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Comportamento

Minha mãe é a protagonista perfeita na história inventada de nós dois

Paula Maciulevicius | 21/05/2017 08:00
Carlos Jr. entre os pais Izabel e Carlos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Carlos Jr. entre os pais Izabel e Carlos. (Foto: Arquivo Pessoal)

A volta da escola naquele 17 de maio foi diferente desde a saída do portão. Solange foi quem buscou o sobrinho e até deixou ele vir na carroceria da caminhonete, coisa que pouco acontecia. Ao chegar em casa, o menino de 6 anos viu tristeza no rosto de familiares. Deu um abraço no pai e não se esqueceu de que foi naquele dia que aprendeu a fazer bola de chiclete com bubbaloo de uva, brincadeira ensinada para entreter a criança.

Vinte e três anos se passaram. O Carlos daquele dia hoje tem 30 e criou um enredo para si.

"Minha mãe é a protagonista perfeita na história inventada de nós dois. Não são coisas inventadas, eu pego fragmentos de histórias que as pessoas me contam e monto a minha própria, porque eu não tenho lembranças das coisas que aconteciam. Fiquei com ela só 6 anos", conta o jornalista Carlos Celso do Nascimento Junior.

Carlos Celso é jornalista e como filho, criou a "história de nós dois". (Foto: Arquivo Pessoal)
Carlos Celso é jornalista e como filho, criou a "história de nós dois". (Foto: Arquivo Pessoal)

Entre o Dia das Mães e o aniversário de Carlos, em 1994, Izabel Cristina sofreu um acidente de carro indo para Corumbá e morreu. No veículo ainda estavam o marido, Carlos, e a filha caçula, Isadora.

Crescer sem a figura materna foi difícil. Izabel tinha só 25 anos e uma vida toda de alegria e de bondade a ser passada com a família. Sem nem precisar pedir, pai, avó paterna e a tia Solange, sempre descreveram quem era Izabel para que o filho tivesse referências da mãe.

"As pessoas que contavam diziam que ela era uma mulher extrememente caridosa e engraçada, que tudo era motivo de piada. Ela levava a vida de uma maneira bem diferente de todo mundo, deixava a vida levá-la", narra Carlos.

Longe das amarras sociais, até a ida ao supermercado Izabel fazia descalça, quando ainda moravam em Rondônia. E foi no Norte do País que Izabel e Carlos se conheceram.

Nem voz nem o cheiro da mãe ficaram em Carlos. A imagem do rosto é reforçada através dos álbuns de fotos. Uma das poucas memórias que acompanharam o crescimento do filho foi a visita à uma vernissage.

"Tenho essa história com ela. Uma vez fomos à vernissage da Lazara Lessonier e minha mãe me mostrou que mesmo com as dificuldades que a vida impõe, ela não deixou de criar. Eu também tenho a certeza de que minha mãe era uma artista, tenho poesias dela, as coisas que pintava e bordava. Ela me ensinou a ter muito amor pelo próximo e isso continuou comigo".

De família espírita, Carlos compreendeu dentro da doutrina que a mãe precisava vir ao mundo para se casar e formar a família. "Pensando na vida, estudando e a partir daquelas experiências que a gente pega durante a nossa caminhada, acho que ela nem precisa desencarnar. Ela veio para poder se casar com meu pai, para mim e para a minha irmã nascermos. Por isso acho que o tempo na Terra foi muito curto para ela. Acredito que se a gente já cumpriu nossa missão, não tem porque ficar ainda neste plano".

Os ensinamentos religiosos são alento ao jornalista que, sem saber, traz muito da mãe consigo. "As pessoas falam do modo como eu levo a vida, a personalidade. É muito parecido com o que ela pensava também. Não que eu seja um irresponsável, mas eu vivo o dia, não tenho grandes planos para o futuro e acredito que a gente tenha é que viver assim: o presente".

As conquistas profissionais e pessoais de Carlos são contadas a Izabel, ainda que mentalmente. "E eu a visito pelos vários álbuns de família. Quando vejo foto dela e tudo o que está acontecendo comigo... Como ela ficaria feliz..."

Na "história inventada de nós dois" não há um final. "Ela é constante. Todos os dias tem um capítulo diferente. E, quando chegar ao final, eu vou viver todo o tempo que vivi longe dela".

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Primogênito, Carlos viveu só 6 anos na companhia da mãe. (Foto: Arquivo Pessoal)
Primogênito, Carlos viveu só 6 anos na companhia da mãe. (Foto: Arquivo Pessoal)
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