Nada de chucro de fazenda, Luizinho Pantaneiro é o “gentleman” boiadeiro
Após anos no campo, ele trocou o chapéu por um boné simples e hoje ganha a vida com um táxi em Miranda
Aos 64 anos, Luizinho Pantaneiro faz questão de descer e abrir a porta do carro para receber um passageiro. Enquanto uns acham que homem criado em fazenda é chucro, bruto e sistemático, ele mostra que a história não é bem assim, pelo menos para ele. Além do cavalheirismo, ele é pontual e gentil. Se gostasse de palavras importadas, o comportamento o transformaria em um “Gentleman do Pantanal”.
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Luizinho Pantaneiro, de 64 anos, trocou a vida de administrador em fazendas pelo volante de um táxi em Miranda, Mato Grosso do Sul. Com 18 anos de experiência em seis propriedades rurais, ele mantém a pontualidade e gentileza herdadas do avô, contrariando o estereótipo do homem do campo. Natural de Corumbá, o pantaneiro iniciou sua carreira aos 14 anos, acumulando 35 anos de profissão. Apesar da mudança para a cidade, Luizinho mantém o chapéu de boiadeiro no painel do carro e afirma que voltaria ao trabalho nas fazendas se surgisse uma oportunidade. Ele lamenta que a figura do peão boiadeiro esteja ameaçada de extinção, com os jovens preferindo a vida urbana.
Depois de 18 anos de trabalho em seis fazendas de Mato Grosso do Sul, ele trocou o chapéu de boiadeiro por um boné simples e hoje ganha a vida com um táxi na cidade de Miranda. Batizado como Luiz Áureo, o motorista faz questão de honrar os ensinamentos herdados do avô, e um deles é a pontualidade, coisa cada vez mais rara.
“É de criação, coisa de berço, isso do horário. Meu pai sempre falava muito sobre isso. Uma vez ele disse para o meu avô que iria almoçar junto, disse que levantaria cedo e iria buscá-lo. Ficou entretido mexendo com as carnes e, quando lembrou, já eram 7h05. Foi atrás dele. O meu avô estava no meio do caminho. O pai pediu para ele entrar no carro e o avô respondeu: ‘6h59 não é 7h e 7h01 não é 7h, vou a pé’ e ele não entrou no carro, foi embora.”

Apesar de ter aposentado o chapéu, ele ainda o coloca no painel do carro quando vai levar alguém para alguma fazenda. Luizinho era encarregado da parte administrativa e começou cedo no ramo, aos 14 anos. Na época, o trabalho nessa idade era normal. A profissão começou na cidade e depois mudou para o campo. A mudança aconteceu há pouco tempo, quando ele se aposentou.
Sem pensar duas vezes, Luiz não vacila quando perguntado se voltaria ao antigo trabalho. Ele responde que, se surgisse uma oportunidade, iria para as fazendas.
“Se aparecer proposta, eu volto. Lá é tranquilidade, é roupa lavada, alimentação. O fazendeiro gosta disso, de gente para fazer a fazenda funcionar. Eles quase não ficam em casa. Vão de 15 em 15 dias, uma vez ao mês. Por causa do WhatsApp, quem cuida é o administrador. Ao todo foram 35 anos de profissão.”
Nascido em Corumbá, o pantaneiro veio para Miranda por causa de uma das filhas que mora na cidade. Enquanto dirige, conta o quanto gostava da vida simples e que a figura do peão boiadeiro está ameaçada de extinção.

“Hoje está acabando o peão que mexe com gado porque os pais largam e eles vão para a cidade. Alguns se formam em veterinária ou enfermagem e voltam para a fazenda. Outros não fazem nada, então os pais ficam aborrecidos e mandam de volta para a fazenda. Mas eles não aprenderam a trabalhar lá. Está ficando difícil isso. O pessoal quer ficar na cidade”, comenta.
Os 18 anos em que trabalhou no mato foram tranquilos, sem precisar administrar casos de picadas de cobras ou ataques de onças. Inclusive, era ele quem liderava qualquer medicação para os funcionários.
“Eu era do escritório, almoxarifado, o faz-tudo, controle de gado, licitação, remédio para a tropa, uma administração geral. Meu pai foi administrador no Pantanal e eu fui trabalhar no escritório na cidade. Como eles precisavam de um escriturário para passar informações para o escritório da cidade, fui. Aposentei e comecei a trabalhar com táxi. O trabalho é muito diferente. Isso aqui é para não ficar incomodado dentro de casa.”
Para ele, o movimento turístico na região de Miranda tem crescido nos últimos tempos, mas ainda é tímido perto de Rio Verde e Bonito. Como na cidade não existe aplicativo de transporte particular, são pessoas como Luizinho que ganham.
Mas, apesar de muitos acharem que alguns atos são meras conquistas de clientes, Luiz faz até o que não está no roteiro. Em um tempo em que tanto se reclama da falta de gentileza, figuras como ele ajudam a manter a esperança.
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