ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, SEXTA  29    CAMPO GRANDE 28º

Comportamento

No calor, só o chapéu acompanha o pedreiro

Ângela Kempfer | 16/11/2012 12:11
José Lourenço em dia normal de trabalho, apesar do feriado de ontem. (Foto: Rodrigo Pazinato)
José Lourenço em dia normal de trabalho, apesar do feriado de ontem. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Sexta-feira pós feriado e enquanto todo servidor público e a maioria dos estudantes descansa em casa, o chapéu enorme, de palha gasta, acompanha o pedreiro na demolição de uma calçada na rua Amazonas.

O esforço contínuo da quebradeira segue mesmo com o sol pleno, no raiar das 11 horas. Não há filtro solar, não há sombra, nem uma água gelada na garrafa. Só o chapéu, companheiro que comprou lá pelos lados de Camapuã.

É assim na vida de quem é “qualquer um”, de um trabalhador que quase ninguém vê, em um dia de rua pouco movimentada.

José Lourenço não liga, quer mesmo é ganhar os 15 reais por metro refeito de calçada. Tem de formar o salário do mês e assim vai, de segunda a sexta, mas também em feriados e finais de semana quando o serviço aparecer.

“Muitas vezes, sábado é dia de arrumar a bagunça, depois da obra terminada. Tem de deixar tudo limpinho. Não é certo deixar sujeira”, explica.

Para construir a casa dele mesmo,no Jardim Presidente, em Campo Grande, a paciência teve de resistir por 6 anos. “Quando é nossa, a gente faz aos poucos, por causa do dinheiro e também porque só sobra o fim de semana para trabalhar”, justifica.

A conversa vai então para a família. O pedreiro, que aceita ser auxiliar, mestre de obras e o que surgir, tem filhos “encaminhados”. Um é serralheiro e outro carpinteiro, mas nenhum “estudado”, um pena, diz o pai.

“Até no meu serviço a gente sente falta da instrução. Trabalha muito com a Matemática, fica mais difícil”. Pai e filho só estudaram até o 4º ano do Ensino Fundamental. “Até tentei fazer continuar, mas tem hora que a autoridade acaba”, argumenta o pedreiro.

Para não atrapalhar mais o andamento da obra, terminamos com o bate-papo iniciado por conta de um enorme chapéu . “Tem de ficar pronta logo, porque é a entrada de uma escola”, concorda José Lourenço.

Nos siga no Google Notícias