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Comportamento

Na balança são menos 32 quilos, mas no coração a leveza tem significado maior

Em 5 meses a transformação foi daquelas perturbadoras, mas agora para o bem

Thailla Torres | 04/06/2017 10:10
Toda e qualquer mudança é um avanço, um passo à frente, uma ousadia que nos concedemos, nós que tememos tanto o desconhecido.
Toda e qualquer mudança é um avanço, um passo à frente, uma ousadia que nos concedemos, nós que tememos tanto o desconhecido.

Em janeiro eram 117 quilos, em maio são 85. A meta para chegar aos 68 é só para setembro, com saúde, energia e direito a uma foto na balança, mas Vânia Galceran já chegou mais longe do que julgava poder. Histórias como a dela existem aos montes por aí, mas nesta jornada ela aprendeu muito mais do que um jeito de emagrecer, experiência que a mãe e jornalista compartilha agora aqui no Lado B.

Vânia com 35 quilos a menos.
Vânia com 35 quilos a menos.

Somos únicos, seja pelos defeitos ou qualidades. No meu caso acredito que o que sobressai é a teimosia. Tive insistência em reagir, sair dos aparelhos, respirar, abrir o peito pra vida. Nunca fui de dar ouvidos a conselhos e os últimos 4 anos foram terríveis e avassaladores na minha vida.

Fui desencanando de cobranças de outras pessoas, comecei a me alimentar melhor, de forma saudável. Odeio comer de 3 em 3 horas, mas fazia já sem perceber o jejum intermitente e isso funcionou pra mim. Mas não é pra todo mundo, afinal também sinto falta de comida. Outra disposição veio através da corrida mesmo, sem investir em funcional e nem personal.

Desde que voltei a morar no Brasil, cheguei vazia, um sopro segurava minha vida que tinha ficado pra trás, naquele frio que amo. Cheguei e tudo adormeceu, parou de funcionar, já estava na UTI e não sabia, até descobrir onde foi que a veia entupiu, o caráter desviou, o gosto se perdeu, a chance não voltou? Como descobrir que eu não era mais eu? Descobri.

Quando de novo tentei me alimentar de amor, não o próprio, o alheio. Lá fui eu a rainha da intensidade e me joguei num romance. Já com minhas 3 filhas, me atirei. Na época eu não sabia, me convenci que estava apaixonada e que finalmente teria minha família. Aquela tradicional e completa, felizona, amargo engano. Joguei por um bom tempo o fardo nas costas do moço responsável pelo meu resgate. Sim, ele tem lá sua contribuição, mas na verdade o desapontamento veio comigo mesma. Afinal ninguém, absolutamente ninguém faz nada com a gente que não permitamos!

Quebrei a cara, decepcionei, vacilei. Fui ofendida, não ofensazinha...foi ofensa mesmo..Quando ele acordou e não quis mais, já tínhamos planejado um filho. O meu quarto e dele o primeiro. Veio ..lindo, forte, maravilhoso...de novo fui absorvida pelo lado mãe e ele o pai. Hoje, com menos intensidade, tentamos lidar com as diferenças, algumas teclas seguem batendo na mesma dor. 

A jornalista, professora, 4 filhos, 44 anos, vivências, experiências, recebeu no ano passado uma nova chance. Ainda bem quem temos os anjos da guarda, eu acredito muito nisso, uns sem asas, outros nos alimenta espiritualmente, isso também descobri em janeiro desse ano. Descobri onde era o meu lugar, nesse mundão...onde a tal flor escondida no coração de cada um desabrocha. Uns na praça sentados com hippies, outros no culto, outros na missa, outros no mar, outros na terra, outros em si mesmos.

A fonte da juventude chama-se mudança. De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora. A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas. Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.

Mudança, o que vem a ser tal coisa? Minha mãe recentemente pintou a casa, demorou pra deixar os móveis menorzinhos, no cheiro da tinta, parecia que meu pai que já se foi, deixou no ar sua presença, mas o cheiro, esse vai mesmo. E devemos deixar ir. Eu mesma, já tive que vender e doar mais da metade das tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesci.

Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos. Rejuvenesceu. Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Fortaleza, onde ela vai à praia sempre que tem sol. Rejuvenesceu.

Quando fui convidada a falar sobre minha mudança física, penso que esse convite veio, porque sou reinscidente em mudanças, mas a superação, os likes, os incentivos chamaram a atenção da editoria. Pra mim foi o meio disso tudo, é o MEIO. A vida é o que existe entre o nascimento e a morte. O que acontece no meio é o que importa.

No meio, a gente descobre que sexo sem amor também vale a pena, mas é ginástica, não tem transcendência nenhuma. Que tudo o que faz você voltar pra casa de mãos abanando (sem uma emoção, um conhecimento, uma surpresa, uma paz, uma ideia) foi perda de tempo.

Que a primeira metade da vida é muito boa, mas da metade pro fim pode ser ainda melhor, se a gente aprendeu alguma coisa com os tropeços lá do início. Que o pensamento é uma aventura sem igual. Que é preciso abrir a nossa caixa preta de vez em quando, apesar do medo do que vamos encontrar lá dentro. Que maduro é aquele que mata no peito as vertigens e os espantos.

No meio, a gente descobre que sofremos mais com as coisas que imaginamos que estejam acontecendo do que com as que acontecem de fato. Que amar é lapidação, e não destruição. Que certos riscos compensam – o difícil é saber previamente quais. Que subir na vida é algo para se fazer sem pressa.

Que é preciso dar uma colher de chá para o acaso. Que tudo que é muito rápido pode ser bem frustrante. Que Veneza, Bali e Patagônia são lugares excitantes, mas que incrível mesmo é se sentir feliz dentro da própria casa. Que a vontade é quase sempre mais forte que a razão. Quase? Que nada, é sempre mais forte.

No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco e da caixa postal, mas a senha que nos revela a nós mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo).

Que tocar na dor do outro exige delicadeza. Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma contingência. Que não é preciso se estressar tanto em busca do orgasmo, há outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo.

No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo. Então que esse relato te ajude não exatamente a sair do sofá, mas a ser leve, porque de pesado chegam as notícias diárias e o desrespeito, e o pouco caso.

Bom mesmo é se amar pra poder amar todo o resto!

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