aguentaria".

A família entrou na Justiça contra a colônia de férias. A decisão foi tomada um tempo após a morte, porque de imediato, Andréia acreditava que nada traria o filho de volta. O pensamento não mudou, mas foi a reação que ela poderia ter diante do vácuo.

"Sabe o que aconteceu? Nada. É como se a gente fosse nada. Eu demorei um pouco para entrar porque nada paga a morte de alguém querido, mas poxa isso vai ficar impune?", conta.

Os laudos, segundo a família, foram inconclusivos para determinar o que causou a queda do muro. "Ninguém sabe falar, definir o que aconteceu", fala Andréia.

Vittor em sua última fotografia, no dia 24 de dezembro de 2014, horas antes do incidente. (Foto: Arquivo Pessoal)
Vittor em sua última fotografia, no dia 24 de dezembro de 2014, horas antes do incidente. (Foto: Arquivo Pessoal)

Um dos sonhos que ela e o filho tinham era de ver o espaço, no bairro Universitário, ganhar forma. À época, as caixas que hoje exibem equipamentos de estética estavam guardadas. Andréia estudava para ser massoterapeuta, micropigmentadora e designer. Tudo isso aconteceu, mas o filho não estava aqui para ver. "Ele sonhava com isso e eu tenho certeza que se ele tiver olhando, vai estar orgulhoso. A falta que meu filho faz é demais, esse vazio que estou carregando aqui também. O que me faz superar hoje é o meu trabalho", sustenta.

Vittor estaria com 14 para fazer 15 anos de idade. "A gente tinha tanto projeto. Eu sinto muito de não ter mostrado a praia para ele. Ele queria viajar, queria que ele tivesse visto meu espaço montado, essas pequenas coisas", desabafa.

O caso - Vittor Heduardo Benites Tsalikis estava no local com a família e, por volta das 20h do dia 24 de dezembro, atendeu o pedido da mãe para que tomasse banho, pois tinha brincado o dia todo e estava sujo. O menino foi tentar pegar uma toalha no muro, que ficava dentro do quiosque para separar o banheiro de outro cômodo, quando a parede cedeu e o atingiu. Ele foi socorrido pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mas morreu às 23h30 na Santa Casa.

Na ocasião, André Luiz Tsalikis, pai de Vittor, registrou Boletim de Ocorrência de “morte a esclarecer” na Polícia Civil e relatou que o imóvel onde a família ficou tinha várias rachaduras. A Justiça foi acionada para cobrar indenização de R$ 980 mil. No processo, a família culpa a falta de reparos no imóvel pela morte do garoto.

À época, movimento continuou normalmente no clube, mesmo depois de morte. (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio)
À época, movimento continuou normalmente no clube, mesmo depois de morte. (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio)
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