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Comportamento

Era só um passeio com meu cão, mas Testemunhas de Jeová cruzaram meu caminho

Mariana Lopes | 22/04/2016 06:25
Era só um passeio com meu cão...
Era só um passeio com meu cão...

Esses dias, quando eu passeava com o Gohan no bairro onde moro, no caminho fui "abordada" por duas mulheres. Muito simpáticas, elas elogiaram o meu cão, em seguida me entregaram um folder e me desejaram um bom dia (foi o máximo que conseguiram fazer, pois antes mesmo que terminassem de falar o Gohan já me puxava alucinadamente para continuar o percurso da nossa caminhada matinal e eu mal consegui responder à gentileza).

Na quadra seguinte, reparei várias pessoas como elas, paradas em algum lugar conversando. Pimba! Caiu minha ficha... Eram elas... As famosas e tão caçoadas Testemunhas de Jeová! [Olha elaaaaaasssss]

Para a minha sorte, antes mesmo que meu cérebro pudesse processar qualquer tipo de julgamento, observei dois homens parados na calçada conversando com um gari, que falava, falava, falava... E, então, pensei: "de certo era isso que o gari precisava, alguém para lhe ouvir. Que bom que encontrou!"

E durante o resto do passeio com o Gohan, fui pensando sobre as tais Testemunhas de Jeová, que jamais me encucaram tanto... Percebi, naqueles 15 minutos de caminhada, que aquelas pessoas estavam gastando sola de sapato apenas para oferecer ouvidos e atenção a quem quisesse. E acreditem... Como tem gente por aí precisando disso.

Se não fosse a ânsia do meu cão em desbravar a quadra por onde ele passa todos os dias enlouquecidamente (afinal, é praticamente ele quem me leva para passear), talvez eu mesma tivesse engatado um belo papo com aquelas duas mulheres simpáticas e queridas. (Depois de 1 ano e meio morando em Belo Horizonte, aprendi com os mineiros a me socializar de uma forma diferente).

Em outro ponto do passeio, havia outras duas mulheres que interfonavam nos apartamentos perguntando a quem atendesse se tinham um minuto para ouvi-las. Consegui pegar a resposta somente de uma pessoa abordada (mais uma vez o Gohan me puxava e não me deixava prestar muita atenção no que acontecia). Bom, só sei que o morador mal deixou a mulher falar e desligou o interfone... “Tu tu tu tu tu” foi a melhor resposta que a pessoa do outro lado da linha conseguiu dar à dupla cheia de boa vontade.

Após toda esta sequência de cenas, voltei pra casa me questionando por que raios as pessoas implicam tanto com Testemunhas de Jeová? Chegando até a serem ríspidas e mal educadas com elas.

“Ah, Mariana, mas essas pessoas ficam tocando a campainha da nossa casa, parando a gente na rua, enchendo o saco, não quero saber disso”. Tudo bem, meu bem! Mas você não está com uma placa na testa informando: “Não quero papo, por isso não me perturbe!”

Há muita gente no mundo que precisa de atenção, de ouvidos que lhes ouçam e também que lhe digam uma palavra de esperança. Mas quem faz esse trabalho por aí, por puro altruísmo, não pode adivinhar quem está disposto ou não a receber isso.

Portanto, quando alguém vier lhe estender a mão, caso você não queira ou não precisa dela, seja no mínimo educado e generoso. Apenas devolva o sorriso e agradeça a gentileza. Ou, se não for muito, ouça o que a pessoa tem pra falar, pois, às vezes, ela escuta tanto, que talvez esteja também precisando de um pouco de ouvidos.

Percebo que, hoje em dia, a rotina nos rouba tanto o nosso tempo, que nem sequer conseguimos dar um “bom dia” decente às pessoas que passam por nós. E como nos tornamos intolerantes, não é mesmo?

Gastamos tanta energia denegrindo religiões, partidos e opiniões diferentes às nossas. Excluímos pessoas de nossas vidas por simplesmente pensarem diferente de nós. Gritamos, xingamos, ofendemos... Mas pregamos a paz e o amor! Percebem como isso é estranho?

Sou católica, sigo e acredito em uma doutrina, mas nem por isso considero que somente os católicos "vão para o céu". Por sinal, “nem toda boca que diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no paraíso”. Na verdade, acho que toda esta separação (briga, concorrência, disputa) de religiões está bem distante do que Deus sonhou para todos nós.

Mariana Lopes é jornalista e colaboradora do Lado B

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