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Comportamento

Na cena de um crime, encontramos vida e sentimento sob o entulho da ignorância

Diante de tanta crueldade, uma cena nos chamou atenção

Thailla Torres | 12/07/2017 06:05
No Jardim Seminário, alguém se importou com a vida dos gatos. (Foto: Alcides Neto).
No Jardim Seminário, alguém se importou com a vida dos gatos. (Foto: Alcides Neto).

Na chamada policial, a denúncia: uma pessoa acabava de ser carbonizada em uma rua aparentemente deserta no Jardim Seminário. A cena do crime é um lugar imundo, cheio de lixo, com restos de comida, objetos velhos e outros entulhos. Mas diante da crueldade, uma cena chama atenção. O fotógrafo registra um cantinho feito para animais abandonados daquela área. É a prova de que, apesar de tanto abandono, há pessoas de bom coração em todo lugar.

Sobre o crime, uma testemunha presenciou a ação de dois homens contra a vida do engenheiro agrônomo, Sebastião Mauro Fenerich em um trecho da Rua Missão Salesiana, onde não há casas e nem sinal de outros moradores. O motivo, ainda ninguém sabe.

Recado para poucos que passam pela rua. (Foto: Alcides Neto)
Recado para poucos que passam pela rua. (Foto: Alcides Neto)

A ironia na cena de violência extrema é que alguém, usando isopor, resto de telha e tijolos, havia feito uma casa pequena para proteger animais que sobrevivem por ali, de maneira que ninguém os atrapalhasse. Tem cobertura com pedras para sustentar o 'barraco' e até flores artificiais para colorir o espaço que já pode ser chamado de lixão. 

Escrito a mão em um pedaço de madeira, surge o recado que soa como poesia: ''Cuidado aqui tem vida'', como coisa de quem está cansado de ver tanta ignorância, sofrimento e o risco presente de agressão ou mais despejo de lixo sobre os hóspedes daquele lugar inóspito.

Em Campo Grande é incontável o número de animais domésticos soltos por aí e fica quase impossível não refletir sobre o cantinho dos gatos erguido no meio do nada. Pela manhã, a reportagem voltou ao local, mas nem sinal de gente ou bichos pela rua.

No lugar, além de lixo, o que restou foram as cinzas do carro queimado para não deixar pistas dos assassinos. Mas como quem procura acha, descobrimos que em qualquer estrada pode surgir outro tipo de desova, a de muitas histórias. Além de sofá, televisão, máquina de lavar...uma pilha de papéis também chama atenção.

Entulho também revela história de gente por aí...
Entulho também revela história de gente por aí...
Colorido e intacto, esse é o livro que encontramos no lixo. (Foto: Thailla Torres)
Colorido e intacto, esse é o livro que encontramos no lixo. (Foto: Thailla Torres)

Sem nenhum receio de revirar o lixo, encontramos fotografias, revistas, documentos antigos e um livro. Colorido e intacto, ficou ali uma curiosa declaração de amor, de alegria entre duas mulheres.

Na contracapa, a dedicatória é expressiva  no livro que Marilda recebeu de presente da Marli: "O destino nos tornou irmãs e o coração nos transformou amigas. Com muito amor, carinho, respeito e dedicação", dedica.

Em uma das páginas, a revelação. "Você lembra que lá na casa quadrada, às vezes, usei sua roupa sem permissão e estraguei... Contudo, você continua gostando de mim, mas eu gosto ainda mais de você", declara Marli.

É uma pena não saber mais da história de Marilda e Marli, nem o motivo do livro ter parado no lixo. Também é frustrante não encontrar o arquiteto do improviso, que decidiu proteger os gatos da chuva. 

Mas seja qual for o motivo, as histórias de quem amou de verdade uma amiga ou pensou nos animais daquela região, provam que a partir das coisas simples se pode caminhar para um cenário melhor, transportando a gente para longe do abandono e do mal.

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