ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  16    CAMPO GRANDE 25º

Comportamento

Não dói! Já pensou em doar a sua voz?

Elverson Cardozo | 07/11/2012 10:00
Maristela Duarte, uma das "ledoras". (Foto: Rodrigo Pazinato)
Maristela Duarte, uma das "ledoras". (Foto: Rodrigo Pazinato)

Já pensou em doar sua voz? O procedimento é completamente indolor. Não tem agulha e você nem precisa estar sedado. É necessário apenas disposição, vontade de ajudar o próximo e, claro, fazer vibrar as cordas vocais. Mas a gente fala tanto durante o dia que uma palavra a mais ou a menos não faz falta.

Há 6 anos, o Ismac (Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos “Florisvaldo Vargas”), localizado em Campo Grande, participa de um projeto da Petrobras que tem como objetivo divulgar a literatura regional e proporcionar o acesso à leitura às pessoas cegas.

Desde 2006, uma equipe de deficientes visuais do Ismac, treinada especialmente para este fim, seleciona as melhores vozes para a gravação de coletâneas regionais que são entregues a organizações voltadas ao atendimento de cegos ou pessoas com baixa visão em todos os estados brasileiros e no exterior.

Diretora presidente do Ismac, Telma Nantes, de 45 anos, afirmou que, no início, a iniciativa, denominada “Livros que Falam”, foi encarada com certo receio pela direção e pelos próprios trabalhadores do Instituto.

Se para quem vê é difícil dominar o funcionamento de um editor de áudio considerado complexo, imagina para quem não enxerga. A responsabilidade de capturar, editar e arquivar as vozes até hoje são deles.

O sucesso bateu à porta. O projeto deu certo e hoje é considerado um dos destaques da instituição. É a prova de que as limitações físicas podem ser superadas. O segredo tem nome: persistência. A superação vem como consequência.

Livros que falam - No pequeno estúdio localizado no piso superior do Ismac, Orlando Araujo Brito, de 54 anos, passa o dia realizando gravações. É um dos coordenadores do projeto que trouxe a ele a oportunidade de trabalhar e de aprender ao mesmo tempo.

A maestria com que executa as funções do editor de áudio é de causar inveja. Do teclado do computador, Orlando aciona o rec, grava, corta, remenda e depois aperta o play para avaliar o resultado.

Do outro lado da sala, o “ledor”, como ele costuma chamar quem participa do projeto, segue as orientações à risca. Tudo tem de ser feito com paciência e muita dedicação. Quem lê precisa assinalar tudo o que está vendo, da capa às ilustrações.

“Não pode ser de mais, nem de menos”, disse, se referindo às descrições das figuras que compõe uma obra, por exemplo.

Uma das “ledoras”, a funcionária pública Maristela Duarte Mendonça, de 51 anos, não se importa em voltar, várias vezes, para corrigir a narração de uma obra. Se pudesse, afirmou, frequentaria o Instituto todos os dias.

“Eu adoro, venho para cá com muito prazer”, comentou, ao dizer que conheceu o projeto por intermédio da irmã, que mora no Rio de Janeiro.

Orlando Araujo é um dos coordenadores do projeto. Passa o dia realizando as gravações. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Orlando Araujo é um dos coordenadores do projeto. Passa o dia realizando as gravações. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Maristela divide o dia entre o Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul, onde trabalha, e o Ismac, onde é voluntária do projeto “Livros que Falam”. Chega a passar quatro horas lendo a mesma obra, mas garante que não fica cansada. “Fico esperando o momento de vir para cá”, disse.

A doação de voz é mais que um projeto. É a prova de que a solidariedade, no final das contas, faz um bem danado, para a alma e para a mente.

O último livro gravado por Maristela foi “1924 – Revolução Paulista e o Estado de Brasilândia”, de Arthur Jorge do Amaral. Conta história da criação de Brasilândia, município que fica a 355 quilômetros de Campo Grande.

“O alvorecer do século 20, com a Proclamação da República, se inicia como um marco para o desenvolvimento nacional, onde o grande país, Brasil, se abre cada vez mais suas portas para todas as nações, a fim de colonizar e habitar o imenso solo pátrio....”, diz trecho do primeiro parágrafo.

Saiba como participar – Para participar do projeto “Livros que Falam” é necessário entrar em contato com o Instituto e agendar um teste de voz com os coordenadores responsáveis pelo estúdio.

Para quem se interessou, Orlando Araújo deixou uma dica: “É preciso ter boa voz, boa dicção e boa interpretação”. Até agora, 4 dos 6 livros da coletânea prevista para 2013 já foram gravados, mas há outras atividades desenvolvidas no estúdio, como a gravação de material didático, por exemplo.

O Ismac fica na rua 25 de dezembro, 262, centro (ao lado da prefeitura de Campo Grande). O telefone é (67) 3325-0997 e o e-mail contato@ismac.com.br.

Nos siga no Google Notícias