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Comportamento

Filhos ganharam nomes yorubás em ato de resistência e orgulho

Pais escolheram referências africanas para conectar família à ancestralidade e afirmar identidade negra

Por Clayton Neves | 20/11/2025 07:45
Filhos ganharam nomes yorubás em ato de resistência e orgulho
Carlos ao lado da esposa Silvia e dos filhos Kayodê e Aracan. (Foto: Arquivo Pessoal)

A nova lista oficial dos nomes mais comuns no Brasil, divulgada recentemente pelo IBGE, voltou a confirmar um padrão conhecido, com Maria e José liderando com ampla vantagem. Mas, enquanto milhões repetem os mesmos nomes, existem famílias que fazem do registro civil um ato de resistência. É o caso de Carlos Porto, que decidiu romper com a padronização e escolheu para os filhos dois nomes de origem yorubá, como forma de afirmar a ancestralidade e marcar a identidade da família.

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A escolha de nomes africanos para filhos tem se tornado uma forma de resistência cultural no Brasil. Carlos Porto e sua esposa Silvia optaram por nomear seus filhos com nomes yorubá: Arakan, que significa vida, e Kayodê, que representa aquele que trouxe alegria.O Brasil possui mais de 8 mil nomes de origem africana registrados, principalmente nas línguas yorubá, banto e ewe-fon. Essa tendência representa uma quebra no padrão histórico de apagamento cultural, quando pessoas negras tiveram seus nomes substituídos por registros europeus durante a escravidão.

Os filhos se chamam Arakan, de 21 anos, e Kayodê, de 19. Arakan significa vida. Kayodê quer dizer aquele que trouxe alegria. Juntos, como define o pai, representam “vida com alegria”. Segundo Carlos, os dois cresceram ouvindo sobre a força simbólica do próprio nome e, para ele, é a partir disso que a identidade negra se afirma.

A decisão veio após uma pesquisa cuidadosa feita por ele e pela esposa, Silvia, em dicionários africanos. “Nós fomos atrás do significado, da origem, da sonoridade. E depois colocamos nossos sobrenomes para manter também nossa história. Queríamos escrever no nome deles um pouco da nossa trajetória e da nossa africanidade no Brasil”, conta.

No cartório, veio a primeira confusão. “Muita gente achou que era nome indígena. Havia surpresa porque parece que o brasileiro acha estranho você colocar um nome com origem própria, africana. Mas não houve resistência”, lembra.

 Entre amigos e familiares, a recepção foi tranquila, mas pessoas de fora questionaram como seria a vida escolar das crianças. Carlos sempre respondeu da mesma forma. “Eles vão dizer o nome deles. As outras pessoas têm que se adaptar e não nós”, destaca.

Ele e a esposa sempre reforçaram desde cedo a importância dos filhos manterem o nome completo, sem apelidos, como parte da construção da própria identidade. Da creche à faculdade, ambos levaram isso adiante sem enfrentar problemas significativos. “Eles sempre usaram o nome completo, com orgulho. A identidade deles começa ali”, comenta.

Carlos acredita que a escolha de nomes africanos é uma forma de quebrar um ciclo de apagamento. Historicamente, pessoas negras tiveram seus nomes substituídos por registros europeus durante a escravidão, e o ranking do IBGE reflete ainda hoje essa herança. Entre os nomes mais registrados do país, nenhum de origem africana aparece no topo.

Para ele, cada família que escolhe um nome africano abre espaço para uma discussão de que identidade, ancestralidade e memória também se constroem na certidão de nascimento. “É um processo transformador. Quando você dá um nome com significado aos seus filhos, você coloca no mundo uma história que não pode mais ser apagada”, finaliza Carlos.

Hoje, o Brasil tem mais de 8 mil nomes de origem africana registrados, principalmente nas línguas yorubá, banto e ewe-fon. Embora o IBGE não tenha um levantamento oficial específico, estudos de registros regionais apontam crescimento no uso desses nomes desde os anos 2000.

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