ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  23    CAMPO GRANDE 32º

Comportamento

Meu filho viveu o suficiente antes que a dor fosse maior depois que nascesse

Thailla Torres | 26/07/2017 06:15
Carlos Eduardo viveu 8 meses no ventre da mãe. Ele é um anjo na vida de Efigênia Mendes Raimundo, de 37 anos, que se tornou mãe pela segunda vez, mas não chegou a ser chamada assim pelo filho.
Carlos Eduardo viveu 8 meses no ventre da mãe. Ele é um anjo na vida de Efigênia Mendes Raimundo, de 37 anos, que se tornou mãe pela segunda vez, mas não chegou a ser chamada assim pelo filho.

Carlos Eduardo viveu 8 meses no ventre da mãe. Ele é um anjo na vida de Efigênia Mendes Raimundo, de 37 anos, que se tornou mãe pela segunda vez, mas não chegou a ser chamada assim pelo filho. Hoje, ela sabe de uma dor que ninguém é capaz de tirar, no entanto, usa das palavras em busca de força para seguir em frente. Por isso ela decidiu contar no Voz da Experiência a história do filho. Diagnosticado com Trissomia 18, uma síndrome rara que não permite que a gestação chegue até o quinto mês, Carlos viveu até o oitavo, e depois partiu silenciosamente.

"No dia 22 de dezembro de 2016 descobri que estava grávida, assim, silenciosamente meu anjo chegou na minha vida. Confesso que não pensava mais em ter filhos, sou muito orgulhosa de ser mãe de uma menina linda, prestes a completar 20 anos. Até então eu não senti nenhum sintoma para suspeitar da gravidez, mas depois de um atraso na menstruação veio a notícia: você está grávida.

Fiz a primeira, segunda e terceira ultrassom. Corpo, coração e crescimento estavam perfeitos. Até o nome eu já havia escolhido, Carlos Eduardo, que eu sempre sonhei na vida. Nesse momento o receio de ter um filho distante do outro já havia passado.

Mãe busca forças para seguir em frente.
Mãe busca forças para seguir em frente.

No terceiro mês de gestação minha pressão começou a subir. Mas trabalhava normalmente, fazia minhas atividades e não senti nenhum desconforto durante a gravidez. Mas quando voltei ao médico, ele me pediu um exame Cariótipo fetal, que na rede particular varia entre R$ 600 e R$ 1 mil porque havia a suspeita de uma síndrome rara em meu filho.

Fiz o exame. O diagnóstico veio aos 7 meses de gestação. O resultado foi a Síndrome de Edward, doença que provoca atrasos graves no desenvolvimento devido a um cromossomo 18 extra, não tem tratamento e, geralmente, é fatal antes do nascimento do bebê. O médico disse que ele não sobreviveria até o quinto mês de gestação, mas eu já estava no sétimo.

Recebi um diagnóstico de que provavelmente eu não seguraria meu filho no colo e naquele momento senti a força de um milagre. Mesmo sabendo de tudo isso, queria que meu filho nascesse e  sonhava segurá-lo no colo.

Admito que voltei do exame arrasada, tentando compreender como conviveria com toda essa situação no futuro. Sei que a vida dele seria muito regrada, mas nem o médico soube informar tudo o que aconteceria. Por isso, comecei uma corrente de oração. Amigos, familiares e até pessoas muitos distantes passaram a dedicar um momento de seus dias pela vida do Carlos Eduardo.

No dia 17 de julho, em mais uma ultrassonografia, o médico me disse que iria marcar a data do parto. Eu estava contente a espera de Carlos. Esperançosa diante de um diagnóstico de incertezas. No entanto, assim como ele chegou silenciosamente, também partiu. O exame mostrou que o bebê estava morto dentro de mim.

Novamente percebi que Carlos foi um guerreiro. Lutou pela vida de maneira silenciosa, não me deixou sentir mal-estar, dores ou desconforto que meu corpo pudesse avisar que algo estava errado. E naquele momento, apesar de tanta dor, consegui entender o sentido que ele trouxe para a vida durante esses oito meses.

Assim que o médico constatou a morte, fui encaminhada para a maternidade, e o parto não foi fácil. Depois de nascido, escolhi não ficar muito tempo com o bebê porque já estava sendo muito difícil vivenciar aquela situação. O dia seguinte foi marcado pelo sepultamento, escolhi não participar, preferi ficar com a imagem de Carlos que sempre sonhei. O rosto delicado e de um filho que hoje se tornou um anjo.

10 dias depois, consigo perceber o milagre que existiu em minha vida. Rezei o tempo todo para ele ficar bem, e no fim compreendi que tudo que aconteceu, talvez tenha sido o melhor para ele. Sei que meu sofrimento não é nada comparado ao que seria o dele se tivesse nascido.

Deus permitiu que ele ficasse comigo até o oitavo mês e agora ele partiu, eu entendi que devo aceitar. Creio que tudo que acontece na vida da gente está escrito e cada pessoa tem uma história. Não podemos comparar, julgar e questionar se o que acontece com a gente não é igual para o outro. Cada um carrega o fardo de acordo com a força que tem. Agradeço por Carlos Eduardo ter chegado um dia, ele transformou a minha vida e tudo em volta dela".

Nos siga no Google Notícias