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Comportamento

Não importa como o mundo enxerga pai trans, o amor não muda

A paternidade chegou na vida de Theo de surpresa. Ele ainda vivia o processo de transição quando conheceu a mãe de seu filho.

Thailla Torres | 09/08/2020 07:11
Pai segura a mão do filho e ensina que momentos difíceis serão superados com amor. (Foto: Henrique Kawaminami)
Pai segura a mão do filho e ensina que momentos difíceis serão superados com amor. (Foto: Henrique Kawaminami)

O preconceito que teima em machucar até uma criança só fica pequeno quando o auxiliar administrativo Theo Toledo, 25 anos, escuta do filho, 5, a palavra ‘papai’. O menininho de voz doce é quem ensina à família o sentido do amor, sentimento que não muda mesmo que o pai seja transexual.

Theo sempre soube que ser pai nunca foi fácil e que o desafio fica bem mais complicado quando o coração tem motivo extra para apertar toda vez que o filho escuta que ele não é pai de verdade e nem homem. Hoje ele sabe que pai transexual pena diante da rejeição e o preconceito que começa na família e ganha força nas ruas. Mas, ao lado do filho, ele passou a desenhar a resistência com diálogo e descobriu que teria de ser ainda mais guerreiro toda vez que alguém tentasse deslegitimar o amor que mora dentro do peito.

Theo se tornou pai há cinco anos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Theo se tornou pai há cinco anos. (Foto: Henrique Kawaminami)

Na casa de Theo o filho sabe que a “menina que um dia existiu no corpo do pai não existe mais”, explica. O menininho usa o gênero masculino e até corrige a família caso alguém insista em chamar o pai pelo nome feminino que um dia também existiu. “Isso pra mim é a maior prova de que o preconceito só existe porque a gente o fortalece. Uma criança é incapaz de ser preconceituosa se você ensinar com clareza e amor”, explica o pai.

A paternidade chegou na vida de Theo de surpresa. Ele ainda vivia o processo de transição quando conheceu a mãe de seu filho. “Ela estava grávida e nos apaixonamos. Depois fomos morar juntos e, quando ele nasceu eu senti um amor tão grande, que meu coração dizia que as coisas aconteceriam naturalmente, no seu tempo”.

Assim ele assumiu mais que o papel de padrasto, passou a ser pai do menininho sorridente e a ensiná-lo sobre a vida de um jeito leve, mas com a consciência de que seria preciso lutar com um pouco mais de força do que outras pessoas no mundo. “Conforme o crescimento dele, fomos explicando sobre a minha transexualidade. No começo, o que parecia ser difícil de entender para alguns, foi muito fácil para ele. E toda vez que eu escuto a palavra papai, é como uma explosão de amor dentro do peito”, diz Theo.

A sinceridade e a amor genuíno da criança transformam os dias do pai. (Foto: Henrique Kawaminami)
A sinceridade e a amor genuíno da criança transformam os dias do pai. (Foto: Henrique Kawaminami)
Juntos aos fins de semana, eles reforçam que o amor de pai e filho não muda. (Foto: Henrique Kawaminami)
Juntos aos fins de semana, eles reforçam que o amor de pai e filho não muda. (Foto: Henrique Kawaminami)

Mas ser pai transexual mostrou a Theo a verdadeira cara do preconceito e o que mais dói é quando alguém tenta dizer ao filho que ele não é pai e nem homem. “Infelizmente há momentos difíceis, pessoas que não entendem, que insistem em ferir com palavras e dizem que eu não sou homem de verdade. Isso realmente não é fácil. Fora tantas outras coisas absurdas que nós transexuais escutamos”, descreve.

Theo lembra dos comentários preconceituosos dirigidos ao Thammy Miranda, que tomaram a internet nos últimos dias, depois que o famoso fez parte de um comercial da marca de cosméticos Natura. A campanha foi alvo de ofensas nas redes sociais e até pastor chegou a pedir boicote à marca. “Aquilo ali é a realidade de muitos pais transexuais, é o que escutamos diariamente. Mas o que ninguém entende é que independente da transexualidade, nós não nos consideramos um pai melhor que o outros pais, nós apenas nos consideramos pais, pais que amam, pais que são presentes, pais que querem ensinar seus filhos e mostrar um mundo de amor”.

Inclusive, para Theo, só o amor e a educação serão capazes de mudar o pensamento do mundo. “É tudo uma questão de tempo e educação. Mas a gente tem que querer. Isso não pode ser uma luta só dos transexuais. Tem que ser uma luta de todos. Assim como a luta contra qualquer outro preconceito tem que ser abraçada por todos. Não dá pra viver num mundo pequeno onde somos privados de amar os nossos próprios filhos”, pontua.

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Neste Dia dos Pais o maior presente de Theo é o direito de ser pai. (Foto: Henrique Kawaminami)
Neste Dia dos Pais o maior presente de Theo é o direito de ser pai. (Foto: Henrique Kawaminami)


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