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Comportamento

Em festa de aniversário, convidados vendados conhecem mundo de Marelija

Ela ficou cega aos 33 e propôs uma dinâmica diferente aos amigos no dia que comemorou 35 anos.

Thailla Torres | 14/05/2019 05:35
Dinâmica fez os convidados sentirem como é não enxergar. (Foto: Arquivo Pessoal)
Dinâmica fez os convidados sentirem como é não enxergar. (Foto: Arquivo Pessoal)

A psicóloga campo-grandense Marelija Zanforlin Magdalena, de 35 anos desde ps 33 não enxerga. Viveu em dois mundos totalmente diferentes e hoje sente falta das coisas mais simples, que só a visão podia lhe proporcionar. Apesar das dificuldades pelo caminho, ela batalha diariamente para reconquistar a autonomia e, no último fim de semana, decidiu dividir essa experiência com amigos e familiares, criando na festa de aniversário uma dinâmica vendou os convidados.

A experiência durou poucos minutos para cada convidado que andou pelo salão sem enxergar, ao lado de guias ou usando a sensibilidade para desviar dos obstáculos. Situações que são rotina na vida de Marelija desde que perdeu 100% da visão.

“Eu achava que seria interessante que as pessoas a minha volta sentissem um pouquinho de como era viver no meu mundo. Por isso, quando pensei em fazer a festa, encomendei as máscaras e conversei com meu professor de Orientação e Mobilidade Eric Montenegro para que pudesse explicar aos convidados como guiar com segurança um deficiente visual”, conta.

Mare celebrou seus 35 anos de vida.
Mare celebrou seus 35 anos de vida.

Os convidados ouviram atentos cada orientação do professor e em seguida iniciaram a dinâmica. Poucos minutos depois, começaram os relatos a Marelija. “Foi muito bacana ouvir as pessoas falarem sobre medo, insegurança e até mesmo desespero, sentimentos que passam no coração de muitos deficientes. Senti que elas tiveram mais empatia”.

Até empatia se tornou uma conquista na vida da psicóloga. “Eu não tinha empatia antes de ficar cega. Achava que não havia necessidade, por exemple, do piso tátil nas calçadas. Hoje, isso é uma das coisas que eu defendo e sei que é importante”.

Marelija ficou cega em 2016 por causa de uma trombose cerebral ocasionada pela doença mista do tecido conjuntivo (MCTD), diagnosticada pouco tempo depois de perder a visão.

Os primeiros sintomas foram fortes dores de cabeça e na coluna, recorda. “Eu voltei de férias e alguns dias antes de voltar a trabalhar comecei a sentir uma dor forte na cabeça e na região da lombar. Fui algumas vezes pronto socorro, mas os sintomas eram tratados como enxaqueca e dor muscular. Nos dias seguintes passei mal no trabalho e precisei voltar ao hospital. Topei até fazer acupuntura, mesmo com pavor de agulhas, só para diminuir aquela dor. Mas foi nesse período que eu comecei a perder a visão”.

Marelija descreve que a visão foi ficando “esbranquiçada” até ficar totalmente sem enxergar. “Internei e no dia 9 de dezembro de 2016 acordei sem enxergar mais nada”. E a ficha demorou a cair. “Bateu um desespero, mas não por ter ficado cega. O desesperador era a dor de cabeça e nas costas. Com o tempo perdi o equilíbrio, sentia que estava afundando na cama, depois fui perdendo o movimento nas pernas e no restante do corpo. No fim, a perda da visão não foi nada perto de tudo o que me aconteceu”.

Professor ensinou como guiar um deficiente visual.
Professor ensinou como guiar um deficiente visual.

Foram dois meses de hospital e três internações até voltar definitivamente para casa. No começo, muitos sentimentos tomaram conta da psicóloga. “Bateu uma depressão por causa da dor que eu sentia e da necessidade de reaprender tudo de novo, no entanto, o mais forte foi a solidão, principalmente, porque os amigos se afastaram e isso mexeu muito comigo no começo”.

Em casa tudo mudou. Marelija precisou reaprender a fazer as coisas mais simples e, cada passo novo, se tornou uma conquista imensurável. “Eu tive que aprender tomar banho, vestir, pentear o meu próprio cabelo e hoje eu estou em processo de aprender a lavar minhas roupas e passar. Também estou fazendo aula de braile e tenho muita dificuldade de sentir os pontinhos, mas tenho trabalhado muito para isso. E o que me deixa feliz são as coisas corriqueiras, pois já consigo sentir as minhas roupas e diferenciá-las por alguns detalhes, isso me deixa bem”.

Sobre o jeito delicado e harmonioso com que Marelija narra um dos momentos mais difíceis de sua vida, ela atribui toda sensibilidade a fé e a Psicologia. “Essas duas coisas me ajudaram muito. Eu não consigo lamentar ter ficado cega porque eu quase morri dentro do hospital. Hoje, prefiro me dedicar as minhas atividades e realizar o meu sonho de voltar a morar sozinha. Por que eu tive uma segunda chance na vida”, finaliza.

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Foram minutos de atividades que fizeram toda diferença para os convidados e a aniversariante.
Foram minutos de atividades que fizeram toda diferença para os convidados e a aniversariante.
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