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Comportamento

Nos relacionamentos, lésbicas reproduzem o machismo e partem para violência

Muito mais comum do que se imagina, as violências verbal, física e psicológica podem ser ainda piores em um relacionamento entre mulheres

Thaís Pimenta | 21/03/2018 08:17
Cena da série The L World, que fala sobre o universo lésbico.
Cena da série The L World, que fala sobre o universo lésbico.

"Eu tive um relacionamento abusivo em que a situação de agressão entre eu e minha parceira se tornou bem difícil. Por falta de informação na época, não conseguia enxergar que, na verdade, nos agredíamos porque estávamos reproduzindo o que a sociedade patriarcal e machista nos fala", relata Gabriela*, uma menina lésbica de Campo Grande.

Ela conta que antes de conhecer sua primeira parceira, se relacionava com homens, e na "questão da força física" tinha medo. "Então, quando eu brigava com ele, nunca revidava. Mas a partir do momento que comecei a me relacionar com mulheres era muito mais fácil partir pra isso, pra violência física, tanto eu quanto ela. Já nos batemos várias vezes e entramos num ciclo de agressão verbal, psicológica e física", diz.

Por mais que o relato pareça único, não é um caso isolado. Mulheres bissexuais e homossexuais representam respectivamente 1,3% e 1,1% do percentual das que procuram a Casa da Mulher Brasileira de Campo Grande, desde o mês de março do ano de 2016.

Frases como "e você vai sair com essa roupa de vagabunda mesmo?", ou ameaças abusivas do tipo "me passa a senha do seu celular", tão comumente ditas por homens às suas parceiras, chegam também aos ouvidos de mulheres que estão num relacionamento homossexual, por vezes de forma muito mais naturalizada pelas envolvidas.

Muitas não sabem que a lei Maria da Penha também pode ampará-las no caso de violência doméstica. A juíza da 3ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, Jacqueline Machado lembra que muitas denúncias não são feitas por desconhecimento das lésbicas. "Apesar de ser muito baixa a porcentagem de casos em que o agressor não é do gênero masculino, que representam aqui mais de 90% das denúncias, eles acontecem sim, e não podem ser ignorados", reforça.

Jacqueline Machado é a juíza da Casa da Mulher Brasileira. (Foto: Thaís Pimenta)
Jacqueline Machado é a juíza da Casa da Mulher Brasileira. (Foto: Thaís Pimenta)

Para ela, independente da orientação sexual da mulher, o melhor caminho para quebrar o ciclo de violência são campanhas educativas. "Nós estamos em um país que reproduz um machismo. Uma lei só, por melhor que ela seja, ela não previne não modifica a cultura, que é justamente o que precisamos".

Como envolve duas mulheres, a investigação com base na Lei Maria da Penha começa a partir da primeira que procura apoio dizendo ser a vítima da relação, que pode, inclusive, garantir na Justiça medidas protetivas.

A psicóloga especialista em violência doméstica, Tatiana Samper, avalia que a agressão acontece porque existe um padrão de relacionamento de dominação. "Nesses casos abusivos sempre vai existir aquela que quer dominar a relação. E é ela quem parte primeiro pra violência física", diz.

O ciclo da violência é mesmo para todas as relações. "Existe o momento de tensão, e de explosão, quando se parte para a briga. Depois a dominadora volta a entrar em contato com a parceira, e ambas passam a retomar a história do casal, lembrar de suas afinidades, seus momentos de felicidade, e aí vem, infelizmente, a conciliação, para começar tudo de novo".

Isso volta a acontecer repetidas vezes, até que uma das envolvidas toma noção de onde está e, com muita coragem, opta por sair daquele ciclo. "É aí que entra a legislação. Se a parceira for violenta é, por vezes, necessário a medida protetiva", finaliza. 

Na rotina de casos do tipo, a juíza Jacqueline lembra: "Quem agride uma vez, agride a segunda, a terceira, e mata!"

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*Gabriela é nome fictício de uma entrevistada que não quis se identificar.

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