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Comportamento

Há 32 anos, primeiro outdoor com mulher pelada vendia shampoo em Campo Grande

Thailla Torres | 29/08/2016 06:11
A foto original foi substituída para evitar censura do google. (Foto: Slogan Publicidade)
A foto original foi substituída para evitar censura do google. (Foto: Slogan Publicidade)

Uma modelo de biquíni vermelho e seios à mostra, deitada na praia. A cena é algo normal hoje em dia, mas em 1984 foi uma surpresa e tanto pelas ruas de Campo Grande.

O primeiro outdoor de com uma mulher quase nua lançou a marca de shampoo Inouï, de fábrica montada em Aquidauana. O produto não durou muito tempo no mercado, por problemas de distribuição, mas a peça publicitária entrou para a história da propaganda local.

O outdoor foi parar em várias cidades do Estado e teve até comercial na TV, exibido diariamente, mas sempre à noite. 

Criador da campanha, o publicitário Henrique de Medeiros lembra de um misto de criatividade e ousadia, na busca de chamar atenção para o produto. "Na época, a cidade tinha 250 mil habitantes. A intenção era chamar atenção de alguma maneira que pudesse impactar. E foi um sucesso, a campanha foi bem trabalhada", avalia.

Há 30 anos na publicidade, Henrique tem a peça como uma grande experiência e ousadia para o mercado da época.
Há 30 anos na publicidade, Henrique tem a peça como uma grande experiência e ousadia para o mercado da época.

A fotografia e as imagens da modelo na televisão chegaram em um período difícil. Mas, por incrível que pareça, não gerou polêmicas"Vivíamos ainda no período do regime militar, foi uma época complicada. Houve um impacto muito grande, mas não houve censura e nenhum tipo de revolta. As pessoas olhavam admiradas pelo belo, que na verdade era a ideia", completa. 

A mulher que posou para as lentes do fotógrafo Roberto Higa foi Loisa Mavignier, que tinha 25 anos na época. Hoje, aos 56, ela diz que não era modelo, mas aceitou o convite pela proposta ousada. "Fui convidada e pensei: Por que não? Era uma peça publicitária como outra, mas bastante ousada para época. Quando a gente é jovem, a gente é mais ousada e eu me entendia dona do meu corpo", lembra.

Loisa lembra que a produção envolvia os melhores profissionais daquele tempo e a nudez também sempre foi algo muito bem resolvido na vida dela. "Tinha o sentido da mulher plena com a natureza. Foi uma experiência nova e reveladora. Eu era dona do meu corpo, não tinha problema com a nudez e sabia que era uma questão do belo, da mulher livre."

Mas, ao contrário de Henrique, ela comenta que sentiu sim certo desconforto público. "As pessoas se chocaram porque era em Mato Grosso do Sul e eu conhecia muita gente. O impacto maior maior é pelo fato deles conhecerem a pessoa que estava ali", descreve.

O outdoor que circulou por todo MS mostrava os seios da modelo. (Reprodução: Slogan Publicidade)
O outdoor que circulou por todo MS mostrava os seios da modelo. (Reprodução: Slogan Publicidade)

Sem muitos recursos, a gravação do comercial de TV ocorreu em uma fazenda, para explorar o belo e o feminino na natureza. "Era outra época, buscamos alguns aspectos regionais, com a exibição da natureza, vegetação, as araras e a fazenda. Não era uma questão de exploração do corpo ou da mulher, era apenas uma intenção de quebrar preconceito. Colocar aspectos que também pudessem estar ligados a beleza e a qualidade do shampoo", explica o publicitário.

No comercial de 30 segundos, Loisa aparece com os seios revelados em três momentos. "Era uma coisa discreta. Havia pedaços do corpo à mostra e uma parte dos seios. Essa foi a grande questão de ter chamado atenção. Até porque, a propaganda é aquilo que você cria empatia, se reconhece no anúncio e ele também dá chance de abrir os olhos da cidade para um novo conceito", pontua.

Campo Grande não tinha muitas empresas de publicidade naquele tempo e, quando foi escolhido pelo cliente, Henrique não poderia decepcionar. "Porque o que motiva é o novo. É a necessidade que você tem o tempo inteiro de estar se renovando. E hoje, qualquer pessoa que estiver nesse meio, se não tiver a capacidade de ser renovar, está perdida." 

Para ele, atualmente, em tempos de mulher com poder, é fato que a maneira de fazer publicidade com o feminino está bem diferente. "Mudou porque a gente tem que tomar mais cuidados. Isso daqui, na época, por mais que tivesse nu, ninguém apontou dizendo que era machismo. Se isso fosse ao ar hoje, é fato que viria uma série de questionamentos, como exploração de mulheres e desrespeito. Hoje temos que se preocupar três vezes com conceitos e formas de trabalhar", avalia. 

Então, como até hoje tem mulher pelada na propaganda? "Talvez, por conta do belo. E quando falo em belo, estamos falando em termos de arte. É uma associação com a beleza, porque a beleza é a máxima dentro da propaganda. E isso não quer dizer que o feio não é bonito. Até porque, geralmente o preconceito é com aquilo que parece feio aos olhos das pessoas. Mas são coisas muito relativas", completa. 

Veja abaixo o comercial produzido pela Slogan Publicidade em 1994 para a marca de shampoo. 

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Há 32 anos, primeiro outdoor com mulher pelada vendia shampoo em Campo Grande
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