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Comportamento

Evangélica, de saia e cabelo longos, mãe de travesti famosa explica preconceito

Paula Maciulevicius | 25/08/2015 06:44
Cris sempre teve o carinho da mãe. (Foto: Vanessa Tamires)
Cris sempre teve o carinho da mãe. (Foto: Vanessa Tamires)

Maria Aparecida tem 50 anos, a filha Cristiane, 35. Cris é a mais velha de cinco filhos, nasceu quando dona Cida tinha só 15 anos, em Jacaraú, no interior da Paraíba. De cabelos compridos e saia longa, ela parece fazer economia das palavras e assume que, diferente da filha, esta é a primeira entrevista dada. Dona Cida é mãe da travesti mais famosa de Campo Grande, presidente da ATMS (Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul), Cris Stefanny.

O Lado B quis conhecer a mãe da militante LGBT que há quase 20 anos na Capital é a voz contra o preconceito. "Minha filha para mim é tudo", completa Maria Aparecida Vidal Venceslau. Ela fala devagar, parecendo medir as palavras. Diferente da Cris que a gente conhece que nunca teve papas na língua, principalmente na hora de defender a bandeira do movimento.

Tímida, de sotaque arretado. Os cabelos - quase todos branquinhos - são presos em um rabo de cavalo baixinho. A saia abaixo do joelho denuncia uma crença por trás das vestimentas. Cida é evangélica, da Igreja Assembleia de Deus, sempre foi. 

Nasceu, se criou e também aos filhos numa cidade de pouco mais de 2 mil habitantes. Da escola, Cida saiu no segundo ano, aprendendo apenas a ler e escrever. "A gente trabalha na agricultura, sou agricultora", define.

Tímida e de sotaque arretado, Cida é evangélica. (Foto: Vanessa Tamires)
Tímida e de sotaque arretado, Cida é evangélica. (Foto: Vanessa Tamires)

Das semelhanças entre ela e a filha, a hora de falar Cida até se emociona. "Eu acho que é de fazer o bem às pessoas, de ser trabalhadora. Essas coisas..." As lágrimas, ela diz que brotam pela timidez e, justifica que é porque vem de cidade pequena, do interior.

De começo, a mãe diz que foi difícil entender o que a transição significava, mas depois que isso aconteceu, nada mudou. "Para mim é a mesma coisa. Filho é tudo igual e amor de mãe sempre será o mesmo. Seja qual for o filho". Cris veio para Campo Grande no início dos anos 90, a convite da tia que já morava aqui. A mãe veio também, ficou uns 4 anos e foi embora em 1997.

"Eu fiquei sabendo... Foi assim, eu fui para Paraíba e daí a minha irmã quem me contou. Eu falei com a Cris pelo telefone, perguntei: 'por que você não me falou?' Ela me disse que tinha medo da reação e preferiu ficar quieta. Mas eu não tive nenhuma reação. Eu sempre vou estar aqui para o que ela precisar".

Com o peito estufado, dona Cida fala que sente orgulho por várias coisas da filha. A principal é de ver que criou uma nordestina de atitude, que a ensinou também a interpretar o que é o preconceito.

"No meu entendimento é assim, as pessoas não aceitam os outros como eles são. Creio que a gente tem que aceitar a pessoa como ela é".

Cida, Cris, a irmã mais nova e a tia...uma lição contra o preconceito. (Foto: Vanessa Tamires)
Cida, Cris, a irmã mais nova e a tia...uma lição contra o preconceito. (Foto: Vanessa Tamires)
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