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Comportamento

Dúvidas do filho que encontrou o pai após 40 anos

Elverson Cardozo | 29/11/2012 15:31
Leonei passou a vida à procura do pai, que só encontrou aos 54 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Leonei passou a vida à procura do pai, que só encontrou aos 54 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

A única lembrança que tinha do pai era uma fotografia velha, que o tempo se encarregou de apagar. Com o passar dos anos, a história, não muito clara, também começou a se perder, mas ele nunca perdeu a esperança.

Quase 50 anos depois, morando em Belo Horizonte, o policial militar aposentando Leonei Souza Laia, de 54 anos, conseguiu, finalmente, reencontrar o pai. José Laia Sobrinho, hoje com 81 anos, mora em Campo Grande, no bairro Caiobá II.

Embora esteja alegre com a reaproximação, a distância provocada pelos anos deixou dúvidas. “Eu sempre falo: Se eu tivesse sido criado pelos meus pais, o que eu seria? Um oficial de justiça, um promotor de justiça, um médico? Eu acho que seria diferente”, declarou.

A localização de Zé Laia, como o idoso é conhecido no bairro, ocorreu graças à internet, por intermédio de um vizinho que se dispôs a vasculhar e entender o passado do senhor, cliente do mercado onde é proprietário.

O caminho estava mais fácil do que esperavam. A família do cliente estava toda no no Facebook. Bastou uma mensagem para que os laços familiares se restabelecessem.

Para Leonei, que passou a infância e a adolescência longe da proteção paterna, encontrar José depois de tanto tempo é uma alegria imensurável.

“Cresci com esse sonho de encontrar ele, mas não tinha por onde começar.”, disse, em entrevista por telefone.

“Sempre falei para minha mulher e para meus filhos: Não vou morrer sem antes conhecer meu pai. Todo mundo tem porque eu não tenho?”, acrescentou.

Leonei foi criado pela avó dos 5 até os 19 anos. Aos 20, mudou-se para Belo Horizonte. “Fui viver sozinho, correr atrás do ouro”, revelou, ao contar que não foi bem aceito nem pela mãe, que se implicava dele ter nascido parecido com o pai.

Com 26 anos, resolveu casar. Hoje, é pai de três filhos: O mais velho, Leônidas Henrique Laia, de 25 anos, trabalha como segurança em uma escola da cidade. Thamires de Souza Laia, de 20 anos, a do meio, é atendente em uma joalheria. A caçula, Thais de Souza Laia, é estudante.

A vida, para o menino que foi deixado aos 2 anos e meio, não foi das mais fáceis. Estudou pouco e teve de trabalhar para se sustentar logo cedo. Antes da carreira militar, foi funcionário de uma fábrica de tecido, de supermercado, atuou como cobrador de ônibus e passou por uma metalúrgica em São Paulo.

Zé Laia, hoje com 81 anos, quase não enxerga. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Zé Laia, hoje com 81 anos, quase não enxerga. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Apesar das dúvidas que o tempo fez surgiu, não há ressentimento, garantiu. A situação é para ser festejada. Leonei não vê a hora de poder abraçar o pai. Os netos, que nunca viram o avô, também estão ansiosos.

“A vida inteira a gente sempre viu como meu pai falava dele. Os olhos enchiam d’água e a gente acaba chorando junto”, contou Thais Laia.

“O coração está sem espaço no peito de tanta expectativa. Está pulsando forte”, completou o pai.

Zé Laia está de viagem marcada para Belo Horizonte. Pretende comemorar o natal e ano novo ao lado da família, mas está protelando a viagem porque quer voltar a enxergar para rever o filho e o restante da família.

Ele vê apenas vultos. Tem apenas 5% da visão, por conta do que ele acredita ser uma catarata. O idoso precisa ser avaliado por uma oftalmologista, mas não consegue atendimento na rede pública de saúde.

O telefone de contato para doações é o (67) 9917-9184 (Félix).

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