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Comportamento

Mãe é quem fica, seja na UTI, no posto ou nas intermináveis noites

Mãe nenhuma deveria ficar sozinha. O meu mais forte abraço às que ficaram. E se eu puder ajudar, me escreva: ladob@news.com.br

Paula Maciulevicius Brasil | 02/02/2020 07:59
Tirinha que ilustra perfeitamente a mãe que fica. (Ilustração de Thaiz Leão).
Tirinha que ilustra perfeitamente a mãe que fica. (Ilustração de Thaiz Leão).

Uma cena, em particular, me marcou muito quando minha bebê esteve por oito dias na UTI. A chegada de um novo pacientizinho e quando os médicos deram a notícia aos pais que a criança tinha características de síndrome de Down, mas só um exame confirmaria.

Me coloquei no lugar deles, que nem desconfiaram na gestação, e agora, no meio da UTI, ouviam isso pela primeira vez. Os pais disseram aos médicos que não sabiam da possibilidade. Ali, um semblante de tristeza, susto e incertezas marcava o rosto da mãe.

Por coincidência soube alguns dias depois, quando nós já tínhamos tido alta, que a mãe do bebê estava em depressão. Como se não bastasse o puerpério, a confirmação da síndrome, o pai tinha ido embora. Nas palavras de quem me relatou: "ele não aguentou". Eu só consegui pensar: e a mãe? Não deram a ela essa opção também? Ela não teve escolha. O pai podia não aguentar, mas ela não. Ela fica. Aliás, mãe é quem sempre fica.

Gostaria de ter feito algo por ela. Para esse tipo de maternidade existe classificação: "mãe solo". Se bem que aí gostaria que não soasse tão romantizado o abandono de um pai aos próprios filhos. Por que só aos pais é permitido "não aguentar?" Enquanto mães não têm outra forma se não a de encarar o sorriso e às lágrimas do filhos sozinha.

Dia desses encontrei palavras... Um desabafo escrito por uma mãe que ficou e teve que ficar em várias situações. Ela soube expressar com tanta sinceridade e suavidade, que resolvi compartilhar:

"Todos os sintomas de uma gestação somada ao tormento da bipolaridade do pai do bebê. Resolvi ficar como mãe, quando alguns foram embora, inclusive o pai. Sozinha em um puerpério complicado, onde minha dor não era maior que a cólica do meu filho. Noites de choro, sem dormir, estresse. Experimentei um sucesso, a amamentação.

Ela ficou, a mãe, só com toda a responsabilidade. Dezenas de dúvidas? Ah, ela aprende, na hora ou amanhã mesmo. A mãe fica em oração e firme nas noites frias de uma UPA. A mãe fica, quando o pai aparece após um longo período, paga a pensão e divide a guarda.

A mãe fica quando o filho vai sozinho com o pai pela primeira vez. E essas primeiras horas, te fazem pensar em um caminho mais saudável para todos.

Em respeito a todo caminho que percorreu, a todo aprendizado, ela inicia um processo de aceitação daquela posição, através de ajuda profissional e reconhece aquele novo universo. Sem nunca deixar de nutrir, proteger, aconchegar e orar, a mãe fica."

Queria, por mágica, tornar mais leve o maternar de quem ficou. Você certamente conhece uma mãe que ficou e que precisa de um abraço. Mais que isso, precisa desabafar. "É preciso uma aldeia inteira para criar uma criança", diz um ditado africano. E ele se aplica a todos ao redor da criança. Mãe nenhuma deveria ficar sozinha. O meu mais forte abraço às que ficaram. E se eu puder ajudar, me escreva.

Você pode enviar para o Facebook, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563 (chame agora mesmo).

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