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Comportamento

No mundo de impossibilidades, professores são o caminho para humanizar

Professor de História há 11 anos, Fábio conta como tem sido ser educador em 2018

Thailla Torres | 15/10/2018 07:39
Fábio é professor há 11 anos e na sua vida o maior prazer é ensinar. (Foto: Arquivo Pessoal)
Fábio é professor há 11 anos e na sua vida o maior prazer é ensinar. (Foto: Arquivo Pessoal)

Graduado em História, Fábio Mantovaneli, de 31 anos, é daqueles professores que a gente não esquece, leva da sala de aula para a vida. Não só pela bagagem teórica, mas pelos ensinamentos sobre o mundo, o outro e a importância que o olhar mais sensível tem na vida. Por isso, neste Dia do Professor, Fábio descreve no Voz da Experiência a arte de educar e o desafio da humanização como poder transformador dentro da escola.

Com alunos de escola estadual durante disciplina eletiva. (Foto: Arquivo Pessoal)
Com alunos de escola estadual durante disciplina eletiva. (Foto: Arquivo Pessoal)

Eu saí de Araçatuba (SP) com 17 anos porque passei no vestibular de história da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Cheguei para estudar o que eu gostava, curtia muito humanidades e tive professores que foram fundamentais nessa escolha, no Ensino Fundamental e Médio.

Confesso que eu não imaginava que iria dar aula. Mas eu tinha uma amiga que falava “vai dar aula, você se comunica muito bem”, mas eu não pensava nisso. Trabalhava numa livraria quando no segundo ano de faculdade surgiu a oportunidade de dar aula como professor substituto em uma escola de Campo Grande.

A primeira vez que entrei em sala de aula foi muito maluca e interessante. Fui substituir um professor de Língua Portuguesa que deixou os exercícios prontos, e a sala era do sétimo ano, a galera era bagunceira, mas todo mundo parou para me ouvir. Até hoje falo que esse primeiro contato com a sala de aula é igual beijo na boca, você não sabe direito o que você faz, mas quando acaba você quer contar para todo mundo e deseja de novo.

Continuei dando aula como substituto, em escolares particulares, e fui tomando gosto pela sala. Eu falava para os alunos que aquilo era importante, não porque simplesmente tinham que estar em sala, mas porque eles tinham uma coisa para aprender que podia melhorar a vida.

A História é uma disciplina muito bacana porque você tem várias maneiras de fazer a aula de História. No cursinho você pode ser mais acelerado, com a meninada você pode pirar com as personalidades históricas e com a turma mais velha você pode pensar no tempo, mas sempre respeitando o aluno e o que ele gosta.

Fábio também já virou meme entre os alunos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Fábio também já virou meme entre os alunos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na minha visão, o ruim da escola é quando você não consegue enxergar o que é possível extrair dela. Então quando você mostra para o aluno que ele pode se aperfeiçoar no que ele quer no que é o desejo dele, isso é muito interessante. Acredito que é na escola que gente vai fazer o Brasil democrático que queremos, onde as pessoas se respeitem e possamos discutir questões que ainda são tabus.

Com tempo, eu descobri que é impossível fazer isso de maneira generalizada. Mas pelo menos posso mostrar para o outro que ela pode ser respeitada mesmo não querendo estar na escola e assim traçar relações mais humanizadas, tentar mostrar outras maneiras de ver a vida. Porque às vezes as pessoas só são agressivas porque aquilo é uma resposta do que a vida fez com elas.

Então acredito que o papel do professor é humanizar, achar meios de transformar as pessoas sejam na História, na Matemática, na Física e acreditar que um dia a gente consegue um país onde as pessoas não precisem se ameaçar para que haja ordem, que simplesmente as pessoas se respeitem.

De uma maneira generalizada, Freud falou que três coisas são impossíveis para a humanidade: educar, governar e analisar, então nessa impossibilidade humanizar é a melhor coisa em sala de aula.

Como tem sido ser professor em 2018? É ter a tarefa de falar sobre o povo, de um movimento social. Se você olhar para o cangaço do ponto de vista da elite, você acha que é um movimento ruim contra a democracia do país, mas se você olha pelo viés de quem foi ajudado pelo cangaço, foi um movimento social muito bom. Então acho que a função do professor de História é dizer que existem possibilidades para se olhar, olhe as coisas de diversas formas e depois você tire suas conclusões. Não só em 2018, mas para sempre.

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