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Comportamento

No Centro, prédio que abrigou famílias tradicionais hoje é condomínio de viúvas

Elverson Cardozo | 31/01/2014 07:00
Edifício São Miguel, na esquina das Ruas 14 de Julho e Antônio Maria Coelho. (Foto: Marcos Ermínio)
Edifício São Miguel, na esquina das Ruas 14 de Julho e Antônio Maria Coelho. (Foto: Marcos Ermínio)

A esquina das ruas Antônio Maria Coelho e 14 de Julho, no Centro, guarda um pedaço da história de Campo Grande. O relato vem de cima, do edifico São Miguel, um dos mais antigos da cidade. O local que, no passado, abrigou famílias tradicionais, hoje é, nas palavras dos próprios moradores, o “refúgio das viúvas”.

São pelo menos oito espalhadas em três andares, segundo a conta rápida de dona Délia Nunes, de 65 anos. Ela perdeu o marido, há 20 anos, mas continua no prédio, junto com as amigas, que também cultivam essa solidão. “Somos uma família. Ainda nos chamamos de comadre”, contou, ao comentar que vive tranquila, junto com Luqui, um poodle de estimação que está na casa há 14 anos.

Memórias - A idosa tem saudade do passado, confessa, mas só do companheiro, Porfírio Nelson Paulo Correa, fundador da "A Primorosa", loja de instrumentos musicais. Apesar disso, Délia lembra-se bem das décadas anteriores, quando ainda era possível assistir o desfile de Carnaval, na 14 de julho, da sacada do apartamento.

Recorda-se, também, da 1º loja da Riachuelo da cidade, inaugurada no salão embaixo do edifício, e da camisaria que substituiu a empresa até a chegada da empresa de colchões.

Délia na sacada do apartamento. Viúva viu a cidade crescer. (Foto: Marcos Ermínio)
Délia na sacada do apartamento. Viúva viu a cidade crescer. (Foto: Marcos Ermínio)
Hoje ela divide a casa com Luqui, o poodle de estimação. (Foto: Marcos Ermínio)
Hoje ela divide a casa com Luqui, o poodle de estimação. (Foto: Marcos Ermínio)

Olhando para a outra janela, que dá para a Rua Antônio Maria Coelho, a senhora consegue relembrar da vila de casas que existia onde funciona, hoje, um estacionamento; do Hotel Tupi e de um bar de mesmo nome que, aliás, ainda está em pé. Apesar das mudanças, a visão é fiel porque o edifício onde há 32 anos nunca passou por alterações em sua estrutura.

Até a cor é a mesma. Só que o amarelo pintado nos anos 70 agora parece um bege encardido. Síndico há 7 anos, o advogado Silvio Cantero, de 57 anos, explica que a revitalização ainda não aconteceu porque o tombamento histórico, concedido há pouco tempo, inviabilizou esse processo, mas a ideia é reformar, deixar tudo bonito, como era antes, na época em que o edifício abrigava um hotel, o Presidente, afirmou.

Ele chegou ali aos 15 anos e, como garoto, pode acompanhar a evolução da cidade, do alto de um dos seus primeiros prédios. Viu “nascer” as novas construções, notou a modificação do comércio e até o comportamento das pessoas. “Os vizinhos eram mais próximos”.

Silvio é síndico há 7 anos, mas mora no prédio desde os 15. (Foto: Marcos Ermínio)
Silvio é síndico há 7 anos, mas mora no prédio desde os 15. (Foto: Marcos Ermínio)

Do lado de fora, os olhos de adolescente captaram o que hoje está apenas na memória: as lojas dos libaneses, que tomava conta do quarteirão, os carros sendo lavados na calçada, o Cine Rialto e até do ponto de carroça que funcionava em frente ao prédio, na Antônio Maria Coelho.

O edifício São Miguel é um espaço de boas lembranças, tanto é que, depois de adulto, formado, Silvio montou seu escritório no terceiro andar. Vive com a mãe em um apartamento ao lado e não pretende mudar. “Já se ofereceram para comprar, mas não aceitamos. É um privilégio sair, abrir a porta e ver que você está no Centro”, disse.

O advogado Klaus Soler, de 35 anos, outro vizinho de prédio, destaca a mesma coisa: “O ponto é bom porque está perto de tudo”. Ele vive com a esposa e com a mãe, Evney Costa Soler, de 64 anos, mais uma viúva do São Miguel. “Moro aqui há quase 50 anos. Casei aqui nesse prédio”, disse a mulher.

Sacada oferece visão privilegiada da cidade. (Foto: Marcos Ermínio)
Sacada oferece visão privilegiada da cidade. (Foto: Marcos Ermínio)
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