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Comportamento

Grupo de acolhimento vai amparar jovens LGBT expulsos de casa pela família

Projeto quer receber adolescentes não apenas com abrigo e comida, mas também com atendimento psicológico e de capacitação

Eduardo Fregatto | 11/08/2017 06:15
Leonardo acredita que a Casa estará aberta dentro de 100 dias. (Foto: André Bittar)
Leonardo acredita que a Casa estará aberta dentro de 100 dias. (Foto: André Bittar)

Apesar de uma aparente aceitação maior, até mesmo por conta de campanhas inclusivas produzidas por grandes empresas, o preconceito contra lésbicas, gays, bissexuais e transexuais ainda é uma realidade forte e cruel, especialmente entre as classes mais baixas.

Para quem trabalha com a causa social, torna-se comum acompanhar casos de adolescentes expulsos de casa, após agressões verbais ou até físicas vindas dos próprios familiares, aqueles que deveriam compreender e acolher.

"O apoio familiar é muito mais negado à população LGBT. Um jovem negro, ou com alguma deficiência, provavelmente vai encontrar acolhimento dentro da família. Já um menino gay, agredido na escola, na maioria das vezes não vai contar para os pais. Vai ter medo. É isso que nos motiva a pensar numa estratégia para ajudar", afirma o psicólogo Leonardo Bastos, que trabalha na ONG Instituto Cidadania e Juventude.

É ele o idealizador da Casa de Cultura e Acolhida LGBT + MS. Por enquanto, esse é o nome jurídico do espaço, mas Leonardo e os outros voluntários ainda pensam em criar um título mais simples, para tornar o local mais acessível.

O psicólogo em uma palestra sobre gênero e sexualidade. (Foto: Acervo Pessoal)
O psicólogo em uma palestra sobre gênero e sexualidade. (Foto: Acervo Pessoal)

Em seu trabalho na ONG, Leonardo relata que o índice de depressão e até suicídios entre jovens é alto em Mato Grosso do Sul. "A questão familiar é muito complicada. Em especial para as pessoas trans. Eles sabem que vão encontrar a violência fora de casa, mas dentro esperam encontrar acolhimento, apoio", explica. "Ir contra os pais não é algo encarado de forma natural. Envolve culpa, medo. Ouvir ofensas vindas dos familiares cria um conflito interno muito difícil", destaca.

A ideia não é apenas oferecer um teto, abrigo e comida para os jovens abandonados por conta do preconceito, da homofobia e da transfobia. Além de todo o suporte básico, Leonardo quer que a Casa ofereça apoio psicológico e emocional. "Teremos uma equipe multidisciplinar, com advogado, assistente social e psicólogo, entre outros profissionais", define.

Todos os especialistas, que já entraram para o projeto, vão emprestar seus trabalhos de maneira voluntária. A maioria também são LGBT. Alguns até vivenciaram situações de abandono familiar, por conta da sexualidade. Por isso, existe a questão da identificação e empatia.

Além disso, Leonardo quer que a Casa seja um espaço de manifestações culturais e de oficinas de capacitação. "Além da parte educacional, pedagógica e cultural, a nossa ideia é capacitar e discutir profissões autônomas. Não adianta oferecer um curso de secretariado bilíngue, por exemplo. Uma travesti pode ser poliglota, mas dificilmente será aceita num emprego desses. Por isso pensamos em abrir caminhos para ocupações mais independentes".

Leonardo cita algumas iniciativas do Poder Público, de outros Estados, que ainda não chegaram em Mato Grosso do Sul. "Existe um Pronatec específico para pessoas trans. Existem caminhos nesse sentido, que queremos viabilizar".

Com a Casa oferecendo suporte emocional e psicológico, e oficinas artísticas e de capacitação, o psicólogo espera que os adolescentes consigam se encaminhar na vida, e andar com as próprias pernas.

Por lei, esse tipo de projeto só pode atender, de maneira permanente, de 12 a 15 pessoas por vez. "A ideia não é fazer um amontoado de gente dentro da casa. É preciso ter um atendimento mais individual, específico". Mas o espaço estaria aberto para os indivíduos que quisessem frequentar as ações e atividades. "A gente sabe que não será suficiente para atender toda a demanda, mas esperamos conseguir mais parcerias e apoio, para quem sabe até abrir mais espaços', diz Leonardo.

Previsão - No momento, Leonardo e a equipe de voluntários estão em busca de um local adequado e de parcerias, tanto do Poder Público quanto da iniciativa privada, para apoiar o projeto. "Estamos fechando a parte da comunicação visual e vamos trabalhar com cadastramento de voluntários. Esse projeto vai depender muito do apoio das pessoas, da doação individual".

Ele acredita que, dentro de 100 dias, a Casa já estará em funcionamento. Ações como essa já deram certo em outros Estados, como em São Paulo, onde foi inaugurado recentemente o Casa 1, que recebe e atende a população LGBT.

"Para esses jovens, não é um processo fácil. É confuso. Eles dependem, financeiramente e emocionalmente, da família. Mas eles não têm culpa de não serem o filho que os pais idealizaram. A gente não tem mais como esperar para ajudar", finaliza.

O cadastro de voluntariado para a Casa de Acolhida pode ser feito clicando nesse link.

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