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Comportamento

Dono de funerária tem medo de morto e pede uma ambulância neste Natal

Paula Maciulevícius | 25/12/2013 07:15
No escritório da funerária, no Guanandi, Pedro escreve a carta.
No escritório da funerária, no Guanandi, Pedro escreve a carta.

Se você, ‘seo’ Pedro, fosse pedir algo para o bom velhinho, o que seria? A surpresa é que, inevitavelmente, os adultos voltaram a ser criança. Nos escritos, não há ‘querido Papai Noel’, mas sempre o agradecimento pelo ano que passou e o pedido por um 2014 melhor.

Pedro Efoncio de Faria tem 46 anos. É o dono de funerária que tem medo de morto. Há duas décadas trabalhando no setor, se recorda até hoje que prometeu trabalhar só por um mês, pela necessidade, para fazer a compra do mercado. Mas o destino prega peças e quem tinha medo se viu do outro lado, se apegando às famílias num momento de desespero.

“Eu coloquei amor dentro de mim. A morte é normal, nós que somos ignorantes e não sabemos lidar com ela”, diz. Só que os 20 anos lhe trouxeram consequências. Ele não chora nos velórios da família. “Perdi meu pai completou um ano. Tem dois anos que perdi minha sobrinha. De um ano para outro morre alguém e eu não chorei. Por mais que gostasse, não acho motivo para chorar, acho que é porque eu trabalho com isso”.

No escritório da funerária, no bairro Guanandi, ele reluta em escrever a carta. Diz que não tem estudo e pede para ninguém reparar no português. Seo Pedro, Papai Noel vai pelo coração de quem escreve e não pelas palavras. Se é assim, ele começa a carta lendo em voz alta o que a caneta risca na sulfite.

“Papai Noel, eu gostaria de que um dia eu realizasse um sonho, de ter uma ambulância para levar os velhinhos, pelo menos do meu bairro, para o posto de saúde. Porque muitas vezes eles não têm condição de ir de ônibus, para que eles pudessem ter pelo menos um final feliz”.

Ele não tem ambulância ainda, mas usa o carro da funerária para levar quem precisa ao posto de saúde. Dia desses, foi até o bairro Campo Novo, para levar e trazer um contribuinte do plano de assistência para a Santa Casa e vice e versa.

Pedro pediu isso. Só isso. Não foi nada para ele, nem para os dois filhos e a mulher. “Quero fazer algo por quem fez tanto por nós, pelo povo, pela humanidade”, justifica.

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