Mãe Eva partiu, mas deixou pedido para casa de umbanda resistir
Líder religiosa iniciou mais de 200 filhos de santo em tenda de umbanda aberta no Jardim Montevidéu em 1992
Com o coração voltado à espiritualidade e os braços sempre abertos para acolher quem chegava, Elva Marina Caplis, a Mãe Eva, se despediu deste plano no último dia 6 de junho, aos 76 anos. Ao todo, foram 49 anos de dedicação à umbanda, marcadas por amor, humildade e caridade. Mas antes de partir fez um pedido para que a casa resistisse, e hoje a família promete continuar seu legado.
Na Tenda de Umbanda Cacique Mata Virgem, fundada por ela em 1992, no Jardim Montevidéu, mais de 200 filhos espirituais aprenderam com seu exemplo silencioso, mas firme, o verdadeiro sentido da fé. Na vida pessoal, teve quatro filhos, nove netos e oito bisnetos.
A filha de sangue e herdeira espiritual, Eliane Marina da Silva, relembra os últimos momentos com a mãe. “Ela me pedia sempre para continuar o legado dela, que eu seguisse ajudando as pessoas sem esperar algo em troca. Ela dizia que a missão dela já estava cumprida, e que agora era a minha vez”, conta. “Mesmo nos últimos dias, com dor, ela continuava preocupada com os outros. Isso era ela: doação, humildade e amor”, afirma.

Natural de Porto Sastre, Mãe Eva chegou a Campo Grande ainda adolescente, aos 14 anos. Começou na religião aos 27, iniciada por Edigar Pereira Escobar. Firmou sua raiz espiritual sob a proteção do Cacique Mata Virgem, entidade que a guiou por toda a vida.
A tenda comandada por ela se tornou espaço de fé e resistência, recebendo gente de diversas cidades e estados. “A casa era muito conhecida em todo o Estado e até fora”, lembra Eliane.
Ao lado de Eliane na caminhada espiritual está Pedro Thiago, de 33 anos, marido de uma das netas de Mãe Eva e também herdeiro da missão.
“Ela já era minha referência desde a infância, quando entrei na religião. Depois, morei com ela por 12 anos. Era uma mulher de muita experiência, mas também de calma. Gostava da independência dela e mantinha a rotina com a gente”, conta.
Pedro também guarda na memória a última conversa que teve com ela. “Ela pediu união. Disse que era pra mim e pra minha sogra continuarmos com a casa espiritual dela. Porque a vida dela era cuidar do próximo e praticar a religião todos os dias. Foram 49 anos servindo com dedicação”, detalha.
A luta pela vida começou em março, quando Mãe Eva foi diagnosticada com derrame pleural. Mesmo após uma cirurgia torácica, complicações vieram em sequência, como pneumonias, contaminação por H1N1 e fraturas na coluna que a deixaram com as pernas paralisadas. No dia 6, em uma sexta-feira, Mãe Eva partiu.
Apesar da dor da perda, os ensinamentos de Mãe Eva continuam vivos. Fundada há 34 anos, a Tenda de Umbanda Cacique Mata Virgem seguirá funcionando. Agora, sob o comando de quem ela preparou com tanto cuidado. “Ela ensinou a ajudar com humildade, sem esperar nada. Isso é o que a gente leva dela”, reforça Eliane. No terreiro, a ausência física de Mãe Eva é sentida. Mas sua presença espiritual permanece em cada canto, em cada gira e em cada reza.
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