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Comportamento

Na linha de frente do coronavírus, medo muda rotina dos profissionais de saúde

Médicos e enfermeiros criam estratégias para aumentar fomas de prevenção

Danielle Errobidarte e Lucia Morel | 19/03/2020 10:10
Raphael veste os equipamentos de proteção, que incluem gorro, óculos, luvas e capote (Fotos: Paulo Francis)
Raphael veste os equipamentos de proteção, que incluem gorro, óculos, luvas e capote (Fotos: Paulo Francis)

“Se a gente pudesse, ficaria em casa também”. A frase é da enfermeira Diane Xavier, 32 anos, que atua na ala privada de urgência e emergência da Santa Casa, o Prontomed. Diante da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), ela afirma que ao chegar em casa após mais um dia de trabalho, a preocupação é igual à de milhares de brasileiros: se higienizar para evitar que familiares sejam infectados.

Diane é uma das responsáveis pela triagem de risco de cada paciente atendido pela emergência do maior hospital do Estado e conta que não visita a mãe idosa, que faz parte do grupo de risco de contágio do coronavírus, há pelo menos uma semana.

Diane, que é enfermeira, não visita a mãe idosa há uma semana
Diane, que é enfermeira, não visita a mãe idosa há uma semana

O medo mudou a rotina e para evitar colocar em risco as pessoas que amam, os profissionais criam estratégias para se prevenir: deixam o sapato no tapete ao entrarem em casa, lavam as roupas separadas dos outros integrantes da família e até “elegem” apenas um calçado para trabalhar.

Os mesmos cuidados são tomados pelo médico pediatra Raphael Bigatão, de 40 anos, que também atua no Prontomed. Todos os dias, ao chegar em casa, ele passa pelo menos 10 minutos se higienizando, para só então cumprimentar a esposa grávida de 9 meses e o filho de dois anos.

Raphael divide os dias de plantão entre a Santa Casa e o Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian). Para qualquer caso suspeito, o traje é de guerra: touca, óculos de proteção, luva, máscara e capote – uma espécie de avental. “O brasileiro tem mania de abraçar e tocar. É difícil, para nós, cumprimentar sem usar as mãos. Já trabalhei no Rio de Janeiro num surto de dengue há 10 anos e na epidemia de H1N1. Nada se compara com o que estamos vivendo agora”, desabafa o médico.

Diane trabalha há 11 anos como enfermeira e há 5 meses na Santa Casa. Para ela, o maior medo dos profissionais de saúde é de não saber, com certeza, como o vírus se manifesta nos seres humanos. “A gente vê que nos países mais afetados, os profissionais de saúde estão se infectando aos montes. Mas é o que escolhemos para vida, fizemos o juramento ao nos formarmos”.

Diane usa máscara durante atendimento.
Diane usa máscara durante atendimento.


E o temor dos profissionais da saúde não é apenas daqueles que atuam em Pronto Socorro. Médica de Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) em Campo Grande que preferiu não se identificar, afirma que todos os dias atende pacientes com suspeita de coronavírus, e que os encaminha para as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) municipais.

“Confesso que tenho picos de medos e de tranquilidade. Os medos são mais referentes à minha gestação e por ter dois bebês em casa. Não se sabe muito bem sobre a transmissão vertical (de mãe para feto) e em crianças!”, sustenta.

Além disso, afirma que atende muitos idosos todos os dias e que isso também a preocupa. “Atendo muitos idosos durante a semana. Eles não estão entendendo os riscos parece”.

O coordenador do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), Ricardo Rapassi, diz que ainda não atendeu nenhum paciente com diagnóstico positivo para Covid-19, e que mesmo tomando todas as precauções, “o medo existe, não dá pra negar”.

Raphael divide os dias de plantão entre a Santa Casa e o Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian).
Raphael divide os dias de plantão entre a Santa Casa e o Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian).


SEGURANÇA

Muitos profissionais que atuam nessa linha de frente, principalmente nas unidades públicas, estão trabalhando sem os equipamentos de proteção individual (EPIs), o que os deixa ainda mais inseguros.

Segundo o presidente do Sinmed (Sindicato dos Médicos), Marcelo Santana, as secretarias estadual e municipal de saúde ainda estão se organizando para adquirir material de proteção suficiente aos profissionais de saúde. “Ainda estão sendo feitas compras para abastecer as unidades. São máscaras N95, álcool em gel, gorros, óculos de proteção e capotes que são necessários”, diz.

Conforme o coordenador do SAMU, “ainda temos um estoque razoável, mas não sabemos a dimensão que essa epidemia pode tomar e não sabemos o que pode acontecer”.

Na UBSF a médica grávida afirma que só atende os pacientes usando máscara, mas que o estoque é baixo. “A máscara cirúrgica temos que trocar a cada três horas e a N95, que protege mais, não é indicado usar por mais de 72 horas. Álcool logo, logo também vai acabar. Não sabemos como será”, lamenta.

Na sala de enfermagem do Prontomed, todas as enfermeiras e técnicas usam máscaras
Na sala de enfermagem do Prontomed, todas as enfermeiras e técnicas usam máscaras

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), “os insumos e materias a mais estão sendo adquiridos. Inclusive, saiu um decreto sobre isso. Caso a prefeitura necessite esses materiais podem ser confiscados”.

A assessoria de imprensa informou ainda que “essa questão do material e insumos é uma preocupação porque houve um aumento de demanda. Porém é preciso lembrar também que esses EPIs são utilizados em casos específicos e não de forma indiscriminada. Não são todos os profissionais que precisam estar aparamentados desta forma”.

Na Santa Casa, seguindo as orientações do próprio hospital e da OMS (Organização Mundial da Saúde), os profissionais da linha de frente utilizam máscaras e roupas hospitalares sobre as que vêm de suas casas. Eles também foram orientados a utilizar álcool em gel nas mãos e, nos corredores do pronto atendimento, foram colocados recipientes a cada 10 metros.

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